terça-feira, junho 29, 2010

Filme: PROMESSAS De Emir Kusturica (2007)

Desilusão é a palavra adequada para classificar a reacção ao filme, que Kusturica realizou em 2007.
Aquilo que era a marca de originalidade nos seus filmes dos anos 90 está a converter-se numa estratégia repetitiva a que falta nomeadamente o lado poético então detectável.
Há, obviamente, um conteúdo político bem evidente em quem jamais se conformará com o fim da Jugoslávia, mas esse tipo de mensagem peca agora por inócuo numa realidade, que deixou de ter essa possibilidade como credível.
Quanto à história em si é simples: um adolescente recebe do avô, com quem vive, a incumbência de ir à cidade vender uma vaca e, com o dinheiro, comprar o ícone de São Nicolau, uma lembrança e uma mulher.
Apesar de começar por ser espoliado do animal pelo gangue do mafioso Bajo, o rapaz consegue a providencial ajuda dos irmãos Krivokapic, netos do melhor amigo do seu avô. E eles tornam-se fraternos protectores das suas deambulações. Sobretudo, quando se apaixona por Jasna, uma rapariga, que Bajo pretende pôr a prostituir no seu bar de alterne.
Depois de muita música e de sucessivas vicissitudes burlescas, Tsane regressa a casa com Jasna no dia em que o avô também se prepara para casar com Bossa, a vizinha do lado.
São dois os casamentos, que se celebram, enquanto fora da igreja impera um clima de guerra civil, porquanto o bando de Bajo irá ser finalmente destroçado pelos irmãos Krivokapic.
Mas, ao fim de duas horas de filme, fica a sensação de um enorme vazio.

sexta-feira, junho 25, 2010

Filme: ABEL FERRARA: «HISTÓRIAS DE CABARET»

«Go Go Tales» tem, logo à partida, um excelente naipe de actores, que credibilizam o projecto de Ferrara: Willem Dafoe, Bo Hoskins, Mathew Modine e Asia Argento.
Dafoe é Ray Ruby, um gerente do «Ray Ruby’s Paradise», clube nocturno do tipo alterne, que está em risco de iminente falência. Há já várias rendas atrasadas à irascível senhoria e as strippers têm salários em atraso. Embora continuem a actuar com o devido profissionalismo para os escassos clientes. A arriscada estratégia de Ray passa, então, por algo de inimaginável: apostar todos os cêntimos e dólares, que lhe restam, na compra de bilhetes da lotaria. No entretanto vai iludindo quem o pressiona num jogo de malabarismo permanente, que nem sempre convence os desconfiados interlocutores.
Os problemas sucedem-se: uma das bailarinas, que engravida e quer parar de actuar. Johnny, o irmão cabeleireiro e financiador do negócio, que quer desistir de uma aposta cada vez mais falhada. Ou um cliente, que descobre a mulher no elenco de strippers.
No entanto, o inimaginável acontece: Ray e o seu sócio ganham a lotaria, mas esquecem-se do paradeiro do bilhete.
O desastre parece iminente, mas ainda há o ensejo para o espectáculo de todas as quintas-feiras à noite, quando o Paradise despe a sua aparência de bar de alterne para se travestizar num palco de exibições artísticas de diversas artes cénicas.
Quando anuncia o seu fracasso e comenta «As pessoas adoram ver os outros falhar», Ray descobre o almejado bilhete no bolso interior do seu casaco, acabadinho de chegar da lavandaria.
E da alegria extrema o seu rosto logo se transforma num esgar de decepção quando sabe da obrigatória partilha do prémio com o fisco. Vale-lhe que, na semana seguinte, poderá voltar a jogar.

domingo, junho 13, 2010

Outpost (2008) British Trailer

Filme: «Outpost - O Exército Fantasma» de Steve Barker

Europa de Leste na actualidade. Um pequeno grupo de comandos percorre um cenário de ruínas, uma terra de ninguém sempre a mudar de mãos entre as forças governamentais e as rebeldes. São sete mercenários contratados num bar para garantirem a protecção de um engenheiro, Hunt, cujo objectivo confessado será o de averiguar o estado de uma mina adquirida pela sua empresa para vir a ser explorada, quando a paz se concretizar.
Mas a realidade com que deparam é outra: o que Hunt pretende é a entrada num bunker nazi da II Guerra Mundial aonde existe uma máquina capaz de manipular o campo magnético unificado, resultante do desenvolvimento das teorias de Einstein. E que poderá deslocar corpos no espaço e no tempo.
O desiderato dessa experiência nazi, que não chegara a dar azo à pretendida reviravolta dos acontecimentos em 1944, é a existência de mortos-vivos sob a forma de fantasmas vocacionados para matarem. E, um a um, todos os elementos da expedição são eliminados de forma particularmente sangrenta para almas impressionáveis.
Tempos depois uma nova expedição irrompe pelos subterrâneos sem suspeitar da armadilha em que está a cair.
 Evocando diversos filmes da história do cinema norte-americano (do «Planeta Proibido» de Fred Wilcox ao «Nevoeiro» de Carpenter), «Outpost» ostenta argumentos de produção, que ajudam a  credibilizar uma história estapafúrdia. A fotografia lembra a da «Zona» de Tarkovski, outro título com que este filme de Steve Barker se chega a assemelhar.
Mas depressa se dilui no interesse de uma história que, metaforicamente, prometia bastante, mas acaba por se satisfazer com o seu lado mais sangrento…
Afinal aquele que se adequa ao seu público alvo!

domingo, junho 06, 2010

Tokyo Sonata (2008) Trailer [ENG SUB]

Filme: «Sonata de Tóquio» de Kyoshi Kurosawa

Em «Sonata de Tóquio», do japonês Kyoshi Kurosawa, temos a versão japonesa de muitos dos dramas vividos numa Europa donde deslocalizam muitas das suas fabricas, deixando quadros técnicos entre os 40 e os 55 anos na inevitabilidade do desemprego definitivo.
É isso mesmo, que sucede com Ryuhei Sasaki, que era director administrativo da Companhia Tanita. E é com ele e todos os elementos do seu núcleo familiar, que iremos estar acompanhados durante todo o filme.
Com Kenji, o seu filho mais novo, que não hesita em denunciar perante a aula o professor, que o injustiçou por estar a passar um manga, quando ele próprio folheia um porno-manga, quando vai no transporte de regresso a casa. Ou Takashi, o filho mais velho da família Sasaki, que, por falta de alternativas de emprego, acaba por se alistar como voluntário do Exército norte-americano.
Mas a primeira opção errada de Ryuhei é esconder a sua nova realidade da família, saindo todos os dias de casa, como se fosse para o emprego.
Encontra, assim, outros nas mesmas condições e com quem vai partilhando o almoço na sopa dos pobres ou as sucessivas entrevistas de emprego.
Se, ao princípio, lhe apareciam oportunidades minimamente aceitáveis, mesmo que muito abaixo do seu estatuto, não terá outro remédio, passadas algumas semanas, do que aceitar um emprego nas limpezas de um centro comercial.
A vida para a recatada Sra. Sasaki vai-se tornando insuportável, à medida que pressente o desastre iminente, quer pelas reacções intempestivas do esposo contra os filhos  - expulsando o primogénito de casa e proibindo o mais novo de ir a lições de piano - , mas, sobretudo, quando dá com ele na fila para a comida de graça ou no seu novo trabalho no centro comercial.
É por isso que, quando raptada por um ladrão fracassado com quem passa umas horas, ela decide não voltar para casa, almejando começar tudo de novo.
Nessa mesma noite toda a família se parece esfrangalhar: Ryuhei é atropelado e fica inconsciente na valeta,  enquanto Kenji passa uma noite na prisão ao ser apanhado como passageiro clandestino no autocarro aonde esperava partir para longe.
Na manhã seguinte, mais ou menos sujos, eles encontram-se em casa para um novo recomeço. Que até não será assim tão negativo: quatro meses depois, Ryuhei continua a limpar sanitas e pavimentos na catedral de consumo, mas vai com a esposa ver o filho interpretar «Clair de Lune» de Debussy nas provas de admissão Escola de Música aonde poderá aprimorar o seu elogiado talento. 
Na singeleza da sua tragédia, «Sonata de Tóquio» acaba por dar ênfase à importância da honestidade pessoal dentro da família e à superação das dificuldades conjunturais procurando minimizá-las dentro do possível

quinta-feira, junho 03, 2010

COMBAS Robert

Filme : OLIVIER TAÏEB, «PAROLES PEINTES»

Durante quase duas horas o pintor  Robert Combas pinta uma tela para ficar assim registado o seu processo criativo.
Recorrendo às cores dos boiões comercializados (e que não mistura para garantir outras, que pudessem expressar igualmente a sua sensibilidade), Combas começa por verbalizar intensamente as suas intenções  num discurso ininterrupto.
Mas isso só ocorre no início: à medida que o  seu trabalho avança, ele silencia-se e o único som ouvido é o dos pincéis a deslizarem na tela ou o pigarrear frequente do pintor incomodado pelas emissões gasosas das tintas.
Impressiona a desenvoltura perante um enorme espaço a preencher  - e se ele o preenche completamente  - com o seu imaginário, povoado de seres de olhos imensos em poses com algo de erótico associado.
Opção do realizador é a inserção de «mementos» - únicas ocasiões para se  ouvir uma banda sonora musical - em que se revêem os momentos determinantes de cada uma das cinco fases em que o quadro evolui.
Um documentário muito actual, não só pelo tema, mas por ter sido produzido já em 2010.