sexta-feira, março 04, 2016

PALCOS: «Amok» na Ópera de Reims (3)

Alma Mahler conheceu Oskar Kokoschka em 12 de abril de 1912 durante um jantar organizado por Carl Moll.
Ela já ouvira falar desse jovem lobo da arte local, mas quem melhor descreveu o encontro entre ambos foi o fotógrafo Brassai, que ouviu o testemunho de Oskar entre 1930 e 1931.

O pintor disse-lhe mais ou menos isto: “Era tão bela e sedutora sob o seu véu de viúva! Encantou-me de imediato! E ela também não pareceu ficar indiferente à minha pessoa! Por isso, logo após o jantar, tomou-me o braço e conduziu-me à sala ao lado, onde interpretou o ‘Liebestodt’ em minha intenção”. 
Ora, “Liebestodt” significa a “morte do amor” e fora o título escolhido por Richard Wagner para o lindíssimo Prelúdio de «Tristão e Isolda», convertendo-se no nome atribuído a todas as peças musicais cujo tema fosse a morte de amantes por assassinato, desespero ou suicídio.
Kokoschka não resistiu a uma tal declaração amorosa. Ele, que considerava o amor como uma guerra, misturando a pulsão da vida e da morte, nada de mais inebriante poderia ter do que o “Liebestodt”. Na sua autobiografia reconheceria: “Estava fascinado por ela. Perturbava-me. Ficámos inseparáveis depois dessa noite.”.
Alma consegue, assim, um fervoroso amante em conformidade com o que sempre alimentara em sonhos. Mas recusa comprometer-se, por o considerar violento, ciumento, possessivo e obsessivo.
Sem o assentimento dela Oskar rouba-lhe os documentos para publicar um anúncio de casamento e passa a andar sempre vestido com o pijama que lhe surripiara.
Algo assustada com tais bizarrias, Alma distancia-se tanto mais que a mãe de Oskar faz-lhe esperas à porta para, sob a ameaça do revolver, para a impedir de voltar a ver o filho.
Opondo-se à visão caótica dele sobre o amor, Alma porta-se como musa, exigindo ao amante uma obra-prima, que o torne merecedor de a desposar.
Desafiado, o pintor adquire um ritmo frenético, muito embora ela se torne cada vez mais naquela com quem ele não consegue viver nem criar. Quere-a só para ele, como uma virgem, pintando-a soba forma de Madonna, de mãe imaculada, ou seja tudo aquilo que ela execrara em Mahler. Por isso Alma torna-se ainda mais boémia, convivendo com os seus numerosos pretendentes.

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