segunda-feira, março 28, 2016

LEITURAS AVULSAS: Adam Johnson, um escritor a conhecer

A entrevista que Isabel Coutinho fez a Adam Johnson a propósito do seu livro «Vida Roubada», que ganhou o Prémio Pulitzer de Ficção - e inserida no «Público» de hoje - veio-me abrir a expectativa quanto a um escritor americano cujo nome nada me dizia até agora. Mas vem também ao encontro da curiosidade, que me faz parar tudo o que estou a fazer quando me surge perante os olhos algum documentário sobre a Coreia do Norte.
Quando andei por aquelas longitudes sempre me espantei com os comportamentos das pessoas comuns chegando-as a associar a verdadeiros alienígenas - e isso mais no Japão do que na China, cujos habitantes me pareceram bem mais próximos das nossas idiossincrasias!
Então que dizer de um povo sujeito durante décadas às contínuas ações de propaganda para assimilarem os valores e os conhecimentos permitidos pelos seus dirigentes?
Eu sei que temos o relato de José Luís Peixoto sobre a experiência de visitante do país de Kim Il Sung, mas do que dele recordo ficou a ideia de nunca ter havido a capacidade para sair de um olhar verdadeiramente exterior e arriscar uma perspetiva vista de dentro.
O que Adam Johnson faz é precisamente isso: porque não está numa lógica de ensaísta, pode ficcionar o que realmente sentem essas pessoas, como amam ou vivem outros tipos de emoções. Será que acreditam realmente em tudo quanto lhes dizem? São as questões que o autor responde depois de um aturado trabalho de investigação.
Haverá também quem diga que contamos com os relatos dos que conseguiram fugir desse universo concentracionário e procurar no sul da península um outro modo de vida. Mas é o próprio Johnson quem alerta para a falta de verosimilhança de muitos desses testemunhos, porquanto eivados dos traumas inerentes a essa desafeição e às dificuldades de integração numa outra realidade.
Desconfio que irei muito em breve travar conhecimento com um dos prováveis sucessores de uns quantos escritores norte-americanos do meu agrado que, ou deixaram de escrever (Philip Roth), ou que andam a morrer ultimamente (Salter, Morrison).

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