segunda-feira, novembro 28, 2011

O Turista | Trailer Legendado

Filme: O TURISTA de Florian Henckel von Donnersmarck

Ao estrear-se nos cinemas, esta remake de um filme francês com Sophie Marceau e Yvan Attal esteve longe de entusiasmar a crítica e percebe-se porquê. Mesmo contando com a beleza de Angelina Jolie e o carisma de Johnny Depp, cedo se desenha a solução de uma intriga policial, que se divide entre Paris e Veneza, o que significa o recurso acrescido ao lado glamouroso de ambas as cidades.
Mas um filme destes vive da capacidade de surpreender, e cedo se compreende que o professor de matemática Frank Tupelo pode ser Alexander Pearce, o antigo namorado de Elise Clifton-Ward, que terá recorrido à cirurgia estética para alterar completamente de fisionomia, forma prática de escapar à tenaz perseguição movida pela polícia fiscal inglesa ou pelo gangster a quem espoliara de muitos milhões.
Para encher película cria-se o dilema de Elise se apaixonar pelo desajeitado professor sem esquecer a paixão anterior, sem conseguir fundi-las no mesmo objecto amoroso e um conjunto de cenas de acção pelos canais, ruelas e telhados de Veneza com o desenlace final a propiciar a confirmação das nossas precoces suspeitas.
Trata-se, pois, de um entretenimento puro, facilmente olvidável. Serviu para descontrair das preocupações com a troika, mas nada acrescentou de perdurável à nossa condição de esforçados cinéfilos.

sábado, novembro 19, 2011

Documentário: O MISTÉRIO DO PÁSSARO BRANCO de Louis Pascal Couvelaire (2010)

Quando se abordam as grandes aventuras da aviação mundial, ouvimos tecerem-se loas a Charles Lindbergh, mas raramente se ouve falar de Charles Nungesser, um pioneiro francês, que esteve quase a conseguir antecipar-se àquele na travessia entre Paris e Nova Iorque.
E, no entanto, esse Nungesser era uma personalidade bastante mais interessante do que esse norte-americano, que viria a revelar comprometedoras simpatias pelo regime de Hitler e por todo o tipo de regimes autoritários…
Ele chegara à aviação na época em que, aluno deplorável, vira naquela aventura um modo de vida.
Era o tempo em que a coragem dos primeiros aviadores era bem mais relevante do que os seus conhecimentos técnicos.
A sua ousadia fora depois testada na Grande Guerra Mundial de 1914-18, aonde se notabilizara nos primeiros combates aéreos e, depois, nas exibições de destreza nos céus americanos aonde replicava as batalhas ocorridas nos céus europeus. Espectáculos, que lhe tinham valido o casamento com uma rica herdeira fascinada pela sua imagem heróica, mas a quem jamais pediria o dinheiro, que o aliviasse da sua sempiterna pelintrice. Mesmo contando com a sua efémera carreira de galã do cinema mudo.
Em Maio de 1927, quando acompanhado de Coli, avança para a grande aventura, sentia-se completamente falido e aquela aventura constituía uma espécie de última oportunidade para sair da cepa torta.  Tanto mais que estava em jogo uma recompensa valiosa para quem perfizesse a primeira travessia transoceânica sem escala. Mas, mesmo tendo porventura chegado ao continente americano, ele acaba por representar o paradigma romântico de quem andou  a perseguir um sonho demasiado grande para as suas possibilidades… sem ser bem sucedido.

quarta-feira, novembro 16, 2011

Documentário: CADERNOS DO BRASIL de Luís Miranda

A colonização do Brasil desapossou os índios, que aí viviam, das suas terras, cultura, língua e memória.
A chegada da frota de treze barcos de Pedro Álvares Cabral em 22 de Abril de 1500 é o corolário lógico do Tratado das Tordesilhas, assinado seis anos antes entre os monarcas português e castelhano, e que atribuía tais terras ao primeiro.
A primeira reacção dos portugueses aos índios pataxós, com que começam por contactar, é a de surpresa. Na sua crónica de achamento do Brasil, Pêro Vaz de Caminha evidencia o espanto de quem se confronta com uma nudez perfeitamente natural, como se aquela gente nunca tivesse passado pela experiência bíblica do pecado original.
No entanto, quando Américo Vespúcio aí volta, três anos depois, a visão encantada dá lugar à de uma veemente crítica à sua suposta selvajaria assente em actos antropófagos. Que justificaria assim a sanha evangelizadora, traduzida na chegada em força dos missionários jesuítas, que abririam caminho aos aventureiros sem escrúpulos aí dispostos a explorarem as riquezas prometidas, a começar pelo tal pau-brasil, razão de ser do nome dado ao território.
Depois do entusiasmo inicial, os jesuítas, a começar por Manuel da Nóbrega, deparam-se com matreiras resistências culturais dos supostos selvagens, que os colonizadores pretendiam escravizar.
É para acelerar a conversão religiosa dos índios e a divulgação dos Evangelhos, que Anchieta procura criar uma língua geral nativa, baseada nos seus diversos dialectos, estruturados depois numa gramática latinizada.
Em 1600 os índios ter-se-ão quase por completo escapulido do litoral, embrenhando-se para o interior e, um século depois, dos quatro milhões existentes em 1500, esses nativos estavam reduzidos a metade. Mesmo considerando que os portugueses eram então apenas trinta mil…
No século XIX, os portugueses vão derrotando as diversas tribos e forçando-as a regressar para pequenas reservas no litoral (Prado, Porto Seguro).
É só nos últimos anos, com a introdução das línguas ameríndias nas escolas, que muitas delas, que foram sobrevivendo na clandestinidade, voltam a surgir à luz do dia. Mas para esses povos a recuperação da sua identidade já é manifestamente tardia: hoje apenas se cingem a 0,2% do total da população brasileira…
O documentário de produção francesa, mas realizado por um brasileiro, não é particularmente negativo para o papel dos portugueses. Mais do que os aventureiros em si, quem mais terá contribuído para o genocídio cultural das populações índias terão sido os missionários apostados em convertê-las à força...


terça-feira, novembro 15, 2011

DO THE RIGHT THING - Trailer - HQ

Filme: DO THE RIGHT THING de Spike Lee (1989)

Quando saíram juntos pela primeira vez, Barack e Michelle Obama foram ver este filme de Spike Lee que já estava a ser considerado como extremamente controverso porque, cuidando da violência racial, possibilitava interpretações equívocas, que o davam como estimulador de motins contra a propriedade e contra a autoridade.
A acção passa-se num bairro negro de Brooklyn, aonde a pizzaria de Salvatore e a loja de bebidas de uma família coreana figuram como excrescências anacrónicas. No entanto, estabelecido ali há um quarto de século, o dono do restaurante não aceita as críticas do filho mais velho, que desejaria ver-se liberto daquele espaço tido por ele como doentio. Pelo contrário, Sal manifesta o prazer, que lhe dá a visão de gerações de jovens do bairro a sucederem-se como seus clientes.
Mas o calor intenso desse dia estival irá precipitar a tragédia para a qual nem sequer falta o coro grego representado por três velhos sentados a uma esquina donde vão comentando os acontecimentos a que assistem. E eles são de tensão em crescendo entre as diversas comunidades, porquanto porto-riquenhos e negros competem pelo volume de som das suas respectivas músicas (salsa ou rap), os italianos vêem o seu negócio sujeito a boicote (é o caso de Sal por só ter afixados os rostos de actores brancos nas paredes do seu restaurante) ou um descapotável inundado pela água de uma das colunas do sistema de incêndios da rua, sem esquecer os coreanos, igualmente objecto de críticas xenófobas dos vizinhos.
Quando a noite começa a temperar o ambiente, é quando ocorre o clímax, surgido de um pequeno incidente, gerador de uma catadupa de consequências. Que deixam o restaurante de Sal em cinzas e um dos negros do bairro estrangulado pela polícia, para além dos que acabam presos.
Trata-se de uma violência cega e estúpida, porque só desaproveita a quem a cria e desenvolve. No final todos perdem, a começar por esse Mookie, interpretado pelo próprio Spike Lee, condenado ao desemprego depois de ele próprio ter ajudado a atear o incêndio com o gesto de partir a montra do restaurante onde trabalhava. Buggin 'Out
As legendas finais com citações de Martin Luther King e Malcolm X tendem a alertar para as consequências da violência cega e da importância de agir inteligentemente em cada circunstância.

segunda-feira, novembro 14, 2011

Filme: EINSTEIN E EDDINGTON de Philip Martin

Ilha do Príncipe em 1919: uma equipa científica liderada pelo britânico Arthur Eddington está a tentar colher imagens do eclipse do Sol.
Cinco anos antes ele fora nomeado para o Observatório de Cambridge, apesar da desconfiança suscitada à sua volta pelo pacifismo inerente à sua condição de quaker.
Por essa altura, Einstein é desafiado por Max Planck para abandonar a Suíça e voltar a instalar-se na capital alemã, aonde lhe serão oferecidas óptimas condições para estudar a gravidade, demonstrando o erro inerente às conclusões de Isaac Newton.
Não tarda que Eddington encontre num obscuro trabalho de Einstein a resposta para um dos mistérios, que o obcecam:  o desvio da órbita de Mercúrio.
A Guerra irá dificultar o diálogo epistolar entre os dois cientistas, que se sentem alheios aos motivos belicistas dos seus financiadores. O que lhes vale o ostracismo a que se sentem sujeitos… sobretudo, quando quinze mil jovens ingleses (incluindo o jovem tenente, por quem Eddington se sentia apaixonado) morrem gaseados em Ypres.
Revoltado com o comprometimento da universidade naquele crime, Einstein reage de forma intempestiva, que o condenam ao desemprego. Mas é nessa mesma altura, que descobre a tese fundamental da sua Teoria da Relatividade: o espaço tem forma e a gravidade explica o desvio das luzes das estrelas.
A razão da expedição de Eddington à Ilha do Príncipe é, precisamente, a de confirmar ou desmentir a tese do seu colega alemão… pondo de lado os seus próprios preconceitos religiosos.
Um ano depois, Eddington recebe Einstein em Cambridge, já na qualidade de principal defensor de uma teoria, que comprovara verdadeira pelo crivo da experiência.
Se cinematograficamente pouco há a dizer des ta obra escorreita reconheça-se nela a capacidade para divulgar com eficiência uma das etapas mais brilhantes da ciência do século XX:

domingo, novembro 13, 2011

Documentário: OS COMBATENTES DA SOMBRA (6) de Bernard George

Em Agosto de 1944 o Exército Vermelho está quase a entrar em Varsóvia com um governo trazido de Moscovo e pronto a entrar em funções. Os resistentes do interior procuram evitá-lo e revoltam-se contra os alemães combatendo-os durante sessenta e três dias.
Na outra margem do Vístula os russos aguardam pelo desenlace dessa batalha, que acaba momentaneamente vitoriosa para os alemães. Será nessa altura que o Exército Vermelho voltará a prosseguir no seu avanço, já com Churchill a abandonar o apoio ao governo polaco no exílio londrino.
Na Grécia é o contrário: o governo, maioritariamente comunista, acabará derrotado pelos britânicos acabados de aterrar na Acrópole e recebidos como libertadores, porque na divisão de zonas de influência negociado entre Churchill e Estaline, com a complacência de Roosevelt, esse berço da civilização ficaria na órbita ocidental. Embora os gregos tivessem um profundo desprezo pelo Rei, vêem-no imposto á força enquanto se massacravam e perseguiam os comunistas.
Também em França os resistentes do interior aumentam a pressão insurreccional contra os nazis. A capitulação alemã acaba por acontecer a 25 de Agosto, quando a divisão Leclerc, enviada por De Gaulle com o acordo americano, vem dar-lhes apoio.
Por seu lado, na Holanda, esse terrível inverno entre 1944 e 1945 - o da Grande Fome - culmina na derrota alemã em 5 de Maio, não sem nos dias anteriores, centenas de resistentes serem fuzilados nas dunas junto ao mar.
A etapa final da Segunda Guerra foi, pois, marcada por uma actividade frenética da Resistência nos diversos países.
Mas, se do ponto de vista militar se poderá reconhecer que os Aliados ganhariam sempre a guerra sem essa intervenção clandestina, na perspectiva política demonstrava-se o anseio das populações civis em construírem uma Europa das liberdades e da possibilidade de um mundo bem diferente.

sexta-feira, novembro 11, 2011

Bande annonce : Lourdes

Filme: LOURDES de Jessica Hausner (2009)

Não seria filme por que tivesse grande interesse não fosse o caso de ser interpretado por Sylvie Testud, que considero ser uma das mais interessantes actrizes francesas actuais. E, afinal, mesmo apesar do meu ateísmo arreigado não dei por mal empregado a hora e três quartos investida a ver o filme.
A história conta-se em poucas palavras: uma mulher ainda jovem, vitimada pela esclerose múltipla, não consegue dominar qualquer movimento, dependendo dos outros, quer para comer, quer para se movimentar na cadeira de rodas, quer para se deitar.
Durante uma peregrinação a Lourdes ela reencontra um elemento da Ordem de Malta, que já apoiara um grupo em que se integrara durante uma visita cultural a Roma. E sente reavivar em si o interesse afectivo por ele. Com tal determinação que, seja por remissão provisória da doença, seja por qualquer efeito miraculoso relacionado com o espírito do lugar, ela consegue retomar os movimentos e andar com o auxílio de uma bengala.
Durante um dia o seu caso torna-se num acontecimento na cidade de Bernadette: há quem considere injusta a sua condição de miraculada tendo em conta a pouca convicção da sua fé, há quem se renda ao fenómeno como confirmação da força divina. Ainda assim, os médicos do gabinete encarregado do reconhecimento dos milagres, alertam para a probabilidade reduzida do sucesso. E, de facto, é isso que acontece: depois de consagrada como peregrina do ano e de dançar momentaneamente nos braços do seu amado, ela volta a cair e a conformar-se com o retorno à cadeira de rodas.
Comenta então uma das companheiras de peregrinação: «Se Deus a salvou e depois a condenou, isso é uma imensa crueldade!». Ao que outra comenta: «Se a salvação não vem d’ Ele, de quem virá?»
E essa é a maior virtude do filme: num tema muito delicado, conseguir um equilíbrio bastante para que crentes e não crentes encontrem ali um discurso identitário.
O que não é virtude de somenos!

domingo, novembro 06, 2011

FLIEGER ÜBER AMAZONIEN Trailer

Documentário: PILOTOS NO AMAZONAS de Herbert Brödl (2009)

É a história de Nilton e de Fernando, dois pilotos aviadores, que trabalham nos céus da Amazónia, mas trata-se, igualmente, de um convite ao espectador para uma viagem eivada de poesia.
Nilton é um antigo seminarista, normalmente vestido com uma farda impecável e disposto a tudo transportar: anjos em gesso, legumes, feridos, mortos, etc. No início ele servira de copiloto a Juarez, com quem tudo aprendeu. Mas, um dia, esse amigo enlouquecera, estando internado num manicómio desde que se mostrara disposto a fazer milagres com o sexo pelas ruas de Manaus. Essa cidade cujos habitantes, em maioria, nada esperam de bom do futuro.
Fernando tem um aspecto mais irreverente, vestindo-se sempre informalmente e andando quase sempre descalço e, porque adora água, o seu aparelho é um hidroavião. O tio, seu confessado modelo, chegara a traficar cocaína até ser apanhado e preso. Mais adiante, o sobrinho voltará a visitá-lo na mina no meio de nenhures, aonde continua a perseguir sonhos de riqueza.
O filme desenvolve-se, pois, com imagens dos pilotos no seu quotidiano, quer com os clientes a bordo, quer pelas ruas de Manaus, e com as respectivas vozes off a revelarem as suas memórias e aspirações. E, sucedem-se as exuberantes imagens da floresta e dos rios, que a rasgam.
As nuvens empilham-se nos céus numa beleza infinita, que sobrevoa lugares jamais pisados por pés humanos.
Os dois homens só se encontram no final, quando contam quando haviam trabalhado juntos e se tinham começado por antipatizar mutuamente. Mas, um dia, um grupo de delinquentes quisera sequestrar o aparelho, que tripulavam, e eles tinham-nos dominado e morto.
Desde então forjara-se a amizade inerente a essa experiência partilhada.
Na cena final os dois aviões deslocam-se em formação no ar, desaparecendo depois do ecrã, um para cada um dos seus lados.

TEDxUIUC - Daniel Simons - Seeing The World As It Isn't

Livro: O MAIOR ESPECTÁCULO DO MUNDO (1) de Richard Dawkins

A leitura da obra escrita por Richard Dawkins para o ano da celebração do 150º aniversário da publicação de «A Origem das Espécies» de Darwin, constitui uma estimulante oportunidade para acumular os argumentos, já bem sólidos, a favor do evolucionismo e contra as tentações retrógradas de quem defende o criacionismo.
O primeiro capítulo - Só uma teoria? - serve para  equacionar até que ponto estamos perante uma teoria, quase tão incontestável, quanto o são os teoremas matemáticos (merecendo assim a designação de «theorum») ou de uma mera especulação a ser colocada em pé de igualdade com qualquer outra explicação para tudo quanto vemos. E, obviamente, Dawkins considera o darwinismo um «facto» inquestionável, fundamentado em deduções científicas com pertinência de axiomas, e reiterado por infinitas demonstrações do dia-a-dia.
Por isso os criacionistas são comparados aos que, ainda hoje, negam o Holocausto considerando-o uma das estratégias da conspiração sionista. Apesar de tudo quanto se possa argumentar a nível de provas para comprovar o terrível crime nazi.
Mas, se eles negam a evidência evolucionista, argumentam com mistificações semelhantes ao que fazem os prestidigitadores, hábeis em distraírem a atenção dos seus espectadores para os iludirem com as conclusões pretendidas para os seus truques.
E Dawkins cita aqui um exemplo eloquente a nível da psicologia, que foi a experiência conduzida por Daniel Simons na Universidade do Illinois: colocando diversos espectadores a ver um filme com alguns jovens a trocarem entre si duas bolas de basquete e a quem se pede para contarem quantos passes ocorrem nesses vinte e cinco segundos, quase nenhum consegue ver o homem vestido de gorila que passa pelo cenário durante nove segundos e bate no peito numa manifestação de arrogância.
Os resultados desse teste são indicadores de como são falíveis os testemunhos oculares. Como o foram os que, durante milénios, levaram a humanidade a acreditar que o Sol era mais pequeno que a Terra, ou que girava em torno desta.
Numa época em que importa combater a ignorância de quem pretende cultivar na estupidez dos crentes a aceitação de relações socioeconómicas injustas, este tipo de leituras corresponde a uma forma de militância progressista de que não deveremos nunca abdicar...


movie Dellamorte Dellamore TRAILER 1

Filme: DELLAMORTE, DELLAMORE de Michele Soavi (1993)

Foi um dos filmes escolhidos para a Noite de Halloween do canal franco-alemão ARTE o que deixava perspectivar alguma qualidade. Até por ter Rupert Everett no papel de protagonista., ainda que a produção a cargo da sociedade de Silvio Berlusconi deixasse, logo no genérico inicial, algumas legítimas dúvidas.
Logo na cena inicial sabemos ao que vamos: Francesco está ao telefone com o seu amigo Franco, quando batem à porta e trata-se de um zombie a quem ele estoira a cabeça com um tiro. Ficamos assim a saber que Francesco é o guarda do cemitério de Buffalora, cidade aonde grassa a estranha epidemia de os mortos saírem das campas depois de serem enterrados, só ficando definitivamente sossegados, quando lhes estoiram com os miolos.
E a ajudar Francesco está o grotesco Gnaghi, que esconde num corpo de obeso adulto numa mentalidade atrasada.
Os problemas de Francesco começam a agudizar-se quando se apaixona pela jovem viúva de um velho, que se sente excitada por se lhe entregar no ossuário (temos aí uma citação directa ao quadro de Magritte sobre os amantes, que se beijam com os rostos cobertos de panos). Mas trata-se de prazer efémero já que o defunto sai da campa e morde mortalmente a adúltera…
Avisadamente, ainda que apaixonado, Francesco estoira-lhe com a cabeça, quando ela lhe surge depois a querer repetir a fornicação.
Por esses dias o cemitério enche-se de corpos de jovens, que morrem num acidente entre um autocarro de escuteiros e seis motociclistas, entre os quais se contava Valentina, a filha do presidente da câmara local, pela qual Gnaghi estava enamorado…
Dias depois, sem Francesco saber, Gnaghi passa a ter na cabeça decepada de Valentina a sua companhia ideal.
O filme prossegue dentro da mesma linha com a dúvida de se saber até que ponto será possível o amor entre os vivos e os mortos, já que novas reencarnações da sua amada surgem a Francesco para o atormentarem.
Quando o seu estado mental se agrava e ele parece cada vez mais condenado a uma forma de loucura homicida, decide partir de Buffalora com o seu colaborador, esperançado em começar um outro tipo de vida longe dali.
Mas, passado um longo túnel à saída da cidade, ele entende que está num espaço circunscrito em que a fuga se torna impossível...
Fica, pois, um filme com algumas pretensões, mas desenvolvido de uma forma que dele mais não faz do que uma curiosidade facilmente esquecível...

sábado, novembro 05, 2011

Documentário. OS COMBATENTES DA SOMBRA (5) 1943 - A Resistência na Tormenta de Bernard George (2011)

Na Primavera de 1943 o Exército alemão passa a estar em situações complicadas em diversas frentes, o que torna ainda mais intensa a repressão a que sujeitam os civis das zonas ocupadas. Sobretudo, quando se intensificam as acções clandestinas das respectivas Resistências…
Na Jugoslávia ocorre uma alteração de fundo por parte das forças aliadas: em vez dos tchechniks realistas, passam a ser as bem organizadas tropas de Tito, quem passam a merecer o apoio de Churchill, que já intuíra tratarem-se de autênticos bandidos os seguidores do rei exilado em Londres.
Ali ao lado, em Itália, o Comité de Libertação Nacional fustiga o ocupante alemão, que sente a aproximação dos exércitos aliados. Quando um atentado mata 33 soldados da Wehrmacht a represália é terrível: por cada um deles são fuzilados dez italianos.
Essa reacção desproporcionada gera grandes debates dentro das Resistências europeias: há quem defenda uma acção clandestina apenas cingida a objectivos de informação a serem transmitidos aos Aliados, poupando assim as represálias sobre as populações civis. Mas os comunistas defendem a continuação dos atentados como forma de aceleração da derrota nazi, o que, a seu ver, pouparia muito mais vidas... 
Se o desembarque da Normandia em 6 de Junho de 1944 e a entrada em Roma, na véspera, tende a prever o fim iminente do regime de Hitler, os últimos meses do seu estertor tornar-se-ão ainda mais terríveis devido ao desespero dos colaboracionistas dos diversos países em vias de serem libertados...

quarta-feira, novembro 02, 2011

Filme: COPACABANA de Marc Fitoussi

De um filme com a Isabelle Huppert espera-se uma qualidade acima da média, capaz de superar as fronteiras do entretenimento mais ou menos idiota. Infelizmente «Copacabana» desmente essa convicção: embora esteja uns furos acima de muitos dos outros filmes de entretenimento destinado a plateias hipnotizadas ao som das pipocas, tem todas as características de uma comediazinha banal, sem imaginação e incapaz de suscitar inquietações sobre temas em que pareceria interessada em tocar - o desemprego de longa duração, a mobilidade, as contradições de valores das gerações dos pais e dos filhos, etc.
Huppert é Babou, que teve um passado errante ao sabor de amores e desamores e sem nunca se conseguir fixar profissionalmente em nenhum projecto duradouro. Agora sem dinheiro e sem emprego, sente-se distante da filha, que a olha com censura por nunca adoptar um comportamento burguesmente responsável.
Uma tentativa para conseguir um emprego numa pastelaria falha por chegar tarde. O que a não impede de quase desfazer a loja à saída.
Não espanta que Esmeralda anuncie o casamento e lhe peça para que não compareça na cerimónia, inventando-se o álibi de estar ela no Brasil. O medo da rapariga é que Babou se revele desastrosa no seu primeiro contacto com os progenitores de Justin.
Sem quaisquer soluções de futuro, Babou deixa Lille para se fixar em Ostende como vendedora de apartamentos em time sharing.
A relação com  Irene, a co-locatária com quem a põem a partilhar um apartamento, é péssima, mas em compensação ela não tarda a arranjar um namorado na pessoa de um estivador e a converter-se numa vendedora de grande sucesso.
O problema é que adopta um casal de jovens sem-abrigo, a quem franqueia as portas do prédio aonde habita insinuando-os num dos apartamentos para venda. E que lhes dá mais atenção do que a Esmeralda, que decidira vir visitá-la num domingo.
Quando tudo lhe parece correr mal - a ruptura com esse efémero namorado, o despedimento acusada de abuso de confiança - Babou vê o realizador garantir um final feliz e tudo lhe vai então correr bem: com a indemnização do despedimento vai ao casino local, ganha uma fortuna, consegue pagar a festa de casamento á filha e embarca em tournée com um grupo de bailarinos de samba, que passa a integrar como cabeça de cartaz…
A inverosimilhança do final é tão óbvia, que o espectador se sente adornado de vistoso barrete na cabeça. Razão para esta primeira desilusão com um título com a conhecida actriz francesa… e com a sua filha na vida real, que faz de Esmeralda!

Documentário: COMBATENTES DA SOMBRA (4) de Bernard George

Em 1943, com as notícias das primeiras derrotas alemãs no norte de África e em Estalinegrado, a Resistência dos vários países ocupados radicaliza-se. Na Holanda, por exemplo, há raparigas da resistência a executarem delatores de judeus, em atentados cometidos de bicicleta.
O endurecimento das condições da Ocupação estimulam os mais timoratos a optarem pela luta armada.
A leste o Exército Vermelho articula-se na perfeição com esses resistentes a quem aprovisiona em armamento apesar de estarem na retaguarda das frentes de combate alemãs.
A sabotagem de comboios, nomeadamente dos que transportavam tropas de reforço aos exércitos alemães eram particularmente frequentes.
A ocidente a Resistência consegue recuperar aviadores cujos aviões tinham sido abatidos e que eram necessários nos seus esquadrões por possuírem uma formação difícil de facultar em tão pouco tempo aos seus potenciais substitutos.
A Resistência vê as adesões crescerem em massa, quando os Alemães recrutam jovens para irem substituir a sua mão-de-obra nas suas fábricas de material de guerra, dado que esses operários tinham, entretanto, sido enviados como soldados para as linhas da frente.
É na Grécia, que a Resistência mais se aproxima da vitória já que os desorientados soldados italianos deixam de saber a quem respeitar. E é assim, que os combatentes clandestinos conseguem um apreciável volume de armamento  recuperado desses antigos inimigos. Muitos dos quais passam a engrossar as suas fileiras.
O atentado mais ousado neste período ocorre em Varsóvia, aonde o tenebroso chefe militar acaba metralhado uma manhã, quando saía de casa para se dirigir ao quartel...

terça-feira, novembro 01, 2011

Documentário: COMBATENTES DA SOMBRA (3) de Bernard George

Em 1942/1943 a Resistência dos diversos países ocupados da Europa é confrontada com a evidência do genocídio. Tornava-se claro que a decisão nazi de destruir o judeu passava por um programa de extermínio, que passaria dos fuzilamentos em grande escala para uma verdadeira industrialização da morte como a concebida e implementada nos campos de concentração.
Um dos sobreviventes dessa época, um lituano, recorda como foi escondido por um amigo com quem trabalhava numa garagem da Bielorrússia, vendo à distância oitocentos pessoas a serem assassinadas numa granja próxima. Entre elas figurava a irmã. Confirmando esse relato, um outro bielorrusso, que não tinha raízes judaicas, conta como ele e outros jovens foram, então, convocados pelos alemães para escavarem uma fossa comum para aonde atiraram depois os corpos despidos dos assassinados.
Quando os primeiros comboios começaram a partir para leste com centenas de judeus, os que ficavam ainda alimentaram ilusões quanto ao destino dos seus amigos e conhecidos.  Mas os mais cínicos compreenderam, então, terem só uma de duas opções a tomarem: ou deixarem-se conduzir ao matadouro sem resistência ou fugir para as florestas a fim de, a partir daí, lutarem contra os criminosos.
Na Bélgica uma rede clandestina de cidadãos decidiu salvar crianças judias, conseguindo distribuir mais de trezentas por outras tantas famílias de agricultores.
Na Dinamarca a Resistência organiza a fuga dos judeus para a neutra Suécia através de barcos, que atravessavam noite adentro o mar separando os dois países.
E data de então a resistência heróica dos sitiados no gueto de Varsóvia, que aguentam semanas a fio os ataques do bem armado exército alemão.