segunda-feira, março 28, 2016

DIÁRIO DAS IMAGENS EM MOVIMENTO: A Grande Odisseia Humana

Descendentes de um dos diversos ramos em que se segmentaram os símios ao longo da sua evolução,  só muito engenho e circunstâncias excecionais permitiram que sobrevivêssemos, porque, há duzentos mil anos, não existiam mais do que seiscentos homo sapiens na África subsariana. Como foi possível ultrapassar todas as contingências e alcançar este patamar em que somos a única espécie do planeta com a consciência da forte probabilidade da sua extinção.? É essa a resposta procurada pelo antropólogo Niobe Thompson num conjunto de três documentários excelentes, que têm estado a passar no Canal Odisseia.
No primeiro desses episódios surgem os Bosquímanos, que mostram como foi possível encontrar alimentos nas paisagens mais áridas como aquelas em que eles vivem no Calaári. Onde cada gota de água é preciosa e as proteínas se encontram nos sítios mais inimagináveis.
Noutra latitude, a das Filipinas, descobrem-se as espantosas capacidades dos Badjao para o mergulho em apneia, permitindo-lhes a recolha de moluscos e peixes. No passado o acesso a esses alimentos permitiu desenvolver maiores capacidades cognitivas.
No segundo episódio Niobe Thompson acompanha ma caravana de Beduínos para teorizar quanto à forma como os humanos conseguiram vencer o desafio do inóspito deserto saariano. De acordo com escavações em Israel, eles já ali se encontravam há 120 mil anos. Do encontro com neandertais e com denisovianos terão surgido alterações genéticas positivas, sobretudo ao nível da imunidade relativamente a algumas doenças então letais.
O convívio com essas outras espécies de hominídeos na Europa cessou há 25 mil anos, quando a nova Idade do Gelo demonstrou serem os homo sapiens os únicos com capacidades de resiliência às súbitas mudanças climáticas. E o facto de terem agulhas para poderem confecionar roupas quentes poderá ter feito toda a diferença.
Para dar uma ideia do que seriam as condições dificílimas de então, Thompson leva-nos ao encontro dos Chukris da Sibéria, que continuam na sua atividade nómada de pastoreio de renas sob frios intensos.
No terceiro episódio estão em causa as migrações por mar. Utilizando canoas, nalguns casos com estabilizadores, o Homem foi-se propagando entre as ilhas do Pacífico Sul até chegar à Nova Guiné há 50 mil anos. O ritual de transição dos rapazes para a vida adulta, mediante a escarificação da pele para se assemelharem às placas do crocodilo proveem de tempos imemoriais.
 Em 1947, Thor Heyerdahl procurou demonstrar como se expandiram as populações humanas no sul do Pacífico ao partir da América do Sul: com o seu «Kontiki» e, aproveitando ventos e correntes marítimas, chegou ao Tahiti.
Mas os avanços da Genética permitiuram dissociar as populações latino-americanas das polinésias, cujo ADN tem muito mais a ver com as asiáticas.  Isso permitiu dar fôlego a outra teoria segundo a qual foram os polinésios quem, com os seus barcos tradicionais, empreenderam essas viagens, que os levaram não só à Ilha de Páscoa, mas também às costas chilenas. Aí encontraram outras populações, que tinham ali chegado através do estreito de Bering durante a glaciação.
Olhando para a Grande Odisseia Humana, conclui-se terem sido vencidas dificuldades infinitas para chegarmos até hoje.

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