terça-feira, março 22, 2016

DIÁRIO DAS IMAGENS EM MOVIMENTO: A espantosa sagacidade de Paula Rego

Num recente episódio da «Visita Guiada» de Paula Moura Pinheiro, esta entrevistou José Manuel dos Santos dada a sua condição de ter sido um dos responsáveis pela encomenda de quadros a Paula Rego e destinados à capela existente no Palácio de Belém.
Na época essas obras revestiram-se de grande polémica com muitas vozes conservadoras a contestarem a forma como a artista representara momentos bíblicos tão icónicos como a Anunciação ou a Descida de Cristo da Cruz.
No primeiro caso a surpresa era ver a Virgem a ser alertada para a sua gravidez por um anjo nada semelhante à imagem canónica dos quadros dedicados ao mesmo tema.
Quando José Manuel Santos questionou a artista sobre o facto de ter dado a tal anjo o aspeto de uma mulher de avançada idade ela respondeu com toda a lógica ser inverosímil a possibilidade de a Virgem acreditar em tal notícia se transmitida por um anjo garboso e jovem. Só mediante os traços de alguém mais convincente ela poderia crer nessa insólita gravidez, ainda por cima de autoria divina.
No outro quadro, que mereceu a Santos o pedido de explicação à artista -  porque tinha o Cristo crucificado o aspeto de um adolescente? -, a artista revelou, igualmente, um discernimento inquestionável: “uma mãe que perde um filho, vê-o sempre como o seu menino!”.
Duas explicações notáveis, que revelam bem a simplicidade, mas também a lucidez de uma artista que, às vezes, nos confunde com a forma como consegue explicar os seus quadros.

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