segunda-feira, maio 30, 2011

Filme: HORSE FEATHERS de Norman McLeod

Tenho a sensação de que, depois de glorificado por sucessivas gerações de cinéfilos, a adoração de Groucho Marx esteja em vias de fenecer. Fruto porventura de uma evolução de valores e de costumes, que tornam inócuas as irreverências exploradas nestes filmes, doravante apenas interessantes enquanto documentos históricos sobre modelos de pensamento e de comportamento na primeira metade do século XX. Ou então, sou eu que nos meus cinquentas bem medidos, já não encontro assim tanto merecimento nessa admiração confessada por milhentos discípulos.
Marx por Marx continuo, afinal a preferir o filósofo alemão, que conceptualizou um outro tipo de sociedade e de sistema económico.
O que têm os filmes dos Marx nos anos 30 (este é de 1932) são alguns gags com alguma piada, inseridos em argumentos paupérrimos, feitos manifestamente às três pancadas. Neste filme, Groucho torna-se reitor do Huxley College sob o lema de que «esta universidade anda a negligenciar o futebol por causa da educação!»
Por isso mesmo a sua tarefa principal irá ser a da vitória contra uma universidade rival, a de Darwin, contando para tal com a ajuda de dois troca-tintas: Barivelli (Chico) e Pinky (Harpo).
Para além dos números musicais do costume surge um mafioso a querer a vitória de Darwin a todo o custo por ter interesses nas apostas sobre tal jogo, contando com a colaboração da voluptuosa viúva Conney Bailey, incumbida de descobrir o esquema de jogo de Huxley.
É claro que Huxley acaba por ganhar e a referida viúva não casa com um, nem com dois, mas sim com os três Marx em causa.
Momentos efectivamente engraçados do filme ocorrem, quando Groucho emite o seu discurso de tomada de posse em que alega estar a pensar ao mesmo tempo em anedotas tais, que até se sente ali a corar. Ou quando está a cortejar Conney Bailey e a sala passa a estar tão concorrida, que ele conclui: «Aqui o que dava era bifanas!»
Pode-se alegar o surrealismo de algumas cenas, cuja lógica escapa ao mais distraído dos espectadores ( a cena em que Harpo ganha uma série de moedas numa máquina caça níqueis usando um botão do seu fato, deixando estupefacto o jogador, que aí ia enfiando moedas), mas a credibilidade da história sai comprometida.
Ou a habitual contestação à autoridade, quando Harpo consegue prender na gaiola dos cães o polícia, que o queria prender quando ele estava a provocar um engarrafamento com a sua camioneta de apanhador de caninos abandonados.
Poucos argumentos para justificarem o interesse de tais filmes...


Marx Brothers Horse Feathers Trailer

domingo, maio 29, 2011

Un long dimanche de fiançailles

Filme: «Um longo domingo de noivado» de Jean Pierre Jeunet

Mathilde e Manech amam-se desde crianças. Mas, em 1917, ele é chamado para a frente de batalha no Somme, quando ainda não tem vinte anos. Aí acabando por morrer.
Três anos depois, Mathilde continua a contestar a versão oficial, porque se fosse verdade «ela saberia».
Eis o tema de «Longo Domingo de Noivado», filme de Jean-Pierre Jeunet, baseado num romance de Sebastien Japrisot e com Audrey tautou no papel principal. Ela á e rapariga teimosa, decidida a reencontrar o grande amor da sua vida, nem que, para tal, acumule desilusões e incertezas. O tema é o de um amor absoluto sacrificado aos interesses bárbaros com que nada tem a ver.
A crítica verberou a fotografia tipo cartão postal, mas reconheceu a justeza do contraste entre o inferno das trincheiras e a vida tranquila na Paris da «belle époque».

Mahler- Kindertotenlieder 1

O poeta alemão Friedrich Rückert foi o autor de um ciclo de poemas intitulado Kindertotengedichte e dedicados à morte de dois dos seus seis filhos.

Mahler, que perdera seis dos seus onze irmãos e irmãs, todos muito jovens, musicou cinco desses poemas e intitulou-os «Às Crianças Mortas».


Documentário: «O Poder do Riso» de Luso Graham

Para mim  não passa de algo de pitoresco, que justifica a frase de um antigo professor para quem se encontraria sempre gente disposta a tudo. Neste caso até para crer na possibilidade de considerar como medicamento do século o riso.
O autor dessa teoria é o médico generalista indiano Madan Kataria para quem rir e alimentar-se devidamente se equivalem em importância. Tanto mais que atribui ao stress 70% das doenças potenciais do nosso corpo.
O documentário «O Poder do Riso» do britânico Ludo Graham articula os depoimentos colhidos em Bombaim com os de médicos ocidentais dispostos a corroborar essa teoria. Tanto mais que estudos norte-americanos revelam a diferença entre crianças e adultos: as primeiras riem, em média, quatrocentas vezes por dia, enquanto os segundos não vão além de quinze.
Radicará aí a razão porque outros estudos começam a demonstrar a resposta positiva dos sistemas imunitários de quem se sujeita a uma terapia de riso, que ainda não chega ao que ocorre em Bombaim, aonde, todas as manhãs, dezenas de pessoas se congregam num parque público para, em conjunto, emitirem umas sonoras gargalhadas.

quinta-feira, maio 26, 2011

Michael Moore's 'Capitalism: A Love Story' - Wal-Mart 'Dead Peasants' Scene

TRAILER: Michael Moore's 'Capitalism: A Love Story' - Now On DVD

Filme: CAPITALISMO: UMA HISTÓRIA DE AMOR de Michael Moore

O distanciamento histórico já permite situar a transição de um capitalismo relativamente decente, preocupado com o bem estar de todos os que nele participavam para a forma odiosamente vampiresca, que está na origem da actual crise global.
Aconteceu com a imposição de Ronald Reagan na Casa Branca como testa-de-ferro dos interesses de Wall Street, responsáveis pela sua mistificadora promoção. O capital financeiro procedia, então, a um verdadeiro golpe de estado.
Desde então os norte-americanos foram bombardeados com mensagens publicitárias, que diabolizaram os indicatos e os convenceram da bondade do sistema de empréstimos bancários inesgotáveis. Até acordarem num terrível pesadelo em que já não possuíam nem emprego, nem casa, nem qualquer apoio social digno desse nome.
O que está a suceder na América com os ricos a pagarem cada vez menos impostos, a banca desregulamentada a inventar produtos virtuais sem qualquer suporte na economia real e zonas inteiras convertidas em cenários de Terceiro Mundo, constitui o retrato  fiel de um capitalismo imoral contra o qual se começam a levantar as camadas mais conscientes da população. Às quais a própria Igreja Católica não nega apoios, porquanto todos os fundamentos morais em que se fundamenta são amplamente violados por essa verdadeira conspiração anti-democrática.
Michael Moore prossegue a sua odisseia contra esse estado de coisas até nos conseguindo convencer de elas se começarem a alterar neste país aonde a palavra socialismo é usada como um insulto e a regra de cada um por si vale como factor identitário.
É que, sendo imensa em tamanho, a América está a tornar-se cada vez mais minúscula para o sonhos de 95% dos seus cidadãos, sujeitos a uma qualidade de vida deplorável.

Trailer "La ciudad de los Muertos"

terça-feira, maio 24, 2011

Conto: STEPHEN KING, RIDING THE BULLET

Estudante na Universidade de Maine, Alan Parker precisa de regressar o mais rapidamente possível à cidade natal (Lewiston), porque recebeu um telefonema de uma vizinha a contar-lhe do enfarte da mãe e do seu internamento nas urgências do hospital.
O problema é que tem o carro na oficina e uma distância de cento e vinte quilómetros por vencer. A única alternativa será a de se pôr à boleia, quando a tarde está a cair.
O primeiro carro a parar cheira imenso a urina e é conduzido por um velho de aspecto grotesco, que passa o tempo a mexer na zona do sexo.
Quando consegue desempecilhar-se de tal boleia, e porque nenhum carro parece disposto a parar, Alan vai andando a pé até junto a um cemitério, aonde vê a cova recente de um jovem, George Staub, cujo epitáfio deixa pressupor ter perdido a vida ao volante.
É esse mesmo George Staub, quem lhe aparece daí a pouco na estrada a dar-lhe boleia. Aterrorizado, Alan vê nitidamente os pontos aonde a cabeça decepada tinha sido ligada novamente ao tronco, mas tem de ir participando nas conversas para aonde o outro o vai conduzindo. E que evocam passeios infantis à Feira de Laconia, aonde a grande atracção era o Bólide.
Quando já se vêem as luzes de Lewiston, Alan é confrontado com uma espécie de escolha de Sofia: o condutor é o enviado da Morte e confronta-o com a opção de ser ele ou a mãe a prosseguirem aquela viagem.
Trata-se de um dilema moral, que Alan terá segundos para resolver. Se decidisse por si toda a expectativa de uma vida longa, ficaria gorada. Se escolhesse a mãe, viveria sempre com a má consciência de lhe ter precipitado a morte, mesmo sabendo-a na curva descendente para ela.
Contrafeito é essa segunda alternativa a que assume!
E aqui Stephen King demonstra a sua notável mestria: qualquer escritor convencional levaria Alan ao quarto da doente e daria com ela acabada de morrer. Ou, então, no seu derradeiro estertor, para acentuar o dramatismo da história.
Mas, pelo contrário, ela está bem, já em vias de recuperação. E é o próprio personagem quem acaba por colocar a questão de ter vivido ou não esse encontro, já que despertara junto ao cemitério e fora num outro carro, que chegara, de facto, à cidade. No entanto, o pin da Feira de Laconia, que George Staub lhe dera durante a conversa entre os dois estava ali bem presente na sua mão...
Os anos passam. Ele forma-se, arranja um emprego simpático e a mãe continua a fumar desalmadamente.
Um dia perde o pin e não estranha receber um telefonema: a mãe acabara de ter um novo enfarte. Dessa vez, fatal.
Alan também não estranha encontrar o amuleto debaixo da cama dela, mas sabe que não deverá atribuir grande importância ao assunto.
No fundo, George Staub nunca lhe dissera, quando é que, efectivamente, a viria buscar. E ele ainda teria tanta vida pela frente…
Resta acrescentar outra curiosidade relacionada com este conto: publicado em 2000 na internet, foi, na altura, uma experiência nova de King: testar novas formas de divulgação dos seus trabalhos.  Ele não deixaria, um par de anos depois, de a republicar, então na versão tradicional em papel...

domingo, maio 22, 2011

CRAZY HEART - Official Trailer

Filme: CRAZY HEART de Scott Cooper (2009)

A história já está contada e recontada, tendo um inevitável sabor a requentado: um artista de country já em fim de carreira, com o alcoolismo a projectá-lo para uma inevitável auto-destruição.
Aqui a novidade não é propriamente uma redenção por efeito do amor, mesmo que perdido, mas a interpretação de Jeff Bridges, que comprova a regra de ser actor capaz de tornar interessante o mais obscuro projecto cinematográfico com que se compromete.  Eventualmente outros motivos de interesse radicarão em Colin Farrell a cantar este género de música ou o velho Robert Duvall a lembrar que ele próprio já protagonizara um projecto similar.
Quando o filme começa Bad Blake já está no fundo do poço: completamente dependente do álcool está falido e condenado a cantar em espeluncas no meio de nenhures.
E, no entanto, ele estivera na ribalta, quando compusera temas conhecidos por toda a América. Fora o tempo em que ensinara a grande vedeta de agora, Tony Sweet, a tocar guitarra.
Tudo irá mudar para ele em Santa Fé aonde acede a dar uma entrevista à sobrinha do pianista, que lhe serve de acompanhante nos dois concertos, que aí realizará.
Jean Craddock já teve a sua dose de fracassos amorosos, dos quais sobrara um filho de quatro anos, que adora. Ora, Bad também tivera um filho, cujo paradeiro desconhece, e que tinha precisamente essa idade quando o deixara de ver, duas dúzias de anos atrás.
Embora procure evitar nova desilusão a jornalista acabará, inevitavelmente, na cama do cantor. Sobretudo, porque ele lhe afirma não saber a razão porque lhe apetece pedir desculpa por ser muito menos interessante do que ela o terá imaginado.
Essa novidade na sua vida põe-no a compor novas canções, que Tommy Sweet lhe garante comprar por bom dinheiro, mesmo se as bebidas o continuem a atrair como poderosos imãs.
Quando tem um acidente com a sua velha carrinha e fica com o tornozelo partido é em casa de Jean, que irá recuperar, tornando-se cada vez mais cúmplice de Buddy, o filho dela, que o adopta como o pai de substituição.
Mas a relação tende a arrefecer quando, já capaz de andar, mesmo coxeando, ele regressa a Houston, aonde prossegue a criação de novos temas. Entra-se então num limbo em que existe alguma recuperação criativa no intervalo entre grandes bebedeiras.
O lado dramático do filme atinge o seu clímax, quando Jean vem visitá-lo a Houston e  ele passeia com Buddy num parque de diversões, perdendo-o, quando decide parar para beber um copo num bar.
Muitas horas depois, quando o miúdo aparece, Jean nem sequer o deixa desculpar-se, regressando de imediato a Santa Fé.
É essa perda irremediável, que o convence a uma cura de desintoxicação numa clínica cujos custos são suportados por Tommy.
Numa elipse, o filme passa para dezasseis meses depois, quando o cantor da moda tem grande sucesso com os novos temas por ele compostos e Jean lhe surge ao serviço de um jornal de maior dimensão do que o anterior. E com um anel de noivado no dedo, a privá-lo das derradeiras ilusões quanto á possibilidade de a vir a recuperar.
Esta síntese dá para compreender a banalidade do argumento, que reproduz o estilo xaroposo do género de música, que lhe serve de banda sonora. Mas, para além de Bridges ou de Farrell, o realizador mostra a América dos grandes espaços, das nuvens brancas recortadas no azul límpido dos céus e das estradas a perder de vista.
Mesmo que facilmente olvidável, «Crazy Heart» acabou por ser um entretenimento agradável para um domingo à tarde.

domingo, maio 15, 2011

Vienna Philharmonic Orchestra, 2010, Georges Prêtre, Blue Danube

Documentário: GEORGES PRÊTRE, L’URGENCE DE LA MUSIQUE de Claire Alby

Um maestro dos mais ilustres de quantos ainda estão em actividade. E com uma história gloriosa atrás de si, desde que deixou a sua França natal para se afirmar nas orquestras alemãs e, sobretudo austríacas. Sobretudo desde que Karajan o contrata em 1964 para dirigir o «Fausto» de Gounod.
Mas o documentário também não esquece as épocas com as orquestras norte-americanas, parisienses e do Scala de Milão. Que não lhe inibiram essa adesão quase atávica com a música vienense…
Por isso mesmo os melómanos recordam-no facilmente em muitos concertos de Ano Novo à frente da prestigiada Sinfónica de Viena.
As câmaras acompanham-no em diversos espectáculos e ensaios, quando tem 83 anos e ainda exibe uma vivacidade, que muitos dos instrumentistas têm dificuldade em acompanhar. Sem prescindir, igualmente, de muito material de arquivo, de entre o qual avultam os célebres espectáculos a acompanhar Maria Callas na época do seu maior esplendor vocal.
De início ele estudou instrumentos de sopro no Conservatório de Paris durante a Ocupação nazi. E esse é um dos aspectos em que o documentário se torna omisso: aparentemente empenhado com a grande música erudita, que pensou e pensa o maestro dos acontecimentos testemunhados ao longo da sua carreira? Jamais o saberemos...

terça-feira, maio 10, 2011

Documentário: CHRISTOPHER PAUL, «LE DRAKKAR ET LA CROIX»

Neste documentário de 2010 o que está em causa é o escrutínio das razões, que terão levado os vikings a trocarem a sua riquíssima mitologia povoada por deuses tão singulares como o eram Odin, Thor ou Freyda, pela sonsice cristã.
O primeiro responsável terá sido Olaf Tryggvesson, que pressentiu a importância de relacionar o poder real com a vontade divina, buscando legitimidade acrescida por essa via. E assim se consolidou enquanto rei norueguês em 995.
Mas também houve a componente comercial: é que, para além das pilhagens de toda a Europa, começando nas ilhas britânicas e nos reinos francos e germânicos e terminando em Constantinopla, sem esquecer a Península Ibérica, os vikings dedicavam-se intensamente ao comércio. E foi do convívio com os mercadores cristãos, que se incrustou neles essa nova forma de encarar a transcendência.
Mas não devemos ignorar o facto de a História reter destes povos esse seu lado mais guerreiro, aquele que suscitou tão justificados receios nas populações europeias da época milenar. Até porque essa regularidade com que saíam todos os Verões para atacar e espoliar os aldeãos continentais ou britânicos perdurou por três séculos...
Num filme com belíssima fotografia, a utilizar as melhores facetas da Escandinávia, enaltece-se a destreza e velocidade dos drakkars com que eles sulcavam os mares, a sua crueldade para com os vencidos (frequentemente sacrificados em rituais sanguinários), mas também o seu carácter bon vivant e as preocupações com a sua higiene.
Wagner criou o seu célebre ciclo do Anel dos Nibelungos em função dos antigos deuses do panteão nórdico. E não deixou de suscitar uma certa nostalgia em torno do tempo anterior ao crepúsculo desses mesmos deuses… Como se essa normalização suscitada pelo cristianismo tivesse espoliado os vikings do seu lado mais romântico...

segunda-feira, maio 09, 2011

MIDNIGHT IN PARIS (2011) - Woody Allen - Official Movie Trailer - HD 1080p

Filme: WOODY ALLEN, «MEIA NOITE EM PARIS»


Está quase a ser estreado em Cannes o 42º filme assinado por Woody Allen, que tem a curiosidade de contar com Carla Bruni num pequeno papel.
O tema é o de sempre: a nostalgia do passado, a trsiteza do tempo que passa, o humor nos diálogos.
Owen Wilson é o norte-americano, que lamenta não ter vivido numa Paris mítica. Ao visitá-la apaixonar-se-á pela personagem interpretada por Marion Cotillard. E decide ficar…
Aos 75 anos, Woody Allen limita-se a apresentar mais do mesmo...

domingo, maio 08, 2011

Rudyard Kipling's The Man Who Would Be King (1975) Trailer

LA ZONE (trailer) / Tchernobyl

Filme: JOHN HUSTON, «O HOMEM QUE QUERIA SER REI»

Se há tema frequente nos filmes de John Huston é o de encararmos com personagens, que se aproximam tanto da utopia, que ficam deslumbrados e deitam tudo a perder. Foi assim com o Tesouro da Serra Madre. Repetiu-se, quase por igual, com O Homem que Queria Ser Rei. Que é uma grande história de Rudyard Kipling que, antes de morrer, o realizador quis traduzir em filme.
Tudo começa quando, uma noite, aparece ao escritor um maltrapilho meio deformado, que se apresenta como sendo Peachy Carnehan (Michael Caine), um garboso ex-soldado da Coroa, que conhecera três anos antes.
Na altura, esse Peachy e o seu sócio, Danny Dravot (Sean Connery), tinham decidido partir à conquista do Kafiristão, território quase desconhecido nas encostas da cordilheira Himalaia, que só os exércitos de Alexandre, o Grande, tinham conseguido conquistar.
Financiando-se com uma trapaça cometida contra o Rajá de Dogumber, os dois homens partem nas suas mulas carregadas de armas, cientes de que «se um grego conseguiu, nós também conseguimos».
Depois de ultrapassarem o desfiladeiro de Khyber, autêntica fronteira do Império, os dois amigos enfrentam bandidos afegãos, neves, rios tumultuosos até chegarem a Er Heb, aonde ajudam as mulheres que lavavam roupa no rio a livrarem-se de assaltantes de outra aldeia, e aonde conhecem o gurka Billy Fish, único sobrevivente de uma expedição de geógrafos de que nunca mais se ouvira falar.
Treinando os anfitriões, Danny e Peachy conseguem, acolitados pelo fiel Billy Fish, formar um exército, que não tarda a acumular vitórias por toda a região. Até que são os próprios aldeãos a identificarem Danny com Sikander, o deus que tinham passado a venerar desde a sua passagem por ali e que não era mais do que o antigo rei macedónio.
Chamados à cidade santa de Sikanderkul, os dois homens sobrevivem devido à forma como Danny vê confirmada a sua natureza divina: o colar maçónico, que traz ao peito e cujo símbolo é o mesmo ali venerado naquela réplica da Acrópole.
Considerado legítimo dono de um valiosíssimo tesouro, Danny já só pensa em voltar com Peachy e com Billy para a civilização, carregado de tal pecúlio, mas terá de esperar quatro meses pela época mais favorável. Ora esse compasso de espera será suficiente para se lhe toldar a mente e ele decidir ficar enquanto rei de toda aquelas aldeias casando com a bela Roxane, uma rapariga que conhecera numa das tribos e cujo nome era o mesmo do de uma das mulheres com quem Alexandre contraíra casamento naquela região.
O pior está então para acontecer: Peechy ainda espera pela cerimónia do casamento para regressar às terras de colonização inglesa com a sua parte do esbulho. Mas a recatada Roxanne teme que se cumpra a regra de ser instantaneamente carbonizada qualquer mulher com quem um deus se procure consorciar. E morde o rosto de Danny que, ao sangrar, revela a sua condição mortal.
Os sacerdotes de Sikanderkul compreendem, então, que Danny não é nenhum descendente de Alexandre. mas sim um trapaceiro disposto a enganá-los. O resultado revela-se trágico: Billy é linchado, Danny atirado de uma ponte para um fundo precipício e Peechy crucificado.
Agora, três anos depois, é este último quem traz a Rudyard Kipling a evidência do seu relato: a caveira coroada do seu amigo…
O filme constitui um excelente exemplo de um cinema de aventuras como já dificilmente se vê actualmente. Sem grandes efeitos especiais, e com actores credíveis nas composições por si interpretadas...

Documentário: GUILLAUME HERBAUT e BRUNO MASI: «LA ZONE»


Tchernobyl é uma cicatriz aberta, há vinte e cinco anos, na superfície da Terra como evidência da loucura humana.
«La Zone» é um documentário rodado nesse território contaminado aonde se sobrevive graças a expedientes na margem da justiça como é o caso do tráfico de metais radioactivos. Ou a deglutição de cogumelos mais do que suspeitos.
As semelhanças com o ambiente de «Stalker», o filme de Tarkovski são óbvias. E a ameaça é a de um inimigo invisível, que a todos ameaça…


Documentário: HEIKO DE GROOT: «SCILLY - Ã ILHA DOS NARCISOS»

Num arquipélago inglês, cujo senhorio é o próprio Principe Carlos, plantam-se narcisos e o filme é rodado  em vésperas da Páscoa, época propícia a uma boa venda.
O dono da plantação era polícia em Londres, antes de se dedicar à floricultura com a família e alguns empregados.
O segredo do negócio é a venda directa aos consumidores, sem intermediários de permeio. Até porque há a contar, cada vez mais, com a concorrência de alguns produtores do Terceiro Mundo.
Um dos colaboradores mais influentes na exploração é o contramestre Keith, que está quase a reformar-se para se dedicar à pesca. Apesar de ver os seus esforços ameaçado pela voracidade das focas, que por ali abundam. Daí que as organizações ambientalistas procurem criar equilíbrios difíceis entre os pescadores e os valores de preservação das espécies…
Paraíso para todos quantos se sentem acossados pelo stress, a vida em Scilly é de uma serena lentidão...

sábado, maio 07, 2011

Conto: STEPHEN KING: «AQUELA SENSAÇÃO, SÓ CONSEGUIMOS DIZER O QUE É EM FRANCÊS»

Este é o exemplo de um conto, que demonstra a versatilidade de Stephen King na abordagem dos seus temas, e de como nele se assumem influências literárias insuspeitas, como é o caso de Albert Camus e do seu existencialismo.
Para cumprirem uma segunda lua-de-mel nas bodas de prata do seu casamento, Bille  Carol saem do seu Massachussets natal e, após um voo em jacto particular, preparam-se para aterrar na Flórida aonde os espera um hotel de charme num local paradisíaco só acessível aos mais endinheirados..
Mas esse estatuto social nem sempre fora o seu: nos primeiros tempos de casamento, quando Bill ainda não conseguira singrar na emergente indústria informática, só encontrara emprego como porteiro num bairro problemático frequentado por muitos toxicómanos e traficantes de droga.
É isso que Carol revê no seu pesadelo, aonde sente sempre a convicção de algo se repetir em relação ao que vai vivendo, mormente a infidelidade de Bill com a sua secretária loura ou a sua decisão em abortar do único filho, que dele chegara a esperar.
Embora o conto não esclareça se é real a probabilidade de uma morte iminente por acidente (no  avião em que se dirigirão ao seu local de férias), o que ele reflecte é a ambiguidade de sentimentos numa mulher ainda capaz de amar o companheiro, mesmo conhecendo-lhe os mais incómodos dos limites, e como nela persistem incrustadas as noções católicas de virtude e de pecado, tal qual lhe tinham sido impostas pela educação religiosa dos seus mais verdes anos...