terça-feira, fevereiro 20, 2007

ROMAN KARMEN: UM REALIZADOR DA UTOPIA

Andei a ver um excelente documentário sobre a carreira do realizador soviético Roman Karmen. Um cineasta, que acompanhou todas as grandes revoluções do século XX subsequentes aos anos 30. Começou ao lado de Robert Capa na Guerra Civil de Espanha por ele testemunhada do lado dos Republicanos. Prosseguiu com a Revolução Chinesa, acompanhando os primeiros passos de Mao enquanto líder dos camponeses do Yunan. Foi depois a Segunda Guerra, quer durante o terrível cerco de Leninegrado, quer durante o avanço do Exército Vermelho. Prosseguiu depois no Vietname com a derrota francesa em Dien Bien Pgu e em Cuba com a vitória dos barbudos castristas. E ainda teve teve de acompanhar a esperança chilena em torno de Salvador Allende.
O fascinante nos seus documentários é a encenação de muitas dessas imagens numa recriação destinada a reforçar-lhes o sentido da mensagem. Nos filmes de Karmen o comunismo surge como utopia exequível, deles estando dissociados o seu lado mais obscuro.
Mas, ao ver tais imagens, pude constatar quão perto esteve a História de ter um encontro com algo de genuíno e de maravilhoso. Faltou apenas um grão de asa para toda a Humanidade adoptar o comunismo como sistema político de eleição para a criação de uma sociedade mais justa e fraterna.
Talvez por ter estado tão próximo de suceder essa utopia, exista uma tão veemente propaganda anticomunista procurando reduzir essa ideia pura em algo de criminoso,
Quando se fala de comunismo dever-se-ia falar dos gulags e dos processos de Moscovo, mas também da tremenda evolução económica conhecida pelos países do Leste Europeu e da Ásia, quando nele consubstanciaram a esperança de milhões de pessoas num futuro melhor.
Nos últimos anos o comunismo tem sido apresentado no que o caracterizou na coluna do Deve, sem nunca se citar o que quer que seja do muito contido na coluna do Haver.

«MRS. HENDERSON» de STEPHEN FREARS

«Mrs. Henderson», o filme do Stephen Frears com a maravilhosa Judi Dench e o seguro Bob Hoskins foi o filme por mim escolhido para vermos às refeições deste sábado. É a história de uma velha senhora, que enviúva depois de uma grande parte da vida passada na jóia da Coroa (a Índia). Agora, muito rica e desocupada, ela decide levar por diante um projecto excêntrico: inaugurar um teatro de revista aonde as raparigas se dispam, mesmo que não se mexam (para evitar dissabores com a censura).
Liderada pelo encenador Vivian Van Damm, o Windmill Theatre ficará conhecido por nunca ter parado com os seus espectáculos durante a Guerra, enfrentando os bombardeamentos alemães com a coragem de resistir à barbárie e manter uma certa ilusão de normalidade na cidade violentada pela destruição.
O filme alterna números musicais com as disputas constantes entre Laura e Vivian numa relação, que tem tanto de tensa, como de afectuosa. E a comédia alterna com a tragédia de quem padece as agruras da época, mormente - e aqui em consonância com as palavras da página anterior - uma gravidez indesejada acabada inevitavelmente em morte...