quarta-feira, março 23, 2016

DIÁRIO DE LEITURAS: «Babylon Babies» de Maurice Dantec (1999)

Maurice Dantec pertence à tradição literária em que os escritores projetavam-se no futuro por intermédio do romance, assumindo-se como visionários. Em 1997, dois anos antes de publicar «Babylon Babies», assinou um artigo  intitulado «A Ficção como laboratório antropológico experimental» na revista «Temps Modernes», em que já teorizava sobre as circunstâncias, que ditavam o ato literário, tendo em conta que “as sociedades são o corolário de uma mutação biológica”.
Em 1993 já publicara «La Sirène Rouge» cuja história era passada na guerra da Jugoslávia, seguido de «Les Racines du Mal» em 1995 sobre assassinos nos Alpes.
Hugo Cornelius Toorop, que protagonizara o primeiro daqueles títulos regressa em «Babylon Babies», situado num futuro próximo, quando a Humanidade está a conhecer uma intensa transformação biológica. Agora, no Cazaquistão,  ele vende os serviços de mercenário à mafia siberiana, depois de ter combatido na Resistência contra a China. A missão consistirá em acompanhar uma jovem chamada Marie Zoru até ao Canadá sem adivinhar que ela transporta em si uma poderosa bomba biológica na sua indisfarçável esquizofrenia. Mas quem a requisitou - uma seita norte-americana) - assusta-se com a arma  e o confronto armado é inevitável.
O livro insere-se na escola do cyberpunk, fundada por William Gibson e Bruce Sterling nos anos 80 para, através da mistura da ficção científica com o género policial, criarem do mundo uma perspetiva apocalítica.
Demasiado lento no arranque, quando começa por descrever o caos planetário, o romance ganha outro ritmo quando os protagonistas chegam aos arrabaldes de Montréal onde se confrontam várias máfias, tríades e outras seitas apostadas em apossarem-se de Marie Zoru.
Referindo-se a experiências biológicas interditas pela lei, Dantec mergulha-nos  num mundo onde as novas tecnologias alcançaram uma sofisticação assustadora: a «esquizomáquina» é uma inteligência artificial criada pelo neuropsiquiatra Darmanquier, que surgira no segundo romance do autor e destinado a curar Marie através do controle do seu ADN. Dantec explora a sua conhecida obsessão sobre os perigos das novas tecnologias.
A exemplo do que já sucedia em «Les Racines du Mal», este terceiro romance alimenta-se de muitos textos da Filosofia das Ciências desde Jeremy Narby até Gilles Deleuze, passando pelos xamãs índios, para equacionar o que resultaria da conjugação do cérebro humano com a inteligência artificial. E os esquizofrénicos seriam doentes mentais ou evoluções da Natureza para corresponder ao futuro humano?
O problema é que o livro não chega a ser exaltante, nem a divertir.  E a antevisão do mundo distópico não é propriamente o que a maioria dos leitores gostaria de encontrar.

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