terça-feira, abril 30, 2019

(DIM) IndieLisboa 2019: «Present Perfect» de Shengze Zhu (2019)


Que país tão imenso, com uma população tão numerosa, e onde as pessoas se sentem tão sós!
Durante meses a realizadora recolheu centenas de horas de conversas por streaming de uma dúzia de utilizadores apostados em encontrarem quem, do outro lado do ecrã do telemóvel, estivesse a ouvir-lhes as confidências, anseios e angústias, naquele que acaba por constituir um eloquente retrato sobre a China de hoje.
O fenómeno tendeu a generalizar-se numa tal dimensão, que as autoridades de Pequim já se incumbiram de fechar umas quantas plataformas pelas quais essas comunicações ocorriam com a maior das liberdades.
O filme passa dia 2 às 21h30 na Culturgest e às 14h30 de dia 4 no Cinema São Jorge.

(S) O Allegro do Concerto para Violino de Mendelssohn por Patricia Kopatchinskaja

(DIM) IndieLisboa 2019: «Ne Travaille Pas (1968 – 2018)» de César Vayssié, França (2018)


«Ne Travaille Pas» é uma espécie de trip frenética através das imagens com que somos continuamente assaltados no dia-a-dia. Tomando por referência a Revolução de Maio de 1968, que descobria a praia debaixo das pedras da calçada e mandava ser realista pedindo o impossível, temos dois jovens estudantes de Belas Artes no cruzamento da dicotomia entre o espaço íntimo e o que lhe é exterior. A batida da música impele para a entrega ao espetáculo visual feito de gestos, símbolos e de imagens vistas nos telejornais.
O filme passa nos dias 3 e 5 de maio às 20h30 no Cinema Ideal.

(DL) Dada a urgência, Fred Vargas muda de azimute


Fred Vargas é uma das mais estimulantes autoras francesas de livros policiais, sendo muitos os títulos merecedores de leitura atenta, mesmo se vocacionados para o entretenimento de quem os usufrui. Desde 1986, com «Les Jeux de l’amour et de la mort», que se habituou a receber os mais prestigiados prémios do género, ganhando notoriedade nos muitos países em que viu traduzidas as sucessivas obras, tendo atingido os cem milhões de exemplares. Mas, para além dessa atividade, ela é, igualmente, investigadora na área da arqueozoologia, razão porque sente particular urgência no combate em favor da sustentabilidade do planeta. Sobretudo ao constatar a incúria dos governantes em tomarem devida conta dos fundamentados alertas da sociedade científica.
Explica-se, assim, que lance amanhã um ensaio a expressar essas preocupações - «L’Humanité en Péril» -, que traz como subtítulo um apelo para que, de imediato, se mude de rumo. Apesar da informação sobre a crescente poluição dos rios e dos mares, ou a extinção de centenas de espécies, ela considera-a insuficiente para que as autoridades oficiais assumam aquilo que os mais conscientes sobre o estado do planeta já interiorizaram: o apocalipse climático está em vias de se tornar irreversível...
O que ela põe em causa é a forma como o capitalismo produtivista, liderado por políticos enfeudados a lobbies apenas interessados nos seus lucros, está a lançar a sociedade humana para o cataclismo. E contra os quais a mobilização coletiva tem de se incrementar...

segunda-feira, abril 29, 2019

(DIM) «Lost Holiday» de Thomas Matthews, Michael Kerry Matthews (2019)


Depois dos irmãos Coen, ou das irmãs Wachowski, uma nova fratria de realizadores norte-americanos é-nos apresentada no IndieLisboa deste ano. Trata-se de um raodmovie em que sobressaem as questões sobre o que é ser adulto e como reagir àqueles, que em tempos, foram grandes amigos, mas agora tendem a ser-nos indiferentes. Ou de como mudaram os sítios que foram os que nos viram crescer, mas tanto mudaram desde então. Ou de como o espírito natalício muda consoante a idade, que temos.
As moradias geminadas do estatuto burguês é mera fachada para a frustração de se estar a envelhecer e ficar inevitável o abandono da fórmula sexo, drogas e rock’n roll.
«Last Holiday» promete ser um dos filmes que mais nos possam divertir no festival, que se inicia na quinta-feira.
Este filme em concreto passa na Culturgest às 18 horas do dia 3,  e às 18.30 do dia 5 no Cinema Ideal.

(S) A Abertura da Ópera «Das Liebesverbot» de Richard Wagner.

sábado, abril 27, 2019

(DIM) IndieLisboa 2019: «Jessica Forever» de Caroline Poggi e Jonathan Vinel


Há filmes que me fazem sentir tão desfasado da geração de realizadores atuais, que não sei se a falta de empatia pelos seus filmes significa obsolescência pessoal, se efetivo vazio criativo mascarado de uma capa vistosa, modernaça. À partida começo por nunca simpatizar com histórias passadas em futuros distópicos.
Catherine Poggi e Jonathan Vinel ganharam reputação junto da crítica, mormente dos ainda influentes «Cahiers du Cinéma», com as sucessivas curtas-metragens que coassinaram. Nessa revista juntaram-se a dois outros realizadores, Bertrand Manrico e Yann Gonzalez para criarem um manifesto, o «Flamme», que propagandeia um cinema destinado a “sonhadores que suam, monstros que choram e crianças que ardem”.
«Jessica Forever» conta a história de uma rainha, que também poderia ser um cavaleiro, uma mãe, uma mágica, uma deusa ou uma estrela. Ela é a salvadora de todas as crianças perdidas, de rapazes solitários, de órfãos e de perseguidos que nunca conheceram o amor e tornaram monstros, Em conjunto formam uma família e procuram criar um mundo em consigam sobreviver.

(S) Uma Invocação de Shakespeare por Berlioz


O Concerto desta sexta-feira à noite no CCB, dito inaugural de Os Dias da Música de 2019 - embora na véspera já tivéssemos assistido aos «Sonhos de uma Noite de Verão» de Mendelssohn! - teve bons motivos de interesse a começar pelo facto de contemplar peças raramente ouvidas em concertos entre nós. Mesmo não tendo uma particular simpatia pela obra de Berlioz testemunhámos um desempenho competente da orquestra dirigida pelo seu maestro habitual, Pedro Amaral, uma interpretação convincente do Coro Ricercare e uma boa prestação dos cantores, sobretudo de Luís Gomes, que teve sobre Luís Rodrigues a vantagem de não ver a orquestra a abafar-lhe a interpretação. E houve André Gago a personificar o compositor, replicando-lhe os excessos românticos, consonantes com esses anos 30 do século XIX, quando Berlioz entendeu oportuna a orientação da sua criatividade para o universo de Shakespeare, que tanto o impressionara em 1827, quando vira a sua adorada Henrietta a fazer de Ofélia em «A Tragédia de Hamlet». Não imaginaria, então, que o casamento desiludiria tanto quanto dele esperara.
Hoje volta a haver mais com propostas, que nos darão acrescidos motivos de satisfação melómana.

sexta-feira, abril 26, 2019

(DIM) IndieLisboa: «De Nuevo Otra Vez» de Romina Paula (2019)


Há muito tempo que o cinema sul-americano, e o argentino em particular, está a ofertar-nos propostas com bastante interesse, não se cingindo às que Lucrécia Martel, a mais conhecida das realizadoras dali oriundas, nos tem prodigalizado. Neste filme com algo de autobiográfico, já que Romina Paula assume papel determinante, quer atrás das câmaras, quer diante delas, temos a história de uma mulher insatisfeita, apesar de casada e mãe de um filho com 4 anos. Decide então regressar à cidade onde cresceu, Buenos Aires, aí buscando respostas para o seu desencanto. De súbito é como se recuperasse o fio condutor com a adolescência em que vivera descontraída com as saídas à noite e as fantasias próprias dessa idade.
O problema é que não se consegue voltar a repetir a felicidade vivida num espaço que deixou de ser o seu. E entre o filho e a mãe, a protagonista questiona-se e procura ´soluções.
O filme será exibido na Culturgest no dia 9 de maio às 19h e no Cinema Ideal no dia 11 pelas 22h.

(DL) A visão da China que Yu Hua nos faculta


Numa entrevista a Luís Caetano, Yu Hua lembra a época em que, jovem médico, foi colocado numa zona de província muito afastada das grandes cidades e em que deveria prestar serviços de saúde não só aos operários das fábricas e aos camponeses, mas também às crianças das escolas. Mas como a pobreza predominava não havia recursos para, nos processos de vacinação, se usar uma seringa só uma vez, devendo ser reutilizada nas semanas seguintes. Por isso, todas as noites, ele tentava repará-las de forma a estarem nas melhores condições possíveis nos dias seguintes. Mas, se elas entravam na carne dos vacinados sem problema, quando se retiravam traziam sempre um pedacinho de carne.
Ora, se quando isso sucedia com os operários e os camponeses, ele não valorizava a dor, que isso significava, só passou a dar-lhe a devida importância, quando passou a ocorrer com as crianças e elas berravam de medo, antes mesmo de serem picadas. Só então passou a sentir real empatia com quantos até então causara indiferente dor.
Mais adiante, na mesma excelente entrevista, ele conta como a China evoluiu significativamente desde o fim da Revolução Cultural, com as reformas impostas por Deng Xiaoping, e isso se sentiu nos templos budistas. Reabertos depois de terem estado fechados nas décadas anteriores, têm dois sítios específicos para acenderem velas, um onde se fazem votos de Fortuna, de Riqueza, o outro onde se aspira à Paz e à Tranquilidade. Ora, nos anos 80, quase todas as velas concentravam-se no primeiro local, estando o segundo quase delas isento. Agora sucede o contrário: o capitalismo selvagem, que hoje prevalece no grande país oriental, faz as pessoas preferirem a paz e a tranquilidade à fortuna.
Não admira que um inquérito recente, sobretudo respondido por jovens, tenha dado como resultado, que 80% veriam como positiva a hipótese de, sendo possível, Mao ressuscitasse para o mundo dos vivos. Claro que quem respondeu não fazia a menor ideia de quão difícil era a vida nessa altura, mas mistificava-a como passível de lhes conceder como aquilo que mais anseiam.

(DIM) IndieLisboa: «De los nombres de las cabras» de Sílvia Navarro e Miguel G. Morales (2019)


Ao contrário do que acontecia com as nossas ilhas atlânticas as Canárias eram habitadas, quando os castelhanos aí aportaram e as declararam suas. Os guanches, povo nativo, ainda estava na idade da Pedra e, em menos de um século, foram erradicados.
O filme de Sílvia Navarro e Miguel G. Morales organiza-se a partir dos trabalhos arqueológicos de um investigador dos anos 80, imbuído dos preconceitos coloniais, de imagens de arquivo, e das entrevistas a pastores, que possam ter conservado algo dos que, outrora, haviam habitado as suas austeras paisagens.

O que está em causa é a forma como se consolida um discurso histórico favorável a quem prevaleceu dos confrontos do passado, ou seja, entre quem estava condenado a desaparecer e quem impunha a prioridade dos seus interesses pela força bruta da ocupação.
O filme passa dia 6 de maio no Cinema Ideal às 22.30 e na Culturgest no dia seguinte às 18.30.

(DIM) Festival Indie: «Bait» de Mark Jenkin (2019)


Apesar de viver na Caparica nunca tive noção da verdadeira dimensão das contradições sociais suscitadas pelo turismo, quando passou a condicionar a atividade piscatória de quem nela se sustentava. Convenhamos que, quando comecei a ir a banhos nos inícios dos anos 60, já a Costa era a praia procurada pelos lisboetas para darem satisfação ao seu desejo de lazer e de usufruto da mais acessível atividade ao ar livre, muito embora sem o carácter invasivo, que viria a assumir na década seguinte. Mas, na altura, o foco da minha atenção estava para o mundo inteiro à minha volta sem que desse atenção peculiar o que me estava bem à frente  dos olhos. Daí que esta longa-metragem de Mark Jenkin funcione como sugestão do que possa ter ocorrido sem que lhe tivesse dado particular atenção.

Filmado a preto-e-branco na Cornualha, «Bait» aborda um intenso conflito de interesses dentro da mesma família, entre quem sempre se dedicou pesca e quem encara a chegada de forasteiros como apetecível oportunidade para alcançar uma melhor qualidade de vida.
O filme passa na Culturgest no dia 8 de maio às 18 h e no Cinema Ideal no dia 10 às 18h.

quinta-feira, abril 25, 2019

(S) Hoje há Mendelssohn


Neste 25 de abril os Dias da Música deste ano têm um arranque maravilhoso com a conjugação de três jovens orquestras dirigidas pelo maestro Cesário Costa, e acompanhadas pelo Coro do Instituto Gregoriano de Lisboa, para interpretarem a Opus 61 de Félix Mendelssohn, conhecida como Sonho de uma Noite de Verão.
Pedro Penim contar-nos-á a história dos amores de Hérmia e de Lisandro, de Helena e de Demétrio, e até de Teseu com Hipólita, sob o olhar dos deuses do Olimpo e de fadas, elfos e outras personagens mágicas de uma floresta encantada. Ana Maria Pinto e Patrícia Quinta darão voz às árias da peça.
Revisitar a Abertura, ouvida pela primeira vez em 1827, e a música incidental, que Mendelssohn lhe acrescentou dezasseis anos depois, é sempre um prazer desde o primeiro instante. Porque entramos, primeiro pé ante pé, mas depois triunfalmente no espaço onde toda a comédia ocorrerá. E surpreende como o compositor teve talento para a compor, quando tinha apenas 17 anos de idade e se preparava para ser um dos nomes maiores do Romantismo alemão. Passando inevitavelmente, pela conhecidíssima Marcha Nupcial, que sobressaltou tantos corações piegas!
Neste ano em que a música do tempo de Shakespeare encantará os melómanos, distribuídos por todos os espaços do CCB, as expetativas são as melhores...