quarta-feira, março 23, 2016

DIÁRIO DAS IMAGENS EM MOVIMENTO: A viagem do elefante

Se ontem abordava a nova temporada dos programas de Paula Moura Pinheiro na RTP2, retomo-a porque o episódio dedicado aos elefantes, que suportam os túmulos de D. Manuel I, de D. João III e das respetivas rainhas no Mosteiro dos Jerónimos merece referência.
Francamente não me recordo se, em pretéritas visitas ao monumento de Belém, vislumbrei os animais em causa  e me interroguei sobre a sua razão de ser. Se aconteceu já foi há tanto tempo, que a sua memória esvaiu-se. Mas faz todo o sentido a explicação de António Camões Gouveia que relaciona esses pormenores arquitetónicos com a embaixada enviada ao papa Leão X pelo rei venturoso em 1514. Aquela que valeria aos portugueses o incómodo da duradoura má fama de «cravas» então ali deixada pelos seus antepassados.
Nessa altura havia uma enorme ambição em D. Manuel nessa ação de propaganda, que estava certo de impressionar o sumo pontífice por integrar um elefante: se Roma já reconhecera a Maximiliano I da Áustria o título de Imperador do Ocidente, o monarca sonhava com a possibilidade de ver-se reconhecido como o Imperador do Oriente. Até porque estava a abrir à Igreja Católica o acesso a novas latitudes onde a missionação poderia desenvolver-se, como não tardaria a suceder com os jesuítas e os franciscanos.
O sucesso da utilização do elefante foi tal que o rei seguinte, D. João III, também enviou outro numa embaixada a outro Maximiliano austríaco, seu primo, e que possibilitou a José Saramago uma das suas obras mais entusiasmantes.
Voltando à «Visita Guiada» ainda houve tempo para lembrar outra embaixada enviada por D. Manuel I ao mesmo papa, mas que acabou mal, porque o navio onde lhe enviava o rinoceronte, depois objeto de obra famosa de Albrecht Dürer, acabaria afogado num naufrágio na baía de Génova.
Se depois de tudo isto ainda possa haver saudosistas capazes de elogiar os programas de um antigo ministro de Salazar onde se inventava a História, mais do que se a ensinava, será matéria de estudo patológico.

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