sábado, março 26, 2016

LEITURAS AVULSAS: A crise económica e os seus efeitos

Ian Buruma é um historiador holandês, que vive em nova Iorque e assinou inúmeros ensaios de entre os quais «Ocidentalismo» (Publ. Europa América, 2005), «A Morte de Theo Van Gogh» (Presença, 2007) e «Domar os Deuses» (Edições 70, 2012).
O seu trabalho mais recente  - «Year Zero: a History of 1945» constitui uma análise desse ano charneira, que suscitou uma nova ordem internacional e permitiu concluir como, mesmo nas guerras justas - e a empreendida contra a Alemanha de Hitler era-o indubitavelmente! -, as consequências são devastadoras.
Numa entrevista concedida ao «L’Obs» ele relaciona os horrores atualmente praticados no Próximo Oriente com os da Guerra dos Trinta Anos, que arrasou com a Europa entre 1618 e 1648, devido ao fanatismo religioso instrumentalizado politicamente por potências rivais: as dos Habsburgos e dos Bourbons.
Ele recusa, pois, a leitura segundo a qual a disputa que incendeia todo o Médio oriente se restrinja a sunitas contra xiitas. A que lhe serve de padrão de comparação também esteve longe de ser apenas um conflito entre católicos e protestantes. Até porque Richelieu e o Vaticano puseram-se do lado dos protestantes!
Olhando para os movimentos de extrema-direita, que têm alavancado a sua importância com a crise dos refugiados e dos atentados terroristas, Buruma considera-os como meros oportunistas, que exploram vários medos: o do islão, o dos imigrantes, o da mundialização, o de perder os privilégios resultantes de sucessivas décadas de crescimento económico e de pleno emprego. Ademais, surgem a culpabilizar as supostas elites de esquerda, que pouco ou nada fizeram para criar este caldo de cultura.
Buruma critica os arquitetos da União Europeia por não terem prestado suficiente atenção à necessidade dos cidadãos em sentirem-se identificados com algo de concreto. Julgaram que chegaria dar a alguns tecnocratas bem intencionados a tarefa de desenharem o belo futuro da Europa a régua e compasso..
Enquanto as economias nacionais prosperaram e os cidadãos viram os rendimentos crescerem, ninguém pareceu aperceber-se das limitações políticas das instituições europeias. Agora as crises estão aí para durar e os povos passaram a exigir a ilusória segurança oferecida por uma comunidade nacional. E escasseiam soluções para que as emendas não saiam piores que os sonetos.


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