quinta-feira, abril 30, 2015

DIÁRIO DAS IMAGENS EM MOVIMENTO: «Shadow of the Vampire» de Elias Merhige

Há quinze anos Elias Merhige assinou um filme enquadrável no género de cinema fantástico, e injustamente esquecido após exibições em festivais de cinema e  uma breve distribuição internacional, mesmo contando com nomeações para os Óscares: «Shadow of the Vampire».
A ideia não podia ser mais palpitante: em 1922, quando tratou de escolher o ator para protagonizar o seu «Nosferatu, o Vampiro», Murnau - interpretado por John Malkovich, também produtor do filme - escolhe Max Schreck. Ora acontece que este - Willem Dafoe a dar-lhe a credibilidade do seu habitual talento - é um verdadeiro vampiro, que irá ameaçar todos quantos o rodeiam…
Um filme que mereceria uma segunda oportunidade... 

quarta-feira, abril 29, 2015

DIÁRIO DAS IMAGENS EM MOVIMENTO: "Sivas"

No Festival Indie deste ano um dos filmes mais impressivos terá sido «Sivas», a primeira longa-metragem do turco Kaan Mudjeci.


Numa zona rural da Turquia um miúdo vê-se desfeiteado quanto à possibilidade de desempenhar o papel de príncipe na peça em que a rapariga por quem está embeiçado faz de princesa. Como alternativa  ganha a amizade de Sivas, um cão branco preparado para combates, contando assim impressionar a distraída amada.
Mas em vez de uma relação de empatia entre o rapaz e o cão, com direito a um happy end reconfortante, vem ao de cima o pior das relações de forças nas escolas e nas famílias  suscitadas por uma masculinidade exacerbada. E são os animais os elos mais fracos, cabendo-lhes apenas o papel de instrumentos de rivalidade entre os homens.

quinta-feira, abril 23, 2015

DIÁRIO DE LEITURAS: «O Arquiteto» de Keith Ablow (5)

Perante a sucessão de crimes perpetrados pelos mesmo psicopata junto de algumas famílias abastadas da sociedade norte-americana, o psiquiatra do FBI Frank Clevenger, vê a investigação prejudicada por dois condicionalismos pessoais: a amante, Whitney, só o aceitará se deixar de beber e se resolver os problemas suscitados pelo filho adotivo, Billy. Ora, este não parece ser resgatável da deriva, que o empurra para  a delinquência: depois de sair da prisão devido a acusações de violência doméstica contra a rapariga de quem tivera um filho, vai juntar-se a um gangue para o qual participa em combates ilegais.
Anda Frank distraído com os problemas pessoais e já West Crosse está a dissecar o pescoço de outra das suas vítimas: Heather Rawlings, atraída ao seu laboratório a pretexto de lhe mostrar o que projetara para a casa no Montana, que ela nunca chegaria a habitar.
Quando o corpo apareceu a flutuar no Lago Michigan, amarrado a uma cruz, Frank vai dar a notícia ao viúvo, e como constatara com os familiares das vítimas anteriores, também ele não se mostra particularmente desgostoso com o que sucedera a Heather.
É contudo nessa visita, que lhe chama a atenção a maquete da construção da casa que o casal estava prestes a iniciar no Montana. E, sem saber porquê, Frank sente abrir-se uma porta para a descoberta da solução do caso.
O problema é que Crosse já está um passo a frente na seleção da sua próxima vítima: a filha retardada do presidente Buckley para quem está a projetar a extensão da Ala Oriental da Casa Branca: “uma filha de dezassete anos, atrasada, solteira e grávida com o filho de um homem atrasado: uma afronta à Natureza e uma sempre crescente ameaça à posição do Presidente no país e no mundo”. (pág.170). Um Presidente que, a exemplo de george w. bush, que lhe serve notoriamente de modelo, sempre tomara posições firmes contra a distribuição de preservativos, contra a educação sexual e inadequada e contra o aborto.
“A existência de Blair não se  diferenciava em nada de qualquer outros desastre arquitetónico. Alicerces pobremente construídos podiam fazer um edifício desmoronar-se” (pág. 185)
Embora todas as famílias das vítimas se recusem a dar a Frank o nome do arquiteto com quem estavam a trabalhar na altura dos crimes - reflexo de todas estarem por ele vinculadas a um acordo de confidencialidade - Frank consegue chegar a West Crosse como um dos mais presumíveis suspeitos, tanto mais que também ele pertencera à Fraternidade dos Ossos e da Caveira da Universidade de Yale.
O antigo patrão de Crosse numa firma de Manhattan, agora casado com a sua ex-mulher, acede a falar com Frank: “Se Clavenger chegara a perguntar-se por que razão Laire Jones tinha sido tão franco com ele, por que razão o trouxera tão depressa a sua casa para conhecer a mulher, então sabia-o agora. Jones gostava da ideia de Crosse poder ser um monstro. Queria que Lauren ouvisse que o ex-marido era suspeito de homicídios em série - provavelmente porque não tinha bem a certeza se ela alguma vez deixara de amar West” (pág. 204) 

DIÁRIO DE LEITURAS: «O Arquiteto» de Keith Ablow (4)

Vimos anteriormente que o psicopata cujos crimes polarizam a narrativa de Keith Ablow é um arquiteto chamado West Crosse tão obcecado com a perfeição das suas obras, que se encarrega de ir matando quem nelas não merece viver.
Para o projeto da casa do Montana, que o casal Rawlings o incumbira de conceber, já decidiu quem é o elo mais fraco destinado a ser sacrificado: a própria Heather Rawlings, apostada em não oferecer ao marido o herdeiro por ele tão desejado.
O edifício concebido tem as influências das casas por onde Ken passara a infância e uma vertente caribenha inerente a Maritza, a cubana  que servia ao mesmo tempo de assistente e de amante ao patrão. É claro que interessado em conhecê-la melhor, Crosse não deixa de passar umas tardes na cama dela…
“Os Rawlings eram uma mentira. Ken Rawlings casara com a mulher, Heather, por insegurança, porque o preocupava nunca conseguir alcançar o sucesso suficiente por direito próprio. Agora tinha a Abicus, a companhia mineira de extração de diamantes do pai dela, mas não tinha paz, e não tinha filhos. E por que razão os teria? Deveria Deus sorrir perante uma mentira mais do que a própria gravidade perante alicerces fracos?” (pág. 84)
Depois de desenhar os planos da casa do Montana, West Crosse vai a Chicago perpetrar o crime seguinte na pessoa de Chase Van Myer, uma rapariga de 22 anos cujos transtornos bipolares quase estavam a destruir a família e a manchar a excelência da remodelação por ele concebida. Depois de a matar, o arquiteto disseca-lhe o nervo ótico.
No entretanto o psiquiatra Frank Clevenger anda a visitar as famílias das vítimas anteriores. Na do sexagenário Ron Hadley, que aparecera na praia com o coração dissecado, constata algo semelhante ao já verificado em casa de Shauna Groupmann: nem a viúva, nem as filhas, parecem lamentar a morte desse marido e pai controlador, que lhes infernizava os dias…
Mas outra característica comum parece relacionar todos os homicídios: ora nas vítimas, ora nos familiares diretos, havia sempre alguém com ligação a uma das mais famosas fraternidades universitárias dos EUA, a da Caveira e Ossos.
O corpo de Chase foi encontrado no Pavilhão Jay Pritzker, da autoria de Frank Gehry, um arquiteto execrado pelo criminoso: “Crosse amava a estrutura e não a sua demolição. A sua obra servia para as necessidades dos seus clientes e não as dele. Sabia que libertá-los para viverem vidas mais completas não tinha nada que ver com curvar as paredes das suas casas. Implicava, sim, encontrar a estrutura que refletisse as verdades interiores deles e depois tentar alcançar isso, a qualquer custo. Implicava ir à guerra em nome de uma arquitetura que reproduzia o vertiginoso casamento entre forma e função como existia na anatomia humana” (pág. 126) 

quarta-feira, abril 22, 2015

DIÁRIO DE LEITURAS: Um monumento da cultura alemã

Em 1999, quando Günter Grass ganhou o Nobel da Literatura fiquei extremamente feliz. Não tanto quanto ficara no ano anterior com a de José Saramago, que correspondera a um chapadão de todo o tamanho em cavaco silva, santana lopes ou do idiota que dava então a cara como subsecretário de estado da cultura.
Em dois anos consecutivos, a Academia Sueca galardoava escritores, que além da excelência literária, também eram militantes ativos nas causas progressistas em que acreditavam.
Só quase uma década depois viria a ter igual agrado quando Le Clézio também seria reconhecido em 2008.
Günter Grass era, de facto, um autêntico monumento das letras alemãs do pós guerra, mas nunca se eximiu de participar nos debates sobre a sua sociedade. Em certos momentos da sua vida foi reconhecido como a voz da própria Alemanha. Por isso mesmo a notícia da sua morte, aos 87 anos, foi recebida com consternação por muitos que o admiravam. Salman Rushdie, por exemplo, classificou-o de gigante, que muito o inspirou e ajudou.
“Os romances, as novelas e as peças de Grass ilustram as grandes esperanças e erros, as angústias e desejos profundos de várias gerações”, escreveu o presidente alemão Joachim Gauck.
Grass iniciou a sua formação como aprendiz de talhador de pedra e estudou grafismo e escultura antes de se lançar como escritor.
O primeiro sucesso foi «O Tambor», publicado em 1959, e que só descobri através do filme de Volker Schlondorff realizado duas décadas depois.  Ele conta a história de uma família de Dantzig desde 1924 até aos anos do governo de Adenauer.
Na década seguinte Günter Grass tornou-se num dos mais eloquentes e escutados intelectuais da República Federal. Era amigo de Willy Brandt e fez campanha pelo SPD em várias campanhas eleitorais a partir de 1965, apoiando a Ostpolitik, então na ordem do dia como estratégia para reduzir as tensões entre o Ocidente e o Bloco Leste.
Foram muitas as vezes em que se envolveu em polémicas, enfrentando com coragem as situações mais desfavoráveis às suas ideias sobre o mundo em geral e a Alemanha em particular. Nomeadamente quando discordou da união entre as duas Alemanhas, que considerou tratar-se de uma anexação de tipo colonialista.
Todos quantos morreram e sofreram à conta das guerras sucessivas causadas pela queda do muro de Berlim constituíram a prova de como tinha razão.
Em 2006 muitos dos mentecaptos, que nunca tinham  conseguido ombrear com a sua inteligência, regozijaram-se com a confissão do seu alistamento voluntariamente numa unidade SS quando tinha 17 anos. Imprudentemente julgaram aí encontrar matéria bastante para derrubar a sua dimensão ética. A exemplo de Saramago também criticou com contundência as políticas dos sucessivos governos de Telavive em relação ao povo palestiniano e que desonravam o sofrimento dos seus antepassados durante a Shoah. Essa posição valeu-lhe novas críticas dos que alinham com o fanatismo sionista.
No entanto, se os cães ladram, a caravana passa, Grass ficará como um dos grandes vultos do século XX. 

terça-feira, abril 21, 2015

SONORIDADES: Areti Ketime e DJ Shantel a dançarem por cima do vulcão

Crise da dívida, FMI, troika, coligação entre a esquerda dita radical e independentistas.
Já dura há alguns meses a atenção de toda a Europa para o que se passa em Atenas, porque não é apenas o futuro da moeda única, que ali se decide - é também o futuro de todo o continente.
Em Atenas vive-se num ambiente de vertigem. Recuperou-se a esperança em muitos dos seus bairros, depois de ter visto a pauperização ganhar uma amplitude sem precedentes.
O novo governo grego está apostado em lutar por uma Europa da solidariedade contra a corrupção do neoliberalismo e o resultado ainda é imprevisível. Porque há que não esquecer: Atenas, uma das mais antigas cidades europeias, também é o berço da democracia.
A cidade está em acelerada mutação, mais criativa do que nunca, confiante no seu futuro. Uma confiança que os atenienses não estão novamente dispostos a perder, como o confessa o realizador Yorgos Zois. Porque, mesmo que as caixas registadoras estejam vazias, a vontade de mudar persiste. E uma boa banda sonora para esse estado de alma pode ser o disco «East-West  - Dysi ki Anatoli», que a cantora Areti Ketime acaba de publicar a meias com o alemão DJ Shantel. Para este não há atualmente cidade europeia mais eletrizante do que Atenas.
Mas fica a questão: trata-se de dançar por cima do vulcão ou de um voyeurismo obsceno em tempos de crise? 

segunda-feira, abril 20, 2015

DIÁRIO DAS IMAGENS EM MOVIMENTO: «William S. Burroughs: A Man Within» de Yony Leiser

À medida que vou envelhecendo confesso uma paciência cada vez mais diminuta para quanto não me dá propriamente satisfação.
Este documentário é disso um bom exemplo: até há não muito tempo seria capaz de dedicar hora e meia da minha atenção para aprofundar o conhecimento sobre a vida caótica de William S. Burroughs cuja notoriedade se deve à liderança conceptual da Beat Generation com Ginsberg e Kerouac  tendo na droga e no sexo os seus estimulantes criativos.
Mas se a personalidade do escritor afigura-se-me execrável e a sua obra quase intragável, valerá a pena ceder à obrigação de melhor o conhecer apenas porque é tido como um dos maiores escritores norte-americanos do século XX? Prevejo que doravante terei uma disponibilidade cada vez mais diminuta para este tipo de informação.
Posso reconhecer que David Cronenberg conseguiu que a sua adaptação de «O Festim Nu» me desse alguma satisfação. O que não colide com essa antipatia visceral contra Burroughs, cujo egoísmo estava associado a todas as opções de vida, que foi tomando na sua longa existência.
Ele surge-me como o chefe-de-fila de uma geração, que pode ter-se rebelado contra o puritanismo dos concidadãos brancos, de raiz anglo-saxónica e protestantes, mas nada do que escreveu significou algo de palpável contra um capitalismo em vias de se tornar ainda mais voraz e um imperialismo cada vez mais agressivo. Pelo contrário, Burroughs, Kerouac ou Ginsberg estavam tão virados para os seus próprios umbigos, que quase só lhes interessavam os efeitos alucinogénios com que julgavam mais acessíveis os estados alterados das respetivas perceções.
Burroughs estivera, igualmente, envolvido num caso mal esclarecido de que resultou a morte da mulher e o abandono do filho de ambos. Mas não fora necessário esse episódio, que ele sempre classificou de acidental, para que muitos dos que o conheceram o descrevessem como alguém de intratável…
O documentário de Yoni Leiser aborda tudo isso e não será por ele que ficaremos a apreciar melhor um escritor sobrestimado devido aos escândalos em que se envolvia. Porque, na realidade, quem hoje ainda tem paciência para ler páginas e páginas de onanismo literário?



DIÁRIO DE LEITURAS: «O Arquiteto» de Keith Ablow (3)

Nos dois textos anteriores já víramos que Frank Clevenger é um psiquiatra forense convidado a colaborar com o FBI no esclarecimento de um conjunto de crimes perpetrados em diversas cidades americanas e tendo por vítimas pessoas de famílias endinheiradas, todas elas com um órgão do corpo dissecado com uma meticulosidade macabra.
Mas quase toda a investigação de Frank é perturbada com o que está a ocorrer nessa altura a Billy, o seu filho adotivo. Este aparecera alcoolizado e drogado na casa da mãe do seu filho recém-nascido e inspirara-lhe uma reação de pânico. Razão bastante para ser encaminhado para uma casa de correção prisional.
“Clevenger fechou os olhos e deixou a cabeça pender. Estava sempre à espera de ouvir o pior acerca de Billy. Tinha sido assim durante anos: o constante sentimento de uma catástrofe iminente, a batalha constante para trazer luz a uma vida que parecia tender, quase inexoravelmente, para a escuridão. E o que se tem de enfrentar quando se tenta virar as páginas de uma história assente em capítulos anteriores cheios de sofrimento. As crianças são bem menos resistentes do que as pessoas pensam.” (pág. 64)
Enquanto Clevenger tenta minimizar os danos causados por Billy, o psicopata West Cross recebe uma notícia exaltante, quando ainda está em Miami a ultimar o iminente relacionamento profissional com a família Rawlings: o presidente quer contratá-lo para projetar a expansão da Ala Oriental da Casa Branca onde pensa criar um museu destinado a obras de artistas oriundos de países «libertados» pelos exércitos do Tio Sam.
Keith Ablow apresenta o presidente Buckley como uma cópia de george w. bush, com o mesmo conservadorismo radical e a noção messiânica de um mundo dividido entre o Bem e o Mal, que deve ser purificado. Embora procure criar algum distanciamento, o autor do romance não consegue ser bem sucedido nesse propósito, sendo evidente a simpatia com a expressão de um imperialismo puro e duro.
E West Crosse comunga essa ilusão de ser mero instrumento de uma vontade divina: “Acreditava que as famílias que solicitavam a sua ajuda eram direcionadas para ele pela mão de Deus. Acreditava que elas sabiam inconscientemente que a arquitetura das suas vidas era deficiente e que precisavam de um agente da Verdade para as ajudar a reconstruir-se.
O presidente Buckley não era diferente. Intuíra, a um nível para lá das palavras ou do pensamento, que Crosse tinha o poder e a vontade para o ajudar a aperfeiçoar a sua existência. Por que outra razão confessaria que o seu casamento e o seu futuro político estavam a ser ameaçados pela filha retardada?” (pág. 70)
A exemplo do que constatara nos seus crimes anteriores, Crosse detetara nessa filha deficiente mental o obstáculo a que a arquitetura familiar da família presidencial almejasse a perfeição. Urgindo, pois, corrigi-la! 

domingo, abril 19, 2015

SONORIDADES: Areti Ketime

Numa altura em que as marionetes que lideram as instituições europeias e o FMI a mando do poder financeiro fazem tudo para humilhar e oprimir ainda mais os gregos, fiquemo-nos para já com um excelente exemplo da sua música através da excelente Areti Ketime. 

DIÁRIO DAS IMAGENS EM MOVIMENTO: «Heimat» de Edgar Reitz (2013)

Jakob Simon, o protagonista de «Heimat», constata que os vizinhos, quando partem, levam tudo consigo, até mesmo os penicos.  “”Eu partirei sem nada”, é a sua aposta. Não levará malas, nem ferramentas, nem os utensílios com que se preparam as salsichas de batata - em suma, os patéticos bens que enchem as carroças dos emigrantes de Hunsrück, uma região da margem direita do Reno, onde fica Schabbach, a aldeia onde sempre viveu a família Simon. Mas não se esquecerá dos livros nem de uma côdea de pão negro.
A meio do século XIX, entre 1842 e 1844, o clima desfavorável, as más colheitas e os abusos da aristocracia originam um enorme êxodo dos camponeses de Hunsrück,  fartos da miséria e frio. Famílias inteiras optam por uma viagem sem retorno para o Brasil, que veem como autêntico eldorado, tal qual lhes fora descrito pelos agentes do imperador D. Pedro II, que andavam pelas tabernas a pagar copos e a arengar sobre amanhãs que cantam sob os trópicos.
Trata-se de um episódio histórico, pouco conhecido para quem julgava só ter havido emigração de alemães á conta das perseguições do III Reich. E que Edgar Reitz achou particularmente oportuno nesta altura em que a Alemanha tem sérios problemas demográficos, que justificam o fascínio dos emigrantes económicos oriundos da Ásia ou da África.
Jakob quase se vira expulso de casa pelo progenitor, que se fartara das desculpas do filho mais novo para faltar ao trabalho nos campos, quando todos os aldeãos se empenhavam na colheita de batatas.
O ferreiro Johann Simon ameaçara: “Eu dou cabo de ti se te volto a apanhar!”. Mas de pouco lhe vale deitar fora os livros, que apanha ao rapaz, porque ele passa o tempo a sonhar de olhos fechados para melhor imaginar as paisagens descritas nessas páginas, que devora, e por onde aprende os dialetos dos índios brasileiros.
Interpretado por Jan Dieter Schneider, Jakob é um herói romântico por excelência. Filho de camponeses, integra a primeira geração alfabetizada da região depois de se ter visto anexada pelo vizinho prussiano.
No vocabulário dos aldeões ainda sobram muitas expressões francesas e um velho tio canta temas republicanos do tempo em que a região, conquistada por Napoleão, estava integrada na França.
Em Jakob encontra-se a comunhão com a natureza, a aspiração pela liberdade, um amor contrariado e o gosto pela ciência.
Estão aqui presentes as características fundamentais do romantismo, mas diluídas num ambiente de grandes privações.
Chega o inverno e ele torna-se particularmente funesto com a morte de sete crianças num só dia em Schabbach. O enterro coletivo com as silhuetas negras enfileiradas numa ponte coberta de neve a cruzarem-se com mais uma caravana de emigrantes constituem duas linhas oblíquas, que ilustram o momento visualmente mais fascinante do filme.
Para encerrar o seu projeto Edgar Reitz decidiu-se pela versão em cinema em vez da televisiva, que tanto sucesso obtivera nas décadas anteriores. Em vez do século XX, apostou numa prequela a preto-e-branco e em cinemascope, que confere aos fotogramas uma ilusão de tridimensionalidade.
O resultado é magnífico! 

SONORIDADES: os Kraftwerk hoje no Coliseu

Provavelmente hoje será o dia em que ocorrerá o concerto mais importante do ano em palcos nacionais: será no Coliseu de Lisboa e terá como protagonistas os Kraftwerk. Seguindo-se amanhã o concerto no Porto.
E, no entanto, só há sete ou oito anos dei ao grupo alemão a relevância, que já lhe era então reconhecida internacionalmente. O estímulo aconteceu na Gulbenkian com uma vídeo-instalação do Noé Sendas intitulada «We are not the robots», que tinha por leitmotiv um dos mais conhecidos temas dos finais dos anos 70.
Claro que conhecia-lhes esse e outros títulos, mas arrumava-os na mesma gaveta mental onde já estavam os «Can» ou os «Tangerine Dream», outras formações alemãs dos anos 70, cuja sonoridade me fora assaz agradável.
A caução da respeitável instituição da Avenida de Berna foi determinante para dar atenção a quem considerava os Kratwerk bem mais do que um mero grupo musical, integrando-os na classificação de obra de artistas conceptuais, ou não fossem os seus temas autênticas pinturas musicais associadas a imagens e à performance  dos seus intérpretes.
Para o influente crítico Paul Morley eles revelaram-se bem mais influentes na música popular das últimas décadas do que os Beatles devido a essa relação estreita entre a música e a componente visual, que justificou o convite dos mais importantes museus do mundo para que deles fizessem exposições de referência.
O percurso do grupo iniciara-se na viragem dos anos 60 para os 70, quando a juventude alemã procurava dissociar-se dos fantasmas do nazismo e orientara-se para o desejo de um outro tipo de sociedade. Para Rolf Hütter e os seus companheiros a resposta traduzia-se na música pós-humana, que começaram a criar na sua relação simbiótica com as máquinas. Eram sons que sinalizavam um novo futuro dominado pela tecnologia onde seria possível conjeturar uma relação harmoniosa, serena e funcional entre o homem e a máquina, entre a arte e a vida quotidiana.
Desde então os Kraftwerk passaram a ser vistos como intemporais, austeros e misteriosos, cada vez mais admirados pelo conceito de atuações ao vivo em que as vozes robóticas se passaram a interligar com a manipulação dos equipamentos informatizados pelos seus criadores.
Reconhece-se-lhes igualmente o papel de anunciadores de um futuro iminente: quando publicaram o álbum «Computer world» em 1981, os Kraftwerk ainda nada sabiam da criação de computadores pessoais que a IBM estava prestes a anunciar para revolucionar o mundo moderno da forma como hoje sabemos. E ainda os ecologistas estavam reduzidos a pequenos grupos de excêntricos, quando alertaram para os perigos da energia nuclear em «Radioactivity» (1975).
Teremos, pois, um excelente concerto em 3D  a que, infelizmente, não poderei comparecer, porque outros valores mais altos se alevantam. Mas que terei muita pena, lá isso tenho! 

sábado, abril 18, 2015

DIÁRIO DE LEITURAS: «O Arquiteto» de Keith Ablow - (2)

Vimos no texto anterior, que andamos a acompanhar um tipo de autor inimaginável nestas páginas: um frequentador assíduo dos programas da Fox News onde costuma dar asas à sua visão ideológica mais do que conservadora. E, embora o criminoso do livro tenha características bastantes para o execrarmos, é notório o fascínio que exerce em quem o criou, como se dele fosse um alter ego pouco apresentável, mas notoriamente mais interessante do que a versão normalizada com que tem de se conformar.
Basta ver a preocupação do psicopata em não causar sofrimento às suas vítimas: “Não estava zangado com estas pessoas. Nada de excessos nas matanças. Primeiro põe-nas a dormir com clorofórmio. Quer matá-las, mas não quer que elas sofram. (…) E só disseca uma área do corpo. De modo limpinho e impecável” (pág. 20)
E porque esse West Crosse é um arquiteto demasiado cioso da perfeição das suas obras, o autor cola-lhe uma antipatia quase visceral pela escola de Bauhaus e as que lhe seguiram as pisadas: “Alimentados por uma visão socialista e anti burguesa do mundo, não viam razões para o conforto das criaturas, não via espaço para indulgências como tetos de abóboda, molduras em cora, colunas, cornijas, janelas panorâmicas, revestimentos, plantas ou tapeçarias. Nem sequer havia necessidade de cor. Tal como Le Corbusier afirmara, ‘a casa é uma máquina para habitar’”. (pág. 26)
Procurando identificar quem anda a assassinar e dissecar pessoas pertencentes ao estrato mais endinheirado da sociedade norte-americana, Frank Clevenger vai a São Francisco para falar com Shauna Groupmann, a jovem viúva de uma das vítimas. Surpreende-o a forma relativizada como vive o desgosto da perda, mas depressa compreende o porquê: o casamento era uma fachada, já que Jeffrey era homossexual e aceitava que ela vivesse sob o mesmo teto com David, o seu irmão gémeo.
No entretanto, Frank também já convocara North em seu auxílio: “eram parceiros há sete anos. O tempo suficiente para terem visitado juntos centenas de cenas de criem e morgues, para terem entrevistado sucessivas dezenas de assassinos, violadores, pais, irmãs, irmãos e filhos enlutados, observando-se depois um ao outro enquanto tentavam levar uma vida normal apesar de tudo.” (pág. 44)
Crosse desloca-se, entretanto, a Miami para ser contratado pelo casal Rawlings, que tem uma vasta propriedade no Montana. Antes de para ela lhes criar a casa de retiro pretendida, consegue perceber que Ken pertencera à Fraternidade da Caveira e dos Ossos em Yale e tinha a assistente Maritza por amante.
“Para Crosse, compreender uma família não era realmente diferente de compreender o edifício a que essa família iria chamar o seu lar. Esse lar ou contava uma verdade ou uma mentira. Ou libertava a energia daqueles que viviam no seu interior, ou sufocava-a. Ou era o Bem que presidia aos seus alicerces ou era o Mal.”(pág. 62). 

DIÁRIO DAS IMAGENS EM MOVIMENTO: Eddie Marsan num filme em que faz de protagonista

A primeira vez que Eddie Marsan me chamou a atenção foi num pouco conhecido mas agradabilíssimo filme de Mike Leigh - «Happy-go-Lucky» - em que fazia o papel de um instrutor de condução, que procurava ensinar a maravilhosa Sally Hawkings a conduzir.
Não quer dizer que já não tivesse aparecido em inúmeros filmes, que anteriormente tivesse visto, mas ele tem o rosto e o aspeto físico capaz de garantir uma carreira apreciável em papéis secundários, que raramente nos ficam na memória.
No entanto estreou-se agora em França um filme de 2013 em que faz o papel principal: em «Still Life» de Uberto Pasolini  ele é John May, modesto empregado de uma empresa cujo negócio consiste em encontrar a família de quem morreu sozinho em casa. Como é frequentemente mal sucedido vê-se na contingência de assistir sozinho aos enterros desses solitários para os quais chega a preparar elogios fúnebres personalizados.
Ele próprio tem razões para se identificar com os “clientes”: vive sozinho num modesto apartamento nos subúrbios de Londres, ritmando os dias pelo pequeno almoço sempre igual constituído por uma chávena de chá, uma caixa de paté e uma maçã laboriosamente descascada.
E não é difícil encontrar similitude entre esse John May e o próprio Eddie Marsan, que o interpreta, pois também ele se revela discreto, meticuloso e apaixonado pelo que faz.
Numa entrevista recente o ator confessava: “para mim, ser ator é como ser músico. Faço parte de uma orquestra: uma vez que te sentas com outros músicos, todos trabalham em conjunto. E isso sucede, estejamos em Londres, Paris ou Los Angeles”.
As suas feições comuns - o nariz achatado, o rosto largo, os olhos azuis - já lhe permitiram trabalhar com alguns realizadores de referência nos últimos vinte anos:  Mike Leigh, Martin Scorcese, Michael Mann, Terrence Malick ou Alejandro Gonzalez Iñarritu. Foi aliás com o papel oferecido por este último em «21 gramas» - o do reverendo - que se lhe abriram as portas para o cinema americano.
Nesta altura ele está em  Los Angeles a rodar mais uma temporada da série «Ray Donovan em que faz de irmão mais velho do protagonista e segue sempre o seu método: “gosto de me levantar cedo, ficar sozinho a fazer meditação, concentrar-me e tomar o pequeno almoço antes de iniciar o dia de trabalho”.
E é lúcido nos seus limites: “não sou uma estrela de cinema. Sou um ator, é esse o meu trabalho. E os realizadores precisam de tipos como eu com quem possam contar, para que se concentrarem nas vedetas que, essas, precisam de muito mais atenção. (…) Se eu tivesse outro rosto, nunca teria tido esta carreira. Se os homens quisessem ser como eu e as mulheres sonhassem dormir comigo até é possível que tivesse sido uma dessas vedetas. Mas só a minha mulher é que aceita deitar-se comigo e, eu próprio, não gosto de ser quem sou.” 

sexta-feira, abril 17, 2015

IDEIAS: O Cosmos segundo Michel Onfray

Dos filósofos atuais, Michel Onfray é decerto um dos que mais interesse me motiva. Não propriamente por concordar com tudo quanto diz - longe de mim execrar Freud, como ele o faz! - mas o acompanhar em duas vocações: a de hedonista e a de enciclopedista. Como dizia Terêncio na Roma Antiga “Eu sou homem e nada do que é humano me é estranho. ”
No seu mais recente ensaio, acabado de publicar em França - «Cosmos - vers une sagesse sans moral», Onfray diz-se disposto a partilhar a herança recebida do pai, que à hora da morte o instara a continuar fiel a si próprio, ou seja a manter a preocupação com o lugar de cada um no conjunto do universo.
Há outra convergência minha com o ideário de Onfray: nenhum de nós carece de um qualquer deus. Por isso a busca do sublime é orientada para a arte ou para a natureza, onde é descortinável e pode rejeitar o niilismo que tanto compraz muitos dos que nos rodeiam.
Mesmo quando reconhece os malefícios da civilização, Onfray não o faz numa lógica apocalítica, mas no quanto ela nos priva das sensações mais gratificantes: “a civilização desnaturou o animal que existe em nós para nos transformar em testemunhas passivas do mundo e privar-nos da capacidade de saber cheirar ou degustar”.
Um desses danos é a privação de olharmos o céu e vermos as estrelas. Ele apercebeu-se disso mesmo numa noite em que estava na Mauritânia e nenhuma poluição urbana se detetava num raio de muitos quilómetros.  Foi-lhe fácil concluir sobre a impossibilidade dos filhos do betão, do cimento e da luz artificial conseguirem enraizarem-se no cosmos.
Hoje as pessoas estão dissociadas do céu, que tanto importa despoluir. Porque ao ser-nos quase invisível, priva-nos precisamente de uma das tais possibilidades de sublime. Aquela em que perante a constatação de algo de uma dimensão incomensuravelmente maior do que nós próprios nos permitiria o deslumbramento com uma indizível majestosidade.
Há pois uma mundividência em perigo perante esta sociedade que nos obriga  a acelerar sempre mais. “Vivemos mais depressa porque a queda da nossa civilização está-nos a arrastar na velocidade com que ela declina”.
Onfray não poupa, igualmente, o papel das religiões: “Mergulhados nos lençóis judaico-cristãos, deixámos que desaparecessem as verdades pagãs”. Muito embora contemos com a ajuda da astrofísica, que tanto contribuiu para descristianizar os céu e o devolver à perceção dos primitivos.
Como não deixa de denunciar os muitos ecrãs, que tomam a maior parte dos nossos dias - nos telefones, nos computadores, nas televisões - esse tempo virtual que nos dissocia do tempo cósmico. Ainda que haja quem denuncie a hipocrisia de Onfray, por habitar frequentemente esses mesmos ecrãs para lhes denunciar os supostos malefícios.
Mesmo que eivado de algumas contradições o grande animador da Universidade Popular de Caen continua a propor linhas de reflexão bastante estimulantes. 

quinta-feira, abril 16, 2015

DIÁRIO DAS IMAGENS EM MOVIMENTO: A escolha do protagonista de «Heimat»

Um dos melhores filmes, que vi este ano –muito embora date de 2013! - é «Heimat», que o alemão Edgar Reitz rodou em duas partes como prequela da série televisiva por ele rodada entre 1984 e 2004.
Se então abrangera toda a história alemã no século XX, entre 1919 e 2000, com os dois filmes para cinema decidiu regressar à mesma região quando o século anterior ia a meio.
O ator escolhido para protagonizar o filme foi Jan Dieter Schneider, que interpreta o papel de Jakob, o filho mais novo de uma família de ferreiros decidido a emigrar de uma Alemanha paupérrima para demandar a América do Sul de cujos índios se esforça por conhecer os dialetos.
Enquanto em Schabach só pode esperar a miséria e a tuberculose, a aventura atlântica promete-lhe esperança e liberdade.
Mas Edgar Reitz  confessa terem passado vários meses até conseguir encontrar quem melhor interpretasse tal personagem. “naquele dia já estávamos todos fatigados e até desencorajados, porque continuávamos sem encontrar o Jakob, que pretendíamos. Dei a Jan um extrato do diário de Jakob, pu-lo em frente à câmara e pedi-lhe para interpretar o papel do autor desse texto.  E foi sem grande expetativa, que ligámos a câmara.
Quando vimos o resultado num ecrã ficámos espantados. De todos os candidatos que testáramos até então, ele foi o primeiro que conseguíamos ouvir na leitura desse texto de um estilo fora de moda.”
Estudante de medicina, Jan Dieter Schneider nunca ponderara na possibilidade de se vir a tornar ator e fora quase por acaso que se sentira desafiado a participar no casting. E ainda bem que o fez, porquanto muito do encanto de «Heimat» a ele se deve. 

DIÁRIO DE LEITURAS: «O Arquiteto» de Keith Ablow - (1)

Se, antes de pegar neste romance policial, conhecesse a biografia do autor, atrever-me-ia a pegar nele? Quase por certo não!
Um republicano, que costuma participar na Fox News, acha Newt Gringrich um candidato interessante à Casa Branca e se atreve a fazer diagnósticos psiquiátricos em direto sobre pessoas com quem nem sequer falou, não constitui propriamente curriculum merecedor de com ele perder muito tempo.
Chegado a esta idade, já não estou propriamente incomodado com o que é ou não «politicamente correto», permitindo-me exprimir sem reservas os estados de alma relativamente a tudo quanto me apeteça. Há estímulos, que muito me deslumbram - como é o caso de algumas das fotografias de Sebastião Salgado atualmente expostas na Cordoaria Nacional - outras pelas quais não me contenho na expressão de ódiozinhos de estimação. Por exemplo nunca, por nunca, me sentaria depois de amanhã no Grande Auditório do CCB a ver a cavaquista katia guerreiro!
Mas, porque li o romance de Ablow sem cuidar quem ele era, não me deixei guiar pelas reservas, que esse conhecimento prévio implicaria. Muito embora convenhamos que, mesmo querendo disfarçar, o reacionarismo ideológico do autor acabe por emergir aqui e além.
Vamos lá então iniciar uma viagem pelo romance, dividindo a abordagem  ao longo dos próximos dias.
No início temos o contacto com o protagonista, Frank Clevenger que, a exemplo de Ablow, é psiquiatra. Convocado ao FBI é-lhe feito o desafio de tentar esclarecer a autoria de cinco horríveis crimes cometidos contra pessoas pertencentes à classe mais endinheirada dos EUA, e com uma especificação grotesca em todos eles: uma parte do corpo, sempre diferente - o coração, o rim, o colo do fémur, etc. -, dissecada com a competência de um anatomista.
Pelo que se sabe todas as vítimas terão sido neutralizadas com clorofórmio e depois envenenadas mediante a administração de um poderoso fármaco.
Na investigação, Frank irá deparar com alguns condicionalismos: o principal é o filho adotivo, Billy, por cuja educação se responsabilizara depois de o salvar, quando contava 16 anos e fora injustamente acusado da morte da irmão mais nova. Agora, já pai de uma criança, a que é indiferente, entrou num gang onde os combates ilegais e a droga são realidades quotidianas.
Outro condicionalismo de Frank é o alcoolismo. Muito embora procure controlar-se, o psiquiatra passará uma boa parte do romance a ingerir quantidades imoderadas de álcool.
E, depois, há Whitney, a diretora da Unidade de Ciências do Comportamento do FBI, que fora quem o convocara e que bem gostaria de iniciar uma relação estável com ele, mas se sente inibida pela intromissão contínua do futuro enteado e com o vício do amante.
Frank e Whitney “eram extraordinariamente compatíveis a nível intelectual, igualmente fascinados pela psique humana e as suas patologias, ambos de mentes obstinadas que analisavam sem cessar os problemas até os solucionarem.” (pág. 18)