quinta-feira, março 03, 2016

PALCOS: «Amok» na Ópera de Reims (2)

A ópera «Amok» de  François Cattin e Orianne Moretti, recentemente levada à cena em Reims e em La-Chaux-du-Fond, aborda a história amorosa de Alma Mahler com o pintor Oskar Kokoschka, oportunidade para irmos acompanhando o percurso de tais figuras marcantes do início do século XX numa história, que misturou talento artístico, amor e loucura.
Em 1910 já a bela Alma estava entediada com a sua vida de mãe de família tornando-se amante do arquiteto Walter Gropius. Apaixonadíssimo por ela, o futuro expoente da Bauhaus envia-lhe uma carta inflamada a propor-lhe que deixe o marido e se case com ele, mas a carta vai parar às mãos de Gustav.
É a catástrofe na relação conjugal dos Mahler: Gustav decide divorciar-se e fala disso a Freud, que o tenta acalmar. Decide depois reconquistá-la, mas já é demasiado tarde: uma infeção generalizada causa-lhe a morte aos 50 anos, em 18 de maio de 1911.
Onze meses depois de enviuvar, Alma encontra Oskar Kokoschka.
Nascido numa pequena aldeia das margens do Danúbio, ele estudara na Escola das Artes Aplicadas em Viena e começara a expor as suas obras, entre as quais os primeiros autorretratos no verão de 1908.
Em 4 de julho de 1909, durante uma exposição no Wiener Werkstätte, apresenta aquele que é considerado o primeiro drama expressionista, intitulado «Assassino, esperança das mulheres» e tendo por tema o conflito entre Eros e Tanatos.
Quem o viu conta como era um espetáculo impressionante graças às Amazonas a empunhar tochas e, sobretudo, à cena do crime em que o homem ficava todo coberto de sangue perante a mulher vestida de branco.
A peça chocou a audiência e o próprio cartaz causou escândalo. A assistência amotinou-se, obrigando Karl Kraus e Adolf Loos a pedirem a intervenção policial para que fosse reposta a calma.
Nos dias seguintes, e muito antes de ver a expressão consagrada pelos nazis, a imprensa vienense classificou Kokoschka de artista degenerado.
Cortando o cabelo como se fosse um recluso, decidiu provocar as elites. E começou a pintar uma série de retratos sobre os artistas mais relevantes da cena artística da cidade, entre os quais Carl Moll.
Será numa receção em casa deste mesmo Moll, que Alma conheceu Oskar em 12 de abril de 1912.


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