quinta-feira, março 10, 2016

DIÁRIO DAS IMAGENS EM MOVIMENTO: «Ida» de Pawel Pawlikowski (2014)

Estreado há quase dois anos, quando a Polónia era uma democracia estável, mesmo se governada por partidos de direita, talvez «Ida» ganhe nova dimensão, quando sabemos como, entretanto, as novas eleições entregaram o poder a um partido de extrema-direita disposto a replicar o mais rapidamente possível o tipo de controlo fascizante já implementado na Hungria de Viktor Orban.
Para já seria muito difícil que, mesmo escudado numa produção internacional, Pawlikowski conseguisse rodar ali o seu filme, porque ele demonstra o que de pior tem uma certa forma de se ser polaco: além de religiosamente beato (e Beata é o nome da primeira-ministra!) a maioria da sua população tem a mesma melíflua atitude, que potenciou a morte de tantos judeus durante o Holocausto. Os perseguidos de hoje são os refugiados das guerras do Médio Oriente dos quais as autoridades polacas não querem sequer ouvir falar, quanto mais acolher.
No filme a jovem noviça vem a descobrir que o assassino dos pais teve uma motivação cúpida para o seu crime: queria simplesmente ficar-lhes com as terras.
Quantas vítimas dos nazis resultaram da denúncia de gente desse jaez, capaz de enviar pessoas para a morte apenas em benefício pessoal? Por isso mesmo as tropas aliadas, quando descobriram o horror dos campos de extermínio não hesitaram em obrigar os aldeões a enfrentarem o cenário terrível dos crimes cometidos à sua vista!
Quanto ao filme em si consegue ser extremamente belo na opção estética pelo preto-e-branco e arguto nas elipses com que faz evoluir a história, sugerindo mais do que decide mostrar.

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