quarta-feira, fevereiro 24, 2010

»Transamérica» de Duncan Tucker (2005)

As críticas foram excelentes, quando «Transamerica» se estreou nos cinemas nacionais. Mas o tema não era, à partida, muito aliciante: os problemas de relacionamento de um pai com um filho ainda adolescente ao conhecerem-se em vésperas de mudança de sexo daquele.
À partida aparentaria um daqueles temas típicos de John Waters em que o grotesco constitui a via mais fácil para surpreender um público ávido de algo de novo.
Mas, cinco anos depois, confesso aqui o meu engano: «Transamérica» é um filme extremamente interessante em que a questão da identidade e da auto-estima estão em permanente equação. Mal amadas por natureza, as personagens do filme procuram, cada uma à sua maneira, a via mais expedita, senão para a felicidade, pelo menos para uma forma aceitável de integração. E Felicity Huffman tem o papel da sua vida nesse equilíbrio precário entre a personagem de homem, que já não é, e o da mulher que pretende vir a ser.
E, na sua ambiguidade, não se pode dizer que o filme acabe num final feliz: há sim uma forma de equilíbrio em que Bree ainda se assume em construção para a professora, que deseja vir a ser, e Toby luta por vencer no peculiar mundo da pornografia gay.

segunda-feira, fevereiro 22, 2010

Wallander, o guerreiro solitário

O péssimo costume que os franceses têm de dobrar muitos dos filmes, que passam nos seus canais televisivos levam-me a evitá-los quase sempre, perdendo assim alguns títulos, que mereceriam uma atenta descoberta ou uma saborosa revisão. Mas, lá de longe em longe, faço uma ou outra excepção. Como sucedeu agora com os episódios dedicados ao inspector Wallander, criação do sueco Henning Mankell, cuja transmissão se iniciou na ARTE na passada sexta-feira.
É claro que preferiria ver Kenneth Branagh na sua voz própria em inglês, mas face às circunstâncias, forçoso me foi vê-lo na sua versão dobrada em francês.
É que as histórias de Mankell justificam bem a violação de um princípio quase axiomáticoporquanto os seus personagens  são muito mais do que meros estereótipos destinados a corporizar um juízo moral ou ideológico. Têm carne e sentimentos, mesmo que muitas dessas emoções surjam recalcadas. Como as que dizem respeito ao relacionamento de Kurt Wallander com o pai pintor por quem sempre se sentiu depreciado na sua opção profissional e por quem acaba por sentir uma enorme empatia face à angústia em que o vê mergulhado perante a consciência de uma incontornável doença de Alzheimer. Ou também como as virtudes públicas de alguns figurões escondem vícios privados bastante recriminatórios. E o que aqui está em causa é a vingança de um rapaz, que viu a irmã ser uma das escravas sexuais de um punhado de pedófilos acima de qualquer suspeita.
Embora não substitua o prazer da leitura dos romances do escritor, os episódios da série com Kenneth Branagh servem de sólida introdução a uma obra literária merecedora de um maior reconhecimento...

domingo, fevereiro 21, 2010

«A CIDADE PERDIDA DE Z» (7) de David Grann

O livro aproxima-se do seu final. Já nem cem páginas faltam para as dezenas de páginas de referências bibliográficas utilizadas pelo autor para sustentar a seriedade do seu trabalho.
Percy Fawcett já desapareceu na selva com Jack e Raleigh e oitenta anos, entretanto, decorreram.
Agora, acompanhado de um guia brasileiro, de um motorista e de um índio assimilado, David Grann retoma o percurso dos exploradores desaparecidos. Percorrendo em apenas dois dias, ainda que por estradas em péssimo estado, a distância cumprida por aqueles em cerca de um mês. Razão trágica explica tal disparidade: a floresta amazónica está a ser alvo de uma acelerada predação humana liderada por latifundiários sem escrúpulos, capaz de chacinar índios e vida selvagem de forma a libertar amplos territórios para as suas plantações de soja...

Filme: «O GRANDE BAZAR» (2006) de Licínio de Azevedo

Grata surpresa a desta média metragem de pouco menos de uma hora, realizada por um brasileiro há muito radicado em Moçambique.
O universo não difere muito do descrito por Mia Couto existindo miúdos bastante desembaraçados quanto à capacidade de superarem todos os desafios colocados diariamente à sua sobrevivência, a par de uma ingenuidade colectiva já tão distanciada da sofisticada e cinzenta realidade dos ambientes do Primeiro Mundo.
Se há à sua volta os gangues de jovens delinquentes (os ninjas), a quem faltam escrúpulos, Paíto ostenta uma sólida vertente ética, decidindo só regressar a casa quando conseguir a farinha pedida pela mãe para cozinhar as farturas por ele comercializadas, depois de se ver espoliado do dinheiro por ela confiado para tal objectivo.
Durante dias, Paíto e o seu amigo, Xano, vagueiam pelos mercados de Maputo, ocupados nos seus pequenos negócios e roubos, no que constitui uma experiência iniciática na evolução para um estado de maior maturidade.
Depois Licínio de Azevedo cria imagens irónicas muito eficazes: o muro aonde se proíbem as necessidades e para aonde urinam filas de homens e crianças; a sapataria de um vendedor de pares desirmanados e por isso chamado Kadapé; o «salão de beleza» do próprio Paíto chamado «O Fruto do Meu Suor».
Pelo meio o realizador não deixa de deixar bem demonstrada a forma como tão desigual é a distribuição da riqueza na sociedade moçambicana.
Bem realizado e com actores capazes de darem credibilidade à história, «O Grande Bazar» acaba por demonstrar o enorme potencial de uma cinematografia colada a uma realidade multifacetada...

quinta-feira, fevereiro 18, 2010

A Rapariga queimada com napalm

Caso singular o da evolução da rapariguinha vietnamita imortalizada pela fotografia do seu compatriota Nick Ut em 8 de Junho de 1972, quando a sua aldeia foi bombardeada com napalm.
Doravante ilustrativa do que de mais cruel e absurdo tinha a guerra do Vietname, essa fotografia terá contribuído para virar em definitivo o curso da guerra com a opinião pública norte-americana e europeia a condenar a estratégia de Nixon e de Kissinger.
Kim Phuc tinha, então, nove anos e o seu corpo nu estava queimado a sessenta por cento. O irmão, que corria ligeiramente à frente, ostentava a mesma expressão de horror do célebre Grito de Munch.
O documentário do alemão Marc Wiese, datado de 2009, vai encontrá-la no Canadá aonde se refugiou com o marido em 1994, depois de se cansar do seu papel de ícone propagandístico do regime do seu país. E é aí, que toda esta história macabra se torna ambígua, porque o fotógrafo, hoje a residir em Los Angeles, demonstra não ter captado aquela imagem por um sentido crítico particularmente motivado a nível ideológico, mas por mero oportunismo de voyeur, o mesmo com que hoje continua a fundamentar as suas fotografias com Paris Hilton e outras personagens de tal calibre. Depois, porque Kim Phuc poderia ter conservado em si alguma revolta contra os métodos imperialistas, que ainda hoje lhe suscitam dores intensas só aliviadas pelas massagens atenciosas do companheiro. Mas, pelo contrário, apesar de ter sido apaparicada no Vietname, em Cuba ou em Moscovo, ela conservou em si a mentalidade da pequena-burguesia a que a sua família pertencia e cuja matriz de pensamento não se adequaria a um regime capaz de tudo nacionalizar, até o pequeno restaurante dos pais.
Nesse sentido fica a questão de, à distância, se ajuizar se um documento inicialmente tão significativo no contributo para suscitar alterações de dimensão histórica, mantém toda essa capacidade quando os acontecimentos de então já parecem tão distantes e os intervenientes desse instante tão dissociados se parecem das vítimas inocentes de então.
No fundo, quase apetece sugerir que Marc Wiese bem poderia ter deixado Nick Ut e Kim Phuc descansados no quase anonimato em que vivem. Aquilo que representam nesse mítico fotograma só se cinge ao que nele aparece representado...

terça-feira, fevereiro 16, 2010

Filme: «VALQUÍRIA» de Bryan Singer

Já o exército alemão está a levar violenta tareia nos desertos africanos, quando o coronel Stauffenberg (Tom Cruise) espalha à sua volta a ideia em como o pior inimigo da Alemanha é o próprio Hitler e algo deverá ser feito para promover a mudança. E esse sentimento é partilhado por outros oficiais da Werhmacht como Tresckow (Kenneth Branagh), que falha por muito pouco um atentado através de uma bomba escondida numa garrafa de licor.
Já recuperado de um bombardeamento, que o deixa cego e sem alguns dedos da mão, Stauffenberg é convidado em Berlim para se associar a quem prepara o futuro do país, quando sobram convicções quanto à iminente chegada da invasão aliada.
Em Junho de 1944 já Stauffenberg tem acesso directo ao círculo mais próximo de Hitler na sua condição de oficial superior do Exército de Reserva. E é nessa condição, que perspectiva um golpe de estado capaz de aliar a eliminação física do furher à utilização fraudulenta de uma das suas forças militares mais fiéis fazendo-lhe crer da autoria das SS na conspiração.
A audácia de Stauffenberg é quase suicida, mas a primeira tentativa falha ao constatar a ausência de Himmler da Toca do Lobo, aonde a carga explosiva por si transportada numa mala, deveria ser deflagrada.
Cinco dias depois, a 20 de Julho de 1944, ele não hesita em levar por diante o plano, mas não pode prever duas razões para o fracasso: não só Hitler sobrevive à explosão graças ao providencial desvio da mala da posição em que Stauffenberg a deixara, como o general Olbricht leva demasiado tempo a tomar a decisão de dar a ordem para as tropas avançarem contra as SS.
Ainda assim durante umas horas, os conspiradores parecem tomar conta dos acontecimentos. Até tudo se inflectir a partir das contra-ordens dadas a partir da Toca do Lobo.
E os conspiradores serão condenados ao fuzilamento ou à forca. Se não se suicidaram entretanto…
Bem dirigido, «Valquíria» adorna os acontecimentos históricos de 1944 de forma a potenciar o seu lado dramático de acordo com os cânones de Hollywood: mesmo acabando mal, tudo estivera organizado de modo a quase dar certo. Embora Hitler não viesse a sobreviver mais do que nove meses aos seus esmagados inimigos internos.

sábado, fevereiro 13, 2010

Livro: «A Cidade Perdida de Z» de David Grann (6)

Quando parte para a sua última expedição, Percy Fawcett já tem 58 anos. Acompanham-no o filho, Jack, e um amigo deste, Raleigh, dois jovens entusiasmados com a aura de grandeza que a prevista descoberta de Z lhes garantiria e com uma energia, que compensaria a debilidade progressiva do lendário explorador.
Mas os anos mais recentes de Fawcett não tinham sido fáceis, sobretudo os subsequentes aos da sua participação na Primeira Guerra Mundial. As suas expedições tinham cada vez menos meios e acabaram invariavelmente em fracassos, que alimentavam os argumentos dos seus detractores na Royal Geographical Society. Que não deixavam de ver na sua aproximação aos espíritas a comprovação de um estado obsessivo a roçar a loucura.
E a própria família ia padecendo do desconforto material dessa focalização em tão improvável objectivo. Nina e os filhos iam mudando da Jamaica para Los Angeles e daí novamente para Inglaterra antes de se irem fixar na ilha da Madeira.
Vale a Fawcett um jornalista de reputação ambígua, mas que soube explorar convenientemente o interesse dos norte-americanos pelas cidades perdidas da Amazónia na sequência da descoberta de Machu Picchu por Hiram Bingham em 1911.
Um El Dorado escondido na Amazónia constituía uma possibilidade a que os potenciais investidores não enjeitavam dar apoio sob a promessa das muitas crónicas jornalísticas por essa nova expedição.
Estava iminente a criação da lenda de Fawcett: mais do que as suas proezas anteriores, será o seu intrigante desaparecimento na selva, que concitará a curiosidade dos seus contemporâneos. E o sucesso de livros como o de David Grann, que se propôs, enquanto projecto, encontrar explicações para o sucedido.

domingo, fevereiro 07, 2010

Leituras: «A Cidade Perdida de Z» (5)

A Primeira Guerra Mundial irá alterar completamente as premissas, que envolviam a exploração da Amazónia e da busca da mítica cidade de Z por parte de Percy Fawcett.
Em primeiro lugar, porque ele regressa apressadamente a Inglaterra para se oferecer como voluntário para comandar tropas nas trincheiras da Flandres. E aí, gaseado, ficará tão perturbado por toda aquela carnificina, aonde sucumbem tantos milhões de homens em cenário apocalíptico, que a excentricidade do seu comportamento se torna mais notória. A adesão ao espiritismo, por exemplo, demonstra aos seus detractores como ele se afasta dos princípios científicos pugnados pela Royal Geographical Society. Essa transformação pessoal num homem, que chega aos cinquenta anos, coincide com o surgimento de uma nova geração de cientistas para quem é tempo de desconsiderar os relatos fantasiosos dos «amadores» até então enviados em missão pela prestigiada instituição e iniciar metodologias efectivamente dissociadas do mero voluntarismo.
Ainda a comunidade internacional está aturdida por ter estado envolvida num tão irracional e mortífero conflito e já Fawcett sonha em regressar o mais depressa possível à Amazónia. Tanto mais, que Alexander Rice prepara uma nova e bem equipada expedição um pouco mais ao norte da sua região de eleição, mas com o mesmo objectivo de descobrir uma eventual cidade mítica imersa na floresta densa.
Para tal competição, Fawcett não consegue o necessário financiamento. E continua a ser medíocre a qualidade de vida por si proporcionada à família, por muito conhecidas que se tenham tornado as suas proezas.
Juntando as suas precárias poupanças, ele leva a família para a Jamaica, aproximando-se geograficamente do local que o obceca. E procura junto do governo brasileiro obter os apoios, que lhe são negados em Inglaterra..

Filme: «LISBOETAS» de Sérgio Tréfaut

A revisão do filme de Sérgio Tréfaut, quatro anos passados sobre a sua descoberta levanta dois tipos de questões distintas, que então não se punham.
A primeira é o seu efeito de datação: na época ainda a emigração estrangeira em Portugal era assaz significativa e perspectivava-se uma crescente miscigenação entre ela e a população nacional transformando o país num espaço de maior diversidade étnica.
Ora, a crise internacional veio transformar essa expectativa: ouvindo notícias de claras melhorias nos respectivos países, os emigrantes de origem angolana ou brasileira tomam o caminho de regresso. Outros, particularmente os de origem eslava, também retornam na expectativa de arranjarem emprego nas empresas deslocalizadas para os seus lugares de origem.
Nesse sentido, Portugal voltou a bastar-se cada vez mais à sua população tradicional e mesmo assim sem que o emprego chegue para todos. Retoma-se, então, o ciclo bem conhecido de ver partir milhares de pessoas para quem a esperança da sobrevivência se esgotou no seu próprio território e vêem-se obrigadas a ir demandá-la alhures.
Depois, pode-se em jeito de balanço lamentar que Portugal não tenha sabido aproveitar as competências e capacidades de muitos desses homens e mulheres, que vinham acompanhados de currículos académicos prestigiados e acabaram a carregar baldes de argamassa às costas no caso deles e de empregadas de limpeza no caso delas. Suscitando tantos dramas subsequentes, porquanto muitos deles acabaram nas franjas da delinquência ou da desesperante condição de sem-abrigos.
Se tivesse surgido um plano estratégico empenhado em potenciar tais recém-chegados, talvez os problemas de competitividade do país não se tivesse tornado tão complicado.
Mas, no demais, o filme continua actual quanto ao Chico-espertismo de um tipo de pequenos empresários capazes de métodos esclavagistas para melhores rendimentos garantirem a partir destes trabalhadores desprotegidos, ou o comportamento burocrático dos funcionários públicos com quem esses homens e mulheres devem lidar.
Mas, depois da intensa viagem por tantos e diferentes cultos religiosos, a opção mais feliz de Sérgio Tréfaut no seu filme reside na forma como o conclui: com um nascimento de um bébé na maternidade. Demonstrando que, mesmo nas situações mais precárias, surge sempre o desejo de apostar num futuro, que se potencia nessa criança desejada. E já lisboeta desde o seu primeiro dia…

«Diários da Bósnia» de Joaquim Sapinho

Joaquim Sapinho decidiu ir para a Bósnia filmar a guerra terrível aí travada depois de rodar o seu jubilatório «Corte de Cabelo».
O que o atraiu a essa região devastada foi a consciência de como a felicidade pode ser um estado tão efémero e tão condicionado por factores que escapam totalmente ao controlo de quem a pretende viver. Ou, noutra vertente, o que significa ser muçulmano na Europa.
À chegada o realizador ainda não tem uma ideia concreta de como captar as suas emoções depressa focalizadas nas sensações de insegurança, de medo e do cheiro pestilencial da morte.
Em Srebenica esteve no limite da sua própria sobrevivência num cenário destinado a não ser filmado, porque todas as pessoas antes ali a habitarem estavam mortas. E mesmo contando com um homem como guia, que estivera igualmente envolvido em atrocidades. Mas que, por isso mesmo, forçara-o a relativizar julgamentos morais sobre o que ali se passara e ainda estava latente, porquanto, embora assinados, os acordos de Dayton não eram entendidos como solução duradoura para as crispações levadas ao seu máximo paroxismo.
Quando regressa a Lisboa, Sapinho traz cerca de cem horas de imagens. O que o obrigou a uma montagem morosa. Razão para que o filme só tenha estreado quase dez anos depois dos acontecimentos. Mas, ainda hoje, estão bem presentes as condições precárias em que todo o projecto se realizara, sem dinheiro e contando, sobretudo, com a ajuda de tantos jornalistas ali igualmente destacados.
Os traumas inerentes à experiência levam Sapinho a considerar-se, hoje, incapaz de voltar a rodar um documentário, preferindo universos ficcionais.

sábado, fevereiro 06, 2010

Filme: «SEM DESTINO» de Bent Hamer

Charles Bukowski é o paradigma de um tipo de escritores, que tem um lugar cativo na História da Literatura: a dos génios malditos e incompreendidos.
Alcoólico, incapaz de arranjar um emprego estável, fornicador compulsivo  - será esta a versão norte-americana do nosso Luiz Pacheco.
Se o conhecêssemos pessoalmente, achá-lo-íamos intratável. No entanto, se lermos as palavras dele jorradas para o papel, temos de reconhecer a lucidez, a beleza, a profundidade de muito do que elas exprimem.
O filme «Sem Destino», com Matt Dillon, Lili Taylor e Marisa Tomei traça um retrato assaz realista do que era o seu universo. E, ao contrário de quase todos os filmes passados nos EUA, não existe aqui sombra do sonho americano.
Como poderá haver com tanta vontade em contrariar as regras vigentes?

Livro: «A CIDADE PERDIDA DE Z» (4)

Será que existiu uma cidade majestosa nas profundezas da Amazónia, tal qual suspeitava Fawcett?
Em 1911 são muitos os exploradores , que as procuram todos merecendo do aventureiro inglês as mais sérias reservas.
O americano Alexander Rice possuía lauta fortuna pessoal e avançava selva adentro com os meios humanos e materiais mais avançados da época e em grupos exageradamente numerosos. A exemplo do que o fazia o brasileiro Cândido Rondon, encarregado de topografar o território com o apoio logístico do Exército nacional e lançando as bases da Funai. Sem falar dos muitos irresponsáveis, que investiam florestas adentro sequiosos de uma fama a nível jornalístico, que se baseava nas exageradas mistificações sobre os seus feitos.
Percy Fawcett possuía uma ética de comportamento, que antecipava as futuras abordagens antropológicas. Evitava tomar qualquer atitude violenta, mesmo sob a ameaça de flechas e arcos, só violando uma vez tal regra em situação de evidente excepção. Porque, em tais circunstâncias, era pelos gestos amistosos que conseguia firmar amizades com quem, até então, jamais vira um caucasiano...