terça-feira, fevereiro 24, 2009

Joseph Haydn Piano Trio in G Major

Trata-se do terceiro andamento de uma peça de Haydn, nitidamente influenciada pelos ritmos dos ciganos da Europa de Leste.
Nesta época do Classicismo a música era um divertimento concebido para usufruto das classes dominantes, que contratavam pequenos grupos de câmara ou mesmo orquestras de reduzida dimensão para povoar de sons as suas festas ou serões.
Este trio para piano, violino e violoncelo integra-se na oerfeição em tal tipo de enquadramento.

sábado, fevereiro 21, 2009

Anne-Sophie Mutter - Beethoven Violin Concerto 3rd mvt

É um dos mais belos concertos de Beethoven. E Anne Sophie Mutter é, decerto, uma das suas mais exímias intérpretes.
Há trechos musicais que me dão muito prazer aqui inserir, mas este é decerto um daqueles em que tal prazer é ainda mais superlativo.

In the Valley of Elah

Já «Colisão» fora um filme elucidativo sobre o mal estar de uma América completamente dissociada dos valores dos seus pais fundacdores.
A Guerra no Iraque só contribuiu para ainda maiores transformações de anjos em monstros...

Paul Haggis: «No Vale de Elah»

«No Vale de Elah» tinha todas as condições para merecer várias nomeações para Óscares, para além da que coube a Tommy Lee Jones pelo seu papel principal. Mas a América de George W. Bush, em 2006, ainda estava longe de reconhecer o quão mergulhada estava num verdadeiro atoleiro, aonde o frágil David poderia derrubar o forte Golias a exemplo do que sucedera há muitos séculos atrás nesse referido vale. Porventura, na presente América de Obama, o filme teria outro acolhimento do público e da Academia de Hollywood.
Porque se trata não só da guerra no Iraque, mas também nas suas consequências junto de soldados vindos desses traumáticos cenários.
À partida o veterano Hank Deerfield parte à procura do filho Mike, desaparecido do seu quartel alguns dias atrás e cujo cadáver aparece apunhalado, carbonizado e cortado aos bocados num campo baldio. Patriota, nada o faz suspeitar da terrível realidade, que se ocultava por trás da personalidade do seu filho.
Ajudado por uma agente policial, apostada em se afirmar perante os seus misóginos colegas, Hank irá descobrir todas as alterações provocadas no filho pelo que ele vira no Iraque. O quase anjo anteriormente personificado acaba por se revelar um monstro, que se droga, insulta strippers ou se envolve em zaragatas.
E nos filmes resgatados do seu telemóvel o pai surpreende em Mike uma vocação de sádico torturador.
Mas não é só Mike quem se transmuta: à sua volta há outros soldados, que começam por afogar o cão doméstico na banheira como preparação para o fazerem com a própria mulher dias depois. Ou os que viram psicopatas se quase darem pelas consequências dos seus actos.
O filme de Paul Haggis acaba por ser um terrível libelo contra uma guerra injustificada, despoletada por um presidente idiota acolitado de uma corte de gananciosos oportunistas. E a imagem desacreditada, que fica da América, está bem evidenciada na bandeira virada de pernas para o ar, que Hank afixa no mastro em frente à sua casa. O patriota passou a olhar para os seus valores e crenças com um cepticismo, que prenuncia a reviravolta política aí acabada de suceder.
Possa agora Obama prefigurar uma inflexão completa do rumo seguido até aqui e conclua pelas vantagens de negociar em vez de matar e prender quem ama o seu país ao ponto de nele rejeitar quaisquer invasores…

domingo, fevereiro 15, 2009

«Honra de Cavalaria» de Albert Serra

«Honra de Cavalaria» é um filme muito contemplativo do catalão Albert Serra em torno do mito de D. Quixote.
Os dois personagens vão vagueando indolentemente pelos campos da Mancha até a noite cair e as sombras negras os envolverem nas brumas de um esquecimento, que é o dos seus valores. Estes têm a ver com uma mítica Idade do Ouro, quando não existiam guerras nem quaisquer outros tipos de conflito. Uma Idade em que todos se estimavam…
É claro que Sancho não passa de um criado e Quixote o seu prepotente senhor, mas este último não se exime de tentar convencer aquele da fraternidade que os une: um será o irmão mais velho do outro!
Farto daquele cirandar inconsequente, Sancho ainda se sente tentado a fugir daquele lunático, que tenta interpretar nas nuvens do céu as orientações para si dadas pelo Deus em que acredita. Mas deixa-se convencer a ficar e a ouvir as sempiternas teses do decrépito cavaleiro: « A Cavalaria é a Civilização. Recompensa os que falam verdade e castiga os que mentem. A Cavalaria é o raciocínio em acção».
Muito lento, trata-se de obra para degustar num estado de espírito muito próprio, porque visto ao acaso incomodará pelo tédio, que aparentará criar.
Mas, depois de, há muitos anos atrás, ter passado ao lado do muito elogiado «A Sombra do Marmeleiro» de Vítor Erice por manifesta falta de disponibilização mental para o apreciar, não quererei incorrer de novo no mesmo erro.

«O Caminho Perigoso das Coisas» de Michelangelo Antonioni

«O Caminho Perigoso das Coisas» é o terceiro sketch do filme «Eros», que conjuga a arte cinematográfica de Wang Kar Wai, de Steven Soderbergh e de Michelangelo Antonioni.
No episódio deste último, precisamente aquele que corresponde ao título aqui referenciado, volta-se aos temas obsessivos do realizador, apesar de, nesse ano de 2004, já ele estar demasiado diminuído fisicamente pela doença e, portanto, se poder admitir a possibilidade de uma reorientação das suas inquietações. Ao invés continuamos no terreno instável das relações amorosas entre gente endinheirada para quem a sobrevivência do dia a dia é questão comezinha em comparação com as preocupações relativas à falta de diálogo entre quem se devia amar.
O episódio começa, precisamente, pela manifestação de insatisfação de Christopher em relação a Cloe a quem acusa de falta de empenhamento na relação a dois.
O rompimento do vínculo entre ambos parece iminente pela manifesta falta de comunicação. Mesmo quando, por mero acaso, vão parar a um cenário paradisíaco em cuja cascata uma sereia canta:
«Porque nunca viemos aqui antes?», pergunta ele. E pressupõe no seu desalento a falta de curiosidade sobre tudo quanto os rodeava.
«Ao menos tens recordações de coisas bonitas?», prossegue ele. E Cloe responde-lhe mais adiante, noutro belo local aonde lhe diz:
«Sempre gostei deste espaço, mas, hoje, ele oprime-me!»
O jogo de massacre dessa relação vai prosseguindo nesse seu cirandar por sítios por onde se vão multiplicando os símbolos do estado desse desamor: um copo de vidro a rolar pelo chão, uma outra mulher a recolher maçãs para os seus cavalos e objecto da atenção de Christopher.
Não admira, já que é com essa Luísa, que ele irá à procura do que em Cloe não encontra. Mas tratar-se-á, tão só, de uma relação sem amanhã, já que, em breve, ele escreverá a Cloe de Paris aonde neva, sempre a lamentar a impossibilidade de se entenderem.
E o filme acaba com as duas mulheres nuas na praia em pressentida aproximação.
Será que a mensagem de Antonioni será a de que, incapazes de se satisfazerem com a incompetência masculina, restará às mulheres encontrarem o afecto numa solução lésbica?

domingo, fevereiro 08, 2009

ELINA GARANCA NA GULBENKIAN

Elina Garanča tornou-se-nos conhecida através da sua partilhada interpretação com Anna Netrebko do divinal Dueto da Flor da ópera «Lakhmé» de Delibes.
Nessa altura a sua voz pareceu emparceirar na perfeição com a conhecida soprano russa. Equiparando-se-lhe, se não mesmo ultrapassando-a em capacidade vocal. O que não surpreende atendendo à sua condição de mezzo soprano.
Agora, em Lisboa, a sala do Grande Auditório da Gulbenkian quse encheu para apreciar as suas interpretações de um conjunto de compositores diversificados em estilos e em línguas: Brahms, Schumann, Rossini, Vitols e Manuel de Falla.
Acompanhada ao piano pelo experiente Charles Spencer a cantora mostrou todos os seus dotes vocais num reportório difícil mas servido a contento.
Elina Garanča deu razão a quem a integra na linha dianteira dos grandes nomes do canto lírico actual.

MONA LISA SHOW

Entramos na sala e os actores olham-nos no rosto. Sorridentes, como se quisessem ganhar a nossa simpatia. No exacto contrário do que Brecht propunha com a sua teoria do distanciamento entre o espectador e o que se passa no palco…
Depois, durante hora e meia, temos sete actores a desdobrarem-se em múltiplos papéis, que nos devolvem para a realidade do nosso dia-a-dia e para quem connosco se costuma cruzar nos empregos, na rua, nos ambientes familiares.
Em geral são personagens insatisfeitos com o que fazem. Por culpas próprias, por falta de talento ou, pura e simplesmente, por manifesta falta de sorte…
Quase todos vivem inquietos, se não mesmo angustiados com a sucessão sempre igual dos seus dias. Aonde quase nunca cabe a esperança. Excepto, quando se abrem para os sonhos impossíveis e se deixam embalar por utopias irrealizáveis.
Por isso no final os sete rostos simpáticos dão lugar a expressões crispadas de quem se sente acossado. Embora lentamente eles se aligeirem e as luzes se apaguem sobre os seus rostos serenos, porventura desencantados e sem vontade de continuarem a contrariar o rumo das coisas.
Fica assim uma síntese possível da peça «Mona Lisa Show», vista há dias na sala do Teatro Meridional.

sábado, fevereiro 07, 2009

MONA LISA SHOW

Não o vimos quando esteve em Outubro no CCB, mas o regresso a Lisboa ao Teatro Meridional permitiu-nos encontrar esses personagens, que equivalem a muitos com quem contactamos nos nossos dias. Gente inquieta, angustiada, mas capaz de enveredar pelo sonho, quando é preciso acreditar!

terça-feira, fevereiro 03, 2009

A Viagem do Elefante

Será o elefante Salomão uma divindade? É o que sobre ele perguntam ao cura mal desperto os aldeões de um dos sítios por onde o paquiderme vai passando na sua lenta viagem para Valladollid.
Tendo surpreendido uma conversa entre o cornaca Subhro e o comandante do destacamento militar enviado por D. João II para acompanhar o seu presente ao primo Maximiliano, arquiduque da Áustria, eles questionam as verdades axiomáticas da Igreja, quando a Inquisição estará em vias de se implantar no rectângulo lusitano.
Tão pressionado se sente o clérigo, que logo decide avançar para uma bênção ao animal, dando razão ao que o escritor sugere - que o povo unido jamais será vencido.
Muito oportuna essa intervenção contínua do narrador enquanto observador distanciado da trama e, como tal, legitimado na sua condição de crítico das próprias opções estilísticas do texto. A confirmar que, apesar de seriamente debilitado pela doença, jamais Saramago pareceu tão irónico no que publicou.
Um sinal inequívoco de uma grande sabedoria sobre a vida e as suas múltiplas manifestações…

Uma questão de silêncios

Numa entrevista à Antena 2 o Luís Sepúlveda estabelecia, já lá vão umas semanas, uma grande distinção entre a direcção de orquestra de Celibidache em relação à de Karajan. Aonde este último primava pela técnica perfeita, o romeno dava espaço para a afirmação dos silêncios entre as notas. O resultado era completamente diferente, como se pode detectar no «Allegreto» da 7ª Sinfonia de Beethoven.
Ora esta questão dos silêncios vem entroncar numa das grandes acusações de que sou alvo cá em casa: parece existir em mim uma tal aversão ao silêncio, que tenho de ter sempre a música ou qualquer outra forma de som a acompanhar-me no que vou fazendo.
E, no entanto, reconhecendo essa minha forma de estar na vida, também não deixo de me sintonizar com essa apreciação do escritor chileno: é que se gosto imenso de boa música, não deixo de nela apreciar a sábia emergência dos silêncios.