domingo, março 27, 2016

DIÁRIO DAS IMAGENS EM MOVIMENTO: «Whiplash - Nos Limites» de Damien Chazelle

Há uns anos largos vi um documentário sobre o maestro Sergiu Celibidache, que sempre foi conhecido pelo seu caracter irascível. Muito talentoso, substituiu  Wilhelm Furtwängler na Filarmónica de Berlim em 1945, quando este foi saneado e enviado para um processo de desnazificação. Mas em 1952, fartos de lhe aturarem os reparos, os músicos da orquestra votaram pela sua despromoção para primeiro violino e devolveram o lugar ao regenerado antecessor.
Nas décadas seguintes Celibidache dirigiu várias orquestras europeias e americanas e distinguiu-se, igualmente, como professor. No documentário viam-se algumas cenas em que formava novos maestros e eram confrangedoras aquelas em que humilhava e desqualificava os alunos. Sentia-se ali um temor, que me ficou como o exemplo de estratégia formativa, que nunca teria desejado conhecer.
Lembrei-me dessas imagens ao ver «Whiplash - Nos Limites»: invocando o exemplo de Charlie Parker, que só se converteu em Bird depois de Jo Jones lhe atirar um címbalo por causa da péssima execução, quase lhe cortando o pescoço, o professor Fletcher está decidido a fazer de Andrew um baterista de exceção. Por isso também não prescinde das humilhações, que configuram uma evidente demonstração do que significa o «assédio moral».
Com problemas identitários difíceis de gerir, o rapaz utiliza a ambição de chegar ao topo como forma de catarse para suprir o evidente desprezo com que é visto pela família.
Há quem afiance que o talento é feito de 5% de talento e 95% de trabalho árduo. Mas Fletcher acrescenta-lhe ainda mais um requisito: o de nunca desfocalizar do objetivo principal, mesmo quando tudo tende a dele distrair. É por isso que o filme é tão intenso, contando para tal com o talento do diretor de fotografia para registar os muitos momentos de execução de excelente jazz. E, obviamente, ao trabalho dos atores, que muito merecidamente foram referenciados como dos melhores do cinema norte-americano em 2014.

Sem comentários: