terça-feira, março 15, 2016

LEITURAS AVULSAS: Memórias e Biografias

1. Em setembro John le Carré publicará as suas Memórias e embora já muito se saiba da biografia da autoria de Adam Sisman, existirão decerto novidades de alguns dos mais nebulosos períodos da sua vida. Nomeadamente daquele em que trabalhou no MI5 e no MI6, os serviços secretos de Sua Majestade e esteve colocado na embaixada em Bona, muito embora as suas atividades de espião já viessem da época em que estudava em Oxford. O seu terceiro romance - «O Espião que veio do frio» - que o tornou mundialmente conhecido em 1963, não careceu de grande investigação, porque David Cornwell, o seu verdadeiro nome, sabia bem demais o que ali descrevia.
Os admiradores de Carré esperam informações até agora desconhecidas de outra das vertentes do que ele viveu: o relacionamento com o pai.
Ronnie Cornwell era um talentoso vigarista, que conseguia intrometer-se em ambientes aristocráticos e da alta burguesia para concretizar ousados golpes. Quem o conheceu descreveu-o como um ser encantador, que abraçava alguém com a maior das familiaridades enquanto lhe enfiava as mãos nos bolsos.  Tratava-se de um inveterado otimista, que ora proporcionava aos filhos a mais esmerada das educações, ora os condenava à miséria nos períodos passados atrás das grades da prisão.
Mais tarde, Ronnie era capaz de centralizar as atenções em si nas livrarias onde se propunha assinar dedicatórias nos livros do filho enquanto «pai do autor», mas ao mesmo tempo punha-lhe processos judiciais exigindo indemnizações por este ou aquele personagem se parecer em demasia consigo.
A duplicidade de tal progenitor talvez explique a razão porque Carré se viu obrigado a construir a sua própria moral e código de conduta.
2. No «The Independent», Marcus Tanner caracteriza o movimento político lançado por Adolf Hitler como algo de mitigado conteúdo ideológico: “O nazismo parece ter sido quase isento de política ou ideologia, e isso explica talvez em parte a sua capacidade de atração: para lá do palavreado sobre a volksgemeinschaft e a dignidade do trabalho, não havia ali grande coisa”.
Essa análise refere-se à primeira parte da nova biografia do ditador alemão, agora publicada em inglês e da autoria de Volker Ullrich, que está a ultimar a obra com os anos referentes à Guerra.
Ora este é um fenómeno que está a caracterizar as direitas atuais: já não se reivindicando de nenhum corpo doutrinário específico (democracia-cristã, liberalismo, neoliberalismo, etc.), elas são casuísticas adotando a cada momento o que os eleitores pretendam ouvir. Daí o recurso ao discurso contra os refugiados, que tem sido o abono de família de partidos xenófobos cujo relativo sucesso tem  sido demonstrado por sucessivas eleições.
Daí a necessidade de, à esquerda, responder-se com uma vigorosa afirmação de ideologia e é nesse sentido, que o Socialismo volta a estar na ordem do dia. Como Corbyn em Inglaterra ou Sanders nos Estados Unidos já o estão a demonstrar. 

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