sexta-feira, março 25, 2016

DIÁRIO DE LEITURAS: «Segundo Queeney» de Beryl Bainbridge (2001)

Iniciei a leitura deste romance com alguma expetativa tendo em conta que havia quem afiançasse ter merecido Beryl Bainbridge integrar a lista dos cinquenta melhores escritores da Inglaterra no século XX. Ademais conseguira figurar na reservada seleção dos pré-candidatos ao Booker Prize, mesmo não o tendo chegado a receber.
Acresce que escolhera como protagonista o escritor e filósofo Samuel Johnson, que é tido como um dos mais brilhantes intelectuais do século XVIII, e sobre o qual encontrava oportunidade de o fazer sair da ignorância até agora assumida quanto à sua importância.
Duas centenas de páginas depois confesso algum desapontamento, porque nunca consegui empatia com a história nem com a forma de a desenvolver. Ter chegado ao fim exigiu alguma determinação, porque a vontade de desistir apareceu amiúde durante essa leitura.
Se quisesse informação ao nível do que me era acessível há cinquenta anos, quando estavam nas livrarias os títulos de uma coleção chamada «A Vida Quotidiana no Tempo de…», o romance de Beryl Bainbridge serviria às maravilhas: ela consegue demonstrar como era o dia-a-dia da alta burguesia inglesa, através do casal Thrale cuja fortuna se devera a uma fábrica de cerveja.
No romance eles apercebem-se da saúde problemática de Samuel Johnson e albergam-no na sua mansão de Streatham Park. Tão só recuperado, e embora já não ande longe da condição sexagenária, ele apaixona-se perdidamente pela anfitriã, Hester, muito embora nunca vá além do desejo platónico.
Ela apercebe-se dessa atração nunca consumada e, porque lhe satisfaz a vaidade, vai alimentando-o nos anos seguintes, nunca deixando de estar permanentemente grávida do marido e nem se furtando a flirts mais ou menos explícitos com outros potenciais amantes.
Vamos acompanhando os dezoito anos em que decorrem as permanentes festas, viagens e passeios dessa pequena corte de enfastiados ociosos através do olhar enciumado e muito crítico de Queeney, a filha mais velha de Hester, a quem nada passa despercebido.
Porque poucos acontecimentos ocorrem, o livro suscita o tédio, que evolui a par do dos personagens.
Quando Henry Thrale acaba por morrer, depois de anos de pantagruélicas refeições, Johnson ainda alimenta a possibilidade de, enfim, conseguir consorciar-se com a inacessível amada. Mas já ela anda perdida de amores pelo professor de canto de Queeney, dispondo-se a segui-lo para Itália mesmo deixando as filhas ao deus dará.
A lenta degradação física de Johnson acelera-se, quando vê desfeitas de vez as suas ilusões acabando por suscitar exéquias pomposas e oficiais, quando morre em 1784, aos 75 anos. 

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