Pela primeira vez desde há um século, as lendas e testemunhos mais excêntricos sobre o Abominável Homem das Neves foram levados a sério por alguns cientistas, que lhes decidiram dedicar alguma atenção. De repente, já não bastavam os filmes de série B sobre essa personagem e os seus sucedâneos e constatámos a sua incursão no terreno das ciências da vida.
A justificação para esse interesse decorreu da descoberta em 2003 do esqueleto do Homem de Flores, na ilha indonésia do mesmo nome e confirmado como o representante de um ramo até então desconhecido dos primatas, no ramo dos hominídeos. Afinal, quando o homem de Neanderthal já tinha desaparecido de vez da superfície da Terra, ainda subsistia um outro ramo da evolução dos hominídeos num dos seus recantos mais periféricos.
Essa descoberta pôs em xeque a lógica determinista que descrevia a evolução progressiva dos hominídeos de ramo em ramo até culminar na “perfeição” do “homo sapiens”. A espécie de hobbit descoberta no grande arquipélago asiático comprovou a possibilidade, pelo menos académica, de terem coexistido - e porventura ainda coexistirem - diversos ramos dos hominídeos por muito que tenha prevalecido aquele a que pertencemos.
De súbito abriu-se a possibilidade de tropeçarmos com um yeti nos Himalaias, um sasquatch ou bigfoot nos Apalaches, um orang-pandek no Extremo Oriente e sabe-se lá quantos mais outros exemplares de ramos hominídeos ainda desconhecidos ou dados como extintos.
A questão que se coloca é esta: será possível que uma espécie de homem pré-histórico tenha podido sobreviver até aos tempos atuais?
A hipótese, tão absurda como ainda acreditar no monstro de Loch Ness, é levada a sério por alguns excêntricos, que reivindicam fundamentação científica. Indícios, que dizem dar-lhes razão, são alguns pelos diferentes de todos quantos se conhecem no mundo animal. Para já não falar das imagens turvas e distantes, que há quem reivindique ter conseguido captar desses seres míticos.
O documentário de Christophe Kilian acompanha diversas equipas pela América do Norte ou pela ilha de Sumatra para colher as possíveis imagens confirmatórias de tal teoria. Sem jamais as conseguir, como o nosso racionalismo tenderia a esperar!
Mais do que encontrar provas das crenças desses investigadores que tanto entusiasmo empenharam na sua defesa, o que as equipas de filmagens melhor fizeram realçar foi a vontade firme em querer encontra-las. Como se já não fossem bastantes os excessivos milhões de primatas bípedes, que andam a dar cabo do planeta e ainda se lhes quisessem acrescentar uns quantos mais.
Só podemos lamentar que os dececionados investigadores não levem o falhanço das suas viagens para o lado do humor ou da poesia. Porque valeria a pena abordar mais profundamente as razões que os levam a dar substância ao que, por agora, continua a não passar de um mito.
Por ora vamo-nos bastando com as milhentas variantes já conhecidas da comunidade humana em que estamos inseridos...
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