1. Num conto em que evoca o amigo Osvaldo Soriano, Luís Sepúlveda demonstra como tantas vezes são as histórias que vêm ter com quem escreve: “Cortazar afirmou que era absurdo andar à procura de histórias, porque elas estão agachadas, escondidas, pacientemente à espera do escritor, que terá a missão de as escrever.” (pág. 39)
É nesse sentido que Sepúlveda dá com um criminoso transformado num farrapo humano no bar onde bebe um copo com Osvaldo. No seu discurso incongruente consegue-se perceber que estivera envolvido no atentado que, nos anos 80, havia sacudido Buenos Aires e causado oito dezenas de vítimas mortais entre os frequentadores da sinagoga onde a bomba explodira.
Quando os dois escritores procuravam indagar mais detalhes desse crime mal esclarecido pelos políticos e pelos tribunais argentinos, entram dois homens de aspeto ameaçador que levam o ébrio do bar.
Terá sido essa a última vez que os dois amigos tinham estado juntos.
2. O conceito de tempo muda totalmente quando se penetra na Patagónia. Porque diz quem ali vive que “apressar-se é a melhor maneira de não chegar, e só têm pressa os que fogem”. (pág. 44)
É nesse estado de espírito que Luís Sepúlveda e Daniel Mordzinski visitam a vasta região e encontram um estranho personagem a quem começam por perguntar para onde vai e ele lhes responde com uma frase logicamente inatacável:
“ - Para a frente, como quase toda a gente!”.
Mas antes já lhes tinha transmitido a forma singular de comunicar com os outros, já que, questionado como estava, respondera:
“ - Cá estamos entre o céu e a terra!”.
Fascinados por tal personalidade, Luís e Daniel ajudam-no a procurar um violino na estepe batida por uma tempestade de areia. Mas afinal o “violino” era um barrote de madeira, em tempos vindo da Índia para ser utilizado na construção do caminho-de-ferro. E que iria transformar-se num instrumento musical nas mãos do hábil «luthier», que estavam ali a conhecer. E cujos clientes eram as mais conhecidas orquestras mundiais.
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