Quando penso em westerns clássicos é inevitável lembrar John Ford. Porque foi ele quem reivindicou a condição de realizador desse tipo de filmes numa célebre reunião em Hollywood em que defendeu os colegas perseguidos pelo macartismo, e porque não houve quem filmasse melhor a paisagem - bela de tirar o fôlego! - de Monument Valley. Além de inserir um oportuno, mas insólito lirismo, no ambiente brutal do Oeste Selvagem.
Mas o western desse período áureo do pós-guerra não se resumiu a Ford. Houve também Howard Hawks, Raoul Walsh … e Anthony Mann!
Antes de chegar ao western - para nele assinar alguns dos seus títulos mais interessantes - Mann realizara um conjunto de filmes policiais muito meritórios.
«Esporas de Aço» é de 1953 e nele demonstrou a sua característica austeridade. Os outros realizadores apostavam seriamente nas cenas de ação e na exacerbação de sentimentos dos personagens. Mann, pelo contrário, apostava na contenção, cingindo a um ataque de índios o momento mais movimentado do filme, e fazendo com que os atores desteatralizassem as situações dramáticas.
Filmado na região de Durango, onde não faltavam as paisagens de montanha e de cascatas, integrou-as no filme como se fossem mais um personagem a associar-se aos cinco de carne e osso.
James Stewart é Howie, um antigo soldado sulista e agricultor. Milliard Mitchell faz de Jess, que fora garimpeiro. Ralph Meeker é Roy, ex-oficial do exército da União.
Os três conseguiram capturar Ben - interpretado pelo sempre excelente Robert Ryan - por quem era oferecida uma recompensa de 5 mi dólares, morto ou vivo.
Se Howie aposta em entrega-lo com vida, os dois sócios não estão assim tão convencidos, já que lhes importa sobretudo o prémio.
Para dar um toque feminino ao argumento também surge a jovem Janet Leigh, ainda muito antes de ser assassinada no banho em «Psico».
Ela é apresentada como a namorada do melhor amigo de Ben, de cuja inocência não duvida.
Ao longo da viagem pela natureza selvagem, as dúvidas vão-se esclarecendo: Jess também é convencido por Ben da sua inocência e, quando se distrai, já foi abatido à queima-roupa. E a armadilha, que ele prepara para se livrar de Howie e Roy só não resulta porque Lina compreende a tempo a sua ilusão e desmascara-o.
Na troca de tiros, Ben morre e cai à água, levando Roy a mergulhar na corrente para recolher o corpo, com que comprovaria o merecimento da recompensa. Mas um tronco atinge-o e ele desaparece.
A Howie e a Lina resta-lhes partir juntos para o primeiro dos dias do resto das suas vidas.
Temos, pois, uma história em que quatro homens e uma mulher espreitam-se, desafiam-se, confrontam-se e abatem-se.
Como de costume no género há um bom (Howie), um mau (Roy) e um ainda pior (Ben).
No ritmo lento, em que Mann se compraz na revelação psicológica dos personagens, Howie é o homem rústico, sem nada de visionário nem de romântico. É teimoso, não muito esperto, embora experiente por tudo quanto até então vivera. Muito diferente, pois, do arguto Ben ou do corajoso e bem humorado Roy, mesmo que ambos não demonstrem quaisquer escrúpulos.
Nesse sentido Mann - que foi sempre uma espécie de tarefeiro dos estúdios, passando por quase todas as tarefas até chegar à realização - tem em Howie uma espécie de alter ego.
Sessenta anos depois da sua estreia, «Esporas de Aço» é um dos melhores exemplos do que era um western na sua época áurea...
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