sexta-feira, março 11, 2016

DIÁRIO DAS IMAGENS EM MOVIMENTO: Mulheres corajosas e o direito a dispor do próprio corpo

Dos documentários recentemente emitidos pela SIC Notícias na sua rubrica «Toda a Verdade» retenho dois particularmente interessantes.
Num deles acompanhámos a luta das mulheres argelinas pela preservação dos seus direitos fundamentais, reconhecidos desde os tempos do Presidente Bourguiba.
A exemplo do que se viu com Passos Coelho em 2011, e se vai repetindo invariavelmente um pouco por todo o lado onde regimes mais ou menos castradores das liberdades se vão instalando - da Hungria à Polónia passando pela Turquia - a direita, laica ou religiosa, consegue aliciar eleitores a nela votarem com promessas, que não fazem a mínima intenção em cumprir.
No caso da Tunísia, depois da “Revolução” que implicou a fuga do ditador Ben Ali,  os islamitas do Ennhada prometeram manter todos os direitos constitucionais reconhecidos às mulheres, desde a igualdade na família e no trabalho até ao de se vestirem como quisessem. No entanto, em 2013, não só a opressão e o assédio das mulheres ganhava uma dimensão inquietante, como alguns dos principais líderes da oposição laica estavam a ser assassinados.
O levantamento geral da população das grandes cidades, com as mulheres na liderança de muitas das manifestações, fez recuar os que pretendiam replicar o tipo de regime existente na Arábia Saudita e nalguns estados do Golfo Pérsico.
A aparente vitória das forças laicas está longe de ser garantida: manhosos na estratégia, os islamofascistas criam escolas corânicas onde vão destilando nas crianças a eles confiadas a lógica odiosa da sua interpretação muito peculiar do Alcorão.
Num outro documentário apresentava-se a forma de aplicação da eutanásia na Bélgica, onde pode ser praticada a pedido de quem se sente em insuportável sofrimento físico ou psicológico.
Sem dramatismos assistimos a todo o processo de preparação para a morte de uma velha senhora de 85 anos para quem passou a fazer todo o sentido a frase de José Gomes Ferreira (o Poeta, não o tinhoso da SIC!): “viver sempre também cansa!”.
Na reportagem viu-se ela tomar a solução preparada por um médico e, sem sofrimento, falecer.
Foi un bel morir como já aqui citei de uma bela obra de Álvaro Mutis. E é algo assim, que vimos ser desejado por um agricultor ainda jovem, acometido de uma doença rara e de terrível, causadora de enxaquecas insuportáveis impossíveis de aliviar com o mais forte dos analgésicos.
Embora os filhos não desejem a morte do pai, a esposa compreende a vontade do companheiro tendo em conta o terrível sofrimento e a inexistência de qualquer paliativo.
Em casos destes, que direito tem a sociedade de impedir aos próprios a decisão de disporem dos próprios corpos?
Sei que a luta não será fácil de vencer - nenhuma das questões fraturantes consegue prevalecer nas primeiras batalhas! - mas os que obstaculizam o direito a cada um definir o momento e a forma de passar da vida para a morte têm a derrota garantida, quando tal guerra chegar ao fim... 

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