sábado, julho 28, 2012

«Envelhecer ao Sol», documentário de Kamil Taylan (2009)


São muitos os alemães, que apostaram viver os seus anos crepusculares em Alanya, uma cidade balnear turca situada nas margens do Mediterrâneo. Mas o documentário de Kamil Taylan mostra que o paraíso na Terra está longe de ser eterno.
Esse movimento migratório ocorreu, sobretudo, há cerca de vinte anos, quando um fluxo importante de reformados descobriram a possibilidade de, com o valor das suas pensões, usufruírem de condições de vida muito privilegiadas numa terra de clima ameno e de preços baixos. O projeto não podia parecer mais sedutor…
Mas, hoje, estes emigrantes de tipo novo envelheceram e muitos estão doentes. Ora, num país aonde as estruturas de acolhimento à terceira idade são quase inexistentes, muitos deles sentem-se profundamente sós e desintegrados. A situação revela-se tanto mais complicada quanto a maioria jamais se dignou a aprender a língua local nem em interessar-se pela cultura dos vizinhos.
O realizador, ele próprio nascido em Alanya, embora resida atualmente em Francfort, foi à procura desses reformados e encontrou um conjunto de personalidades muito diferentes, embora coincidentes nas inquietações.
No cemitério encontrou a forma derradeira da suprema solidão: covas anónimas desses reformados, que exalaram o último suspiro sem que ninguém - familiares ou amigos - lhes viessem dar a atenção de os identificar na morgue.
Para o evitar Edmund Kusch revelou-se prudente: já viúvo, comprou e mandou colocar uma  lápide na cova ao lado da da esposa, já com a designação do seu nome e o da data de nascimento, faltando pois, apenas, acrescentar-lhe a da morte. E, regularmente, ali vai ele encarregar-se da manutenção e limpeza das duas campas…
Mas houve também quem encontrasse forma de ocupar o tempo disponível em atividades voluntárias: Martina, por exemplo, recolhe, trata, esteriliza e mantém num canil particular, os cães abandonados nas ruas da cidade. Evitando-lhes o triste destino conferido a tais animais nos países muçulmanos, aonde é frequente apedrejá-los por serem, segundo o Corão, «impuros».
No caso de um casal, ele ocupa-se em prosseguir a atividade de construtor civil respondendo à moda turca de encomendar garagens para os seus carros, e ela liderando uma organização filantrópica - a Bombola - que recolhe donativos para fazer chegar cadeiras de rodas a crianças deficientes.
Há também as solitárias já maduras, que se tornam vítimas fáceis da versão local dos «Zézés Camarinhas», iludindo-se com a possibilidade de viverem fulminantes paixões, mesmo que tardias.
Mas esta realidade está a mudar drasticamente: o custo de vida deixou de ser apelativo para os novos reformados, que veem os preços locais a rivalizarem com os da sua terra de origem. E as consequências são devastadoras para a indústria imobiliária local: milhares de apartamentos, construídos à pressa para corresponderem a tal procura, sem interessados para os adquirirem.
Alanya vai regressando, assim, à secundariedade provinciana, que era a sua...