terça-feira, maio 30, 2023

As Brancas Montanhas da Morte

 

Foi há cinquenta anos numa das memoráveis sessões do fim da tarde no Monumental, que congregavam os estudantes vindos do Técnico ou da Cidade Universitária. Em Jeremiah Johnson ou As Brancas Montanhas da Morte, como equivocamente o crismara o tradutor, convergiam dois criadores, Sidney Pollack na realização e Robert Redford na interpretação, que estavam na fase ascendente das respetivas filmografias. E através do western ressoavam duas guerras, a do Vietname para os autores, mas também as de África para os lusos espectadores, em ambos os casos cientes de como os invasores estavam mergulhados em impasses, que a crescente sucessão de vitórias dos invadidos, culminariam nos acontecimentos de 1974.

Jeremiah Johnson resultava, igualmente, do fascínio de Pollack e Redford pelos grandes espaços do Utah. Por isso, e contra os conselhos do estúdio de Hollywood, quiseram-no fazer em espaços naturais, sujeitando-se ao exíguo orçamento propiciado pela sovinice dos investidores. O que não foi particularmente grave por ter por tema a deambulação silenciosa e meditativa de um homem fugido da civilização para viver do comércio das peles numa região em que se via obrigado a conviver com os índios Crow.

Porém, ao deixar de viver de acordo com essa distanciação, acedendo a ajudar brancos a atravessarem a região em direção ao mítico Oeste, incorria voluntariamente na violação de um tabu, que sabia sagrado - desrespeitar um cemitério índio. Daí sofrer-lhe as consequências - matavam-lhe a mulher e o filho - que o levavam a converter-se numa máquina assassina, tomando por alvo toda a população nativa, que tinha sido até então sua parceira de negócios.

Na acelerada descaracterização da paisagem o protagonista desumanizava-se na sua sanha destrutiva. 


domingo, maio 28, 2023

Uma lenda mais saborosa do que a provável realidade

 

Não existem provas que justifiquem a intenção do Bispo de Lamego em ter encomendado à oficina do flamengo Pieter Van Aelst um conjunto de tapeçarias ilustrativas do mito de Édipo no primeiro quartel do século XVI.

Humanista e culto, D. Fernando Vasconcelos dotou o seu palácio de um conjunto de obras, que o definiram como um dos mais importantes representantes da Renascença entre nós.

Num programa, já com uns bons anos, rodado no museu de Lamego, Paula Moura Pinheiro não se coíbe de lançar apetitosa pista explicativa sobre essa escolha do incesto do príncipe de Tebas com a sua mãe Jocasta: pretenderia avisar D. João III para não ceder à tentação de partilhar o leito com a madrasta, a bela Leonor enviada para a corte a fim de ser por ele desposada, mas a quem o pai, D. Manuel se apressara a tomar por rainha?

A acreditarmos nas crónicas da época o novo rei frequentara com censurada frequência os aposentos daquela que ainda viria a ser rainha consorte de França por morte do segundo marido, o rei Francisco I.

Pode-se censurar essa vontade de interpretar a História do passado de acordo com os nossos critérios ficcionais para os quais faltam suportes documentais, que os suportem. Mas John Ford tinha razão, quando defendia serem muito mais interessantes as lendas do que a prosaica realidade. E este é decerto um saboroso exemplo...

sábado, maio 27, 2023

Millares e a representação da violência franquista

 

Na coleção do CAM da Gulbenkian constam obras de Manolo Millares, pintor canarino, que viu a reputação extravasar do arquipélago, afirmar-se na Espanha franquista onde ele e a família - orgulhosamente republicana! - sempre foram destratados como subversivos e alcançar o reconhecimento das grandes galerias e museus internacionais.

Infelizmente para ele, a morte suscitada pelo tumor cerebral, levou-o antes de ocorrer o fim da era de repressão fascista, que se adivinhava prestes a chegar ao fim com a degenerescência física do seu mentor. Mas a violência dos que tinham sido assassinados, torturados e presos durante e depois da Guerra Civil, está explicita em quadros em que os corpos se veem desmembrados ou os buracos na tela podem evocar as balas disparadas contra os corpos dos fuzilados.

Essa vocação assassina dos castelhanos também o assombrou nas múmias vislumbrados no Museu de Las Palmas que davam conta da população primitiva das ilhas, responsável pelo legado de uma cova com representações geométricas da sua arte, e cujas vidas tinham sido trucidadas pelos conquistadores do século XV até à total extinção.

Quase desconhecido entre nós - quem perante as suas obras nas galerias da Avenida de Berna não se terá interrogado sobre quem teria sido esse artista espanhol? - terá sido um dos mais determinantes para influenciar a arte espanhola do século XX.

 

sexta-feira, maio 26, 2023

Normalizações, rituais e desamores

 

1. Interessante a metáfora que o realizador sueco Ruben Östlund contou em forma de fábula no Festival de Cannes e que, a seu ver, reflete quão está assustador este mundo em que vivemos: provando a comida em vários restaurantes de um resort internacional, não lhe foi difícil comprovar que toda ela lhe sabia ao mesmo, apesar de apresentada como mexicana, italiana ou típica de outras origens. Só que, ao fim de alguns dias, a repulsa inicial desapareceu e até acabou por concluir que lhe sabia bem. Ou seja, aquilo que começamos por repudiar como inaceitável acaba por  normalizar-se dentro de nós e aceite como consumível...

2. Curiosa a distinção, que o realizador basco Vitor Erice faz entre ver um filme e visiona-lo consoante o sítio onde o possamos abordar. Com plena razão entende que um filme vê-se numa sala de cinema, enquanto a sua visualização é feita fora desse ritual, seja nas televisões, nos computadores ou nos telemóveis.

Implicitamente deveríamos recuperar o fascínio do passado, quando irmos ao cinema constituía atitude tão identitária quanto a de quem vai à missa ou à oração na mesquita.

3. Confesso que a profissão de fé pró-ucraniana na receção do prémio na Berlinale me incomodou por a achar desnecessária e oportunista. Se até então acompanhara a obra de João Canijo com curiosidade e simpatia, a bravata distanciou-me e justificou o adiamento da apreciação a Mal Viver e a Viver Mal, que rodou num hotel de Ofir durante a pandemia e com a colaboração de Leonor Teles na fotografia. Até porque não tenho particular empatia pela história de desamor entre as várias gerações das mulheres, que constituem a família aí representada. Ou pelos problemas vividos pelos vários hóspedes, que se vão atardando na singular arquitetura, que caracteriza aquele espaço.

 

quinta-feira, maio 25, 2023

Vadio de Simão Cayatte

 

Com a velocidade de um cometa - por ser essa é a regra com as primeiras longas-metragens de cineastas lusos, que conseguem chegar aos circuitos de distribuição -, Simão Cayatte estreou o seu Vadio, filme localizado num Alentejo profundo protagonizado por um adolescente a quem o pai abandonou no monte onde viviam.

A partir daí o filme constrói-se em torno da interrogação de o saber capaz de recriar uma ideia de família com uma mulher solitária a quem a filha fora tirada.

Inconsciência ou arrojo  é como Manuel Halpern classifica a opção por fazer cair todo o peso da obra nos ombros de um jovem estreante. Sem pôr em causa a opção!

quarta-feira, maio 24, 2023

O Ser ou não ser de Lubitsch

 

Ao evocarmos filmes, que procuraram satirizar a agressão nazi durante a Segunda Guerra Mundial, é incontornável trazermos O Ditador de Chaplin à colação. Mas justifica-se igual referência a Ser ou Não Ser, com que Ernst Lubitsch a denunciou no ano de viragem de 1942, quando parecia imparável e já justificara os desesperados suicídios de Virginia Woolf ou Stefan Zweig.

Perante esse desistir de toda a esperança haveria outra alternativa - tal era a proposta de Lubitsch para quem fazia todo o sentido aquela que seria a fórmula depois enunciada por Albert Memmi, quando evocava a partilha de anedotas pelos sitiados no gueto de Varsóvia: quando outra solução não existe, os desesperados recorrem ao riso.

A oitenta anos de distância o filme continua a ser divertidíssimo na forma como aborda o narcisismo e o sentido de intriga dos atores de teatro, mas também a capacidade para se superarem, e tudo arriscarem, quando lutar contra a barbárie é a única alternativa. 

Uma incompreensível forma de abreviar a existência

 

Em 1841 Mikhail Lermontov morria em Pyatigorsk, com apenas 27 anos, quando já era reconhecido como um dos grandes poetas do seu tempo, sobretudo do Cáucaso para onde fora enviado como contrariado oficial dos exércitos do czar.  Replicava assim o conhecido desiderato do seu admirado Alexandre Pushkin, que encontrara fim semelhante quatro anos antes em São Petersburgo.

Muito embora a poesia de um e de outro não me entusiasmem - mas o mesmo não sucede com a intelectualidade russa desde então! - espanta-me essa tendência romântica para resolver em duelos as disputas circunstanciais com anónimos rivais.

O movimento artístico e ideológico era excessivo na exaltação das emoções, mas torná-las potenciais causas de abreviado fim é algo que, ainda hoje, me surpreende...

terça-feira, maio 23, 2023

Um Cinema Paraíso, que fosse o nosso!

 

Foi há trinta e cinco anos: Cinema Paraíso dava-nos o fascínio do cinema como espaço de nostálgica e pertinente subversão no ambiente fascista. Com Toto e Alfredo, o amigo projecionista a quem Noiret deu inesquecível rosto, víamos a sala de cinema como o providencial espaço de fuga, quando se pretendia impor a obrigação de estar na igreja e pressentia-se no Amor a promessa das maiores emancipações. Mesmo à custa de tantos beijos censurados.

A esta distância, e não vendo grandes diferenças entre a Sicília mussoliniana e o salazarento país em que cresci na idade de Toto, só tenho pena, que o cinema português nunca tenha tido um Giuseppe Tornatore capaz de dar a versão lusa desse passado, que alguns teimam em querer ressurgir. Com o mesmo inocente repúdio por algo de tão indigesto.

domingo, maio 21, 2023

O cinema como representação do real

 

O problema do casting levou Jacques Audiard a revoltar-se contra a imagem de um tipo de cinema apenas com atores e atrizes brancas, sem contracenarem com as personagens de muitas outras etnias, que caracterizam a sociedade atual. O que, depois do sucesso do seu quarto filme  De Tanto Bater o meu coração parou (2006) - que lhe valeu oito Césares! - o impeliu para três projetos completamente diferentes.

Um Profeta (2009) aborda a extrema violência do meio prisional vendo-se um jovem de 19 anos, Malik, incumbido de assassinar outro dos detidos. Ao contrário dos filmes enquadráveis nesse género, há uma forma inédita de abordar a miséria subjacente a toda essa realidade e assim constituir-se como um testemunho do presente. 

Ferrugem e Osso (2012) tinha a deficiência física e a pobreza como temas. Por um lado Stéphanie, que ficara sem as duas pernas na sequência de um acidente, do outro Ali, que sobrevive à custa da participação em combates clandestinos. Para Audiard ambos eram representativos de uma sociedade, que estava a transitar para uma certa barbárie sendo o corpo o único recurso para diversificar o que se consegue comer depois de respigado do lixo.

Em Dheepan (2015) Audiard vai à procura dos que nos vendem rosas nas esplanadas e vieram de geografias distantes. Cuida de nos confrontar com as dificuldades do seu quotidiano e com a importância de lhes reconhecer o direito à sua dignidade.

Os três filmes são incómodos, mas abordam a realidade na sua mais genuína crueza... 

sábado, maio 20, 2023

Cubista ma non troppo

 

O quadro pintado em 1913 está no Museu de Bordéus e explica a razão porque, mesmo incluído entre os cubistas com quem se identificara, André Lhote foi por eles renegado condenando-se a um percurso solitário bem sucedido entre os colecionadores de arte, mas menorizado na comparação com os pares para quem a abstração era a regra e a preocupação social e política um imperativo.

As duas figuras humanas que, no meio das árvores, carregam algo aos ombros, visava facilitar a interpretação do tema do quadro, que tomava por motivo dominante os apreciados pinheiros das margens da baía de Arcachon onde se instalara nas primeiras décadas do século transato. E onde voltaria amiúde, sobretudo no fim da vida, quando a saúde começava a declinar e a réplica das mesmas perspetivas com outra maturidade ficou como derradeira conceção da sua pintura.

quinta-feira, maio 18, 2023

A Parte dos Anjos, que Ken Loach nos deu a conhecer

 

Sempre estimulante o regresso aos filmes de Ken Loach por corresponderem àquilo que o cinema tem no seu melhor: a vertente militante capaz de denunciar as injustiças presentes  e mostrar vias possíveis para a sua superação. Muito embora os protagonistas vivam invariavelmente percursos solitários (ou quase) sem se envolverem em mais eficazes esforços coletivos, que dariam melhores resultados a prazo mais alongado.

Em A Parte dos Anjos, que valeu a Loach a Palma de Ouro em Cannes em 2012, temos Robbie, um jovem de Glasgow com apreciável currículo delinquente, mas apostado num melhor futuro ao filho acabado de nascer. Daí que arregimente os parceiros do trabalho comunitário a que foi obrigado pelo tribunal pela mais recente “façanha” para o projeto suscitado pela descoberta do mundo dos leilões de whiskies em Edimburgo, onde uma garrafa de malte pode alcançar valores acima do milhão de libras.

Se nesse mundo especializado a parte dos anjos é a que se evapora dos barris de whisky, quando se garante a sua respiração, os quatro “anjos” roubam o objeto de cobiça dos diversos colecionadores no próximo leilão e vendem-no ao norte-americano pouco escrupuloso, que haviam surpreendido em tentativa de o garantir junto do enólogo incumbido da função de mestre da cerimónia.

O filme tem cenas reveladoras como aquela em que os quatro cúmplices se incumbem da limpeza dos grafitis dos túmulos de um cemitério de Glasgow como se, mesmo depois de mortos, os ricos da cidade continuassem a obrigar os mais pobres a prestarem-lhes serviços de manutenção.

O final do filme satisfaz-nos a vontade de ver Robbie dar o pulo para a tal vida diferente por que ansiava para si, a namorada e o seu filho. Um happy end que nos sabe bem... 

sexta-feira, maio 12, 2023

Ludwig, Requiem Para Um Rei Virgem

 

Há cinquenta anos, entre o Ludwig de Visconti, que se apresentava na sala de baixo - a do Império - e a de Syberberg, que se mostrava na de cima - no Estúdio - não houve como duvidar da opção: foi para o filme do alemão, que encaminhei a preferência. E ainda bem que o fiz porque, embora se tenha revelado mais do que equívoco na versão de Hitler, que depois criou enquanto mito alemão, lembro poucas experiências cinematográficas, que me tenham tão significativamente impressionado quanto essa.

Talvez tenha ajudado o facto de andar então pelos dezassete anos, idade propícia a sentir-me inebriado perante tão fabulosa viagem pelo imaginário romântico, segundo João Bénard da Costa “naufrágio dum ser na busca desesperada dum paraíso perdido ou artificial” numa contradição voluptuosa entre a noite eterna e a “claridade pérfida do dia”, “esse odiado inimigo”.

Filme esplendido, nele se lamentava uma Alemanha perdida, uma terra e uma cultura devastadas.

Pitonisas do nosso tempo

 

1. Em «Os Céus de Celestina», José Eduardo Agualusa conta como a personagem ganhou nome diferente do pretendido pelo velho Bilal, seu pai, e como o equívoco lhe mudou o carácter: “um desses erros felizes que, se não mudam o mundo, mudam a vida de uma pessoa”. Porque, ao crescer, Celestina “tinha mais olhos para o céu do que para o chão ou para o mar”.

Sem surpresa os vizinhos viram-na construir sólida reputação de meteorologista e pitonisa. O que, na ilha, significava a mesmíssima coisa.

2. Os olhos ascendentes também são os de meia-dúzia de jovens mulheres oriundas de classes populares, que vêm construindo excelentes percursos académicos contra o que o determinismo social tenderia a obstar-lhes. O sociólogo João Teixeira Lopes ouviu-as e abordou-lhes as expetativas e constrangimentos num ensaio agora publicado pela Tinta da Chuna. E como estão decididas a evitar regressões na conquista de um papel ativo, que não era o costumado no ambiente social de que provém.

quinta-feira, maio 11, 2023

Bacon e a herança de uma estadia no Mónaco

 

O Papa a gritar, reinterpretando um conhecido quadro de Velasquez, data de 1953, - ou seja quatro anos depois de Francis Bacon ter deixado o principado do Mónaco onde se instalara durante três com o mecenas e amante! -, já não tem a inspiração dos dias em que passava boa parte do tempo no casino ou a conviver nos cafés circundantes com gente pouco recomendável numa boémia permanente, mas recolhe os distantes efeitos dessa estadia. Contém a mesma obsessão em não saber parar, empastelando camadas sucessivas de tinta para obter a inigualável representação dos corpos humanos demasiado vivos, quase no limite de já se terem convertido em zombies.

Influenciado pelos surrealistas e, amiúde, tentado pela abstração, Bacon nunca se filiará numa escola precisa, porque busca vias inéditas na exploração de todas as suas potencialidades. Mormente optando pela parte traseira da tela, para ele mais interessante para aplicar a paleta de cores, que a convencional.

Não é que se goste dos seus quadros, mas têm aquela estranheza, que Pessoa reconhecia capaz de se entranharem na nossa apetência pela mais diversa curiosidade.

A Conferência

 

São tantos os filmes e, sobretudo, os documentários sobre a Segunda Guerra Mundial, que esta proposta de Matti Geschonneck sobre a Conferência de Wannsee dificilmente traria qualquer novidade.

Restava aferir como o cineasta, oriundo da antiga RDA, cuidaria do tema. E reconheça-se a habilidade para evitar as armadilhas da teatralidade através de uma sobriedade a que não é estranha a ausência de música na banda sonora, excluindo a fácil manipulação de emoções do espetador. Muito embora a unidade de tempo e de ação pudesse facilitar esse tentador pecado original.

Na manhã de 20 de janeiro de 1942, recebidos por Reinhard Heydrich, que faz figura de anfitrião, quinze dignitários do regime nazi discutem o genocídio já em marcha, procurando conferir-lhe uma legitimidade distinta do crime monstruoso, que todos pretendem negar enquanto tal. A negação do Outro atinge tal paroxismo, que um dos circunstantes formula o desejo de ver evaporados esses judeus cuja existência constitui um incómodo a ultrapassar.

Paira por aqui a conceção de Hanna Arendt sobre a banalidade do mal com um conjunto de homens capazes de, nos intervalos da reunião, evocarem as famílias como qualquer irrepreensível chefe de família. E a alimentarem, entre si, desconfianças e rivalidades, que demonstram a precariedade do pensamento único nessa elite nazi.

quarta-feira, maio 10, 2023

Intolerante me confesso...

 

A tolerância de acordo com uma reflexão de Claudio Magris: será esse o valor predominante do tal ocidente europeu, que se quis tornar bitola para com todas as demais geografias? Teria Voltaire razão quando defendia o direito dos que se lhe opunham em expressar-se, mesmo quando as opiniões tenderiam a ser-lhe frontalmente opostas?

Magris enuncia os limites dessa tolerância: deveríamos impedir uma turba de linchar Josef Mengele se acaso o tivesse tido ao alcance? Respeitaríamos os segregacionistas do Alabama, quando quiseram impedir os primeiros negros de estudarem nas suas universidades?

Existem limites nessa tolerância, mesmo que os jornais queiram neutralizar a dimensão das diferenças ao publicarem textos de opinião de quem pensa algo e o seu contrário e os edita lado-a-lado na mesma página.

Manifestamente nunca poderei respeitar as ideias fascistas e considero-as suficientemente execráveis para justificar a sua higiénica proibição. Intolerante me confesso sem  culpabilizados estados de alma...