sábado, março 19, 2016

DIÁRIO DAS IMAGENS EM MOVIMENTO: «Citizenfour» de Laura Poitras

Só vi «Citizenfour» um ano depois de ter ganho o Óscar para o Melhor Documentário, por sinal bem merecido. E a esta distância só podemos lamentar que, entretanto, Edward Snowden tenha saído da atualidade e as suas denúncias não resultem em mudanças efetivas no que causou o escândalo denunciado.
Durante algumas semanas foi evidente o embaraço da Administração Obama por, em vez de ter corrigido uma tão chocante utilização do Patriot Act para violar os direitos e garantias individuais, a ter aprofundado a uma dimensão  tal, que não é absurdo considerar que quase todos os cidadãos ao nível planetário estão a ser sujeitos a vigilância. O Big Brother orwelliano não nasceu em nenhuma ditadura comunista como o temia o ingénuo escritor inglês, mas é produto da versão mais odiosa de capitalismo selvagem.
O filme de Laura Poitras enaltece a coragem de um jovem talentoso, que intuiu o monstro em que estava a trabalhar e, de forma muito consciente, preparou a sua revelação através de jornalistas em quem depositou a sua confiança. E se, à partida o próprio Glenn Greenwald, do «The Guardian», pareceu temer uma perspetiva demasiado paranoica da realidade, os ficheiros recebidos tiraram-lhe todas as dúvidas. Até o recurso a um simples telemóvel dá à NSA a capacidade para saber imenso sobre cada um de nós: quem contactamos, o que dizemos nos nossos mails, que sites consultamos na net, por onde andamos, etc.
É claro que muitos defenderam a existência desse Estado policial em nome da eficiência na luta contra o terrorismo pois só assim se conseguiriam abortar muitas ações do fascismo islâmico contra as sociedades ocidentais. Mas seria bem mais eficiente, que os EUA e a Europa orientassem a estratégia antiterrorista contra quem financia as Al Qaedas ou os Daeshs em vez de com eles manter um relacionamento cordial, como sucede com os regimes da Turquia, do Qatar ou da Arábia Saudita.
A melhor prenda que se pode dar aos terroristas é aceitarmos a alienação das liberdades básicas de que eles nos querem privar. A começar pelo direito à nossa privacidade.

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