quinta-feira, dezembro 18, 2014

HISTÓRIA: Dez anos depois do tsunami

Ao nascer do dia de 26 de dezembro de 2004 um sismo de grau 9,2 na escala de Richter, com epicentro ao largo de Sumatra, provocou o tsunami mais destrutivo da História humana matando cerca de 230 mil pessoas em menos de dez minutos. Da Tailândia ao Sri Lanka, dois documentários deste ano tratam de recordar a catástrofe dez anos depois.
«Vidas depois do tsunami» de David Muntaner apresenta imagens inéditas de algumas das vítimas antes da tragédia e dos familiares, que lhes sobreviveram. A novidade é que a maioria dos filmes até agora conhecidos provinham dos turistas, que estavam nas estâncias balneárias na altura do drama. Por isso conhecemos muito mais o trauma por eles vivido do que o bem maior sofrimento das populações locais.
Foram, igualmente, elas quem enterraram os mortos e reconstruiram as aldeias. Por isso mesmo o realizador David Muntaner considerou de toda a justiça dar-lhes voz. O que filmaram? Quais as recordações que lhes ficaram? Como documentaram a catástrofe?
Através das imagens assim recolhidas é toda uma outra versão do tsunami, que nos é oferecida.
Essas vozes e rostos testemunham igualmente o que depois aconteceu: o regresso às casas destruídas, os funerais, o socorro, a procura de algum familiar desaparecido.
Lentamente, e à medida que o filme progride, a vida parece voltar à normalidade.
Por seu lado, «Face à vaga» de Helmut Voitl, adota uma outra perspetiva: na altura do tsunami, um casal de cineastas austríacos estava de férias na costa sudeste do Sri Lanka. Impressionados com a dimensão dos acontecimentos mobilizaram amigos e conhecidos para garantir apoio financeiro europeu destinado a reconstruir habitações para famílias, que as tinham perdido. Não imaginavam estar a agudizar as tensões religiosas já bastante exacerbadas entre as comunidades budistas e islâmicas.
Para eles o que contavam eram, mais do que os 38 mil mortos cuja vida já não poderia ser resgatada, os 500 mil sem abrigo. Numa espécie de reedição moderna das preocupações do Marquês do Pombal depois do terramoto de 1755.
Na zona onde estavam, Elizabeth e Helmut propõem, com o seu projeto «Giving Hope», a reconstrução de casas para vinte famílias budistas e setenta muçulmanas em função da proporção verificada entre as pessoas sem casa.
À medida que vão concretizando o plano, eles usam a câmara de filmar enquanto forma de manterem uma espécie de diário. É assim que vamos testemunhar o carácter pouco pacífico dos budistas, que espicaçados por monges radicais revelam um racismo execrável contra os vizinhos de outro credo religioso.
Se precisávamos de provas contra o carácter odioso e violento das religiões a experiência vivida pelos protagonistas deste filme dão-no-las à saciedade. Porque a generosidade do casal esbarra com a arrogância das autoridades e o fanatismo dos budistas. Não são poucas as ocasiões em que a possibilidade de se verem agredidos se torna bastante real.
Após esforços quase sobre-humanos conseguem entregar as casas previstas às famílias das duas comunidades, não sem terem de engolir o oportunismo dos políticos, que as inauguram como se tivessem contribuído para a sua concretização...

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