Embora marginalizado e enquadrado na categoria de "arte degenerada" pelo regime nazi, Karl Schmidt-Rottluff manteve um isolamento passivo perante as atrocidades que sabia estarem a ser infligidas, especialmente aos amigos judeus. Este período sombrio da história alemã comportou a supressão brutal de formas de expressão artística consideradas "não-arianas" ou "subversivas", com Schmidt-Rottluff a ser proibido de pintar e muitas das suas obras confiscadas de museus. A sua natureza reservada e a conhecida inclinação para a solidão podem ter contribuído para esse isolamento face à perseguição. Contudo, essa passividade não deve ser confundida com indiferença. Num tempo tão perigoso essa pode ter sido uma forma de sobrevivência, uma maneira de manter a integridade pessoal e artística num mundo que se desintegrava em torno dele. Em vez de uma voz ativa na resistência, a "rebeldia" de Schmidt-Rottluff sob o nazismo manifestou-se na persistência silenciosa da identidade artística e na recusa em comprometer os princípios estéticos, mesmo quando a sua arte era demonizada. Após o fim da guerra, retomou imediatamente a atividade, lecionando e ajudando a fundar o Museu Die Brücke em Berlim, reafirmando o valor da arte que o regime tentou destruir.
A importância de Schmidt-Rottluff para o Expressionismo é inegável, principalmente pelo papel na fundação do grupo Die Brücke (A Ponte) em 1905, ao lado de Ernst Ludwig Kirchner, Erich Heckel e Fritz Bleyl. Este grupo foi um marco. Os artistas do Die Brücke procuravam criar uma nova forma de arte que se distanciasse do academicismo e do impressionismo, que consideravam superficiais, buscando uma expressão mais direta, emocional e espiritual da realidade, influenciados pela arte tribal africana, pela arte gótica e pelas gravuras em madeira.
A exemplo de outros expressionistas, utilizou cores intensas, puras e muitas vezes não naturais, mas com uma força e vibração que traduziam o que sentia. A cor foi a forma de traduzir emoções, transmitindo paixão, angústia ou vitalidade.
As obras têm formas ousadas, contornos fortes e composições frequentemente simplificadas, que amplificavam o impacto emocional. Embora houvesse um dinamismo nas obras, não era um movimento literal em cada elemento, mas uma energia interna, uma efervescência emocional.
Ele recorreu também à xilogravura, uma técnica que os artistas do Die Brücke reviveram para criar imagens com linhas fortes e contrastes dramáticos, ideais para a intensidade expressiva que procuravam.
O vanguardismo de Karl Schmidt-Rottluff reside na coragem em desafiar as convenções artísticas e sociais da época, contribuindo para uma revolução na forma como a arte era concebida e percebida.
Ao libertar a cor e a forma das suas funções descritivas e ao usá-las como veículos para a expressão interior, Schmidt-Rottluff abriu caminho para futuras experimentações na arte moderna, cruciais para o desenvolvimento do Expressionismo como um dos movimentos mais influentes do século XX.
Num período de profundas mudanças sociais e psicológicas, deu voz às inquietações e sentimentos da condição humana, algo que a arte acadêmica raramente abordava com a mesma franqueza. O seu trabalho permanece como um testemunho poderoso da capacidade da arte comunicar as profundezas da experiência humana através de uma linguagem visual ousada e sem precedentes.