O novo telescópio espacial Herschel tem por missão a cartografia de toda a Via Láctea, a tentativa de descobrir como se formam e morrem as estrelas ou de como se organizam as galáxias.
Lançado em maio de 2009, trata-se de um equipamento da mais avançada tecnologia disponível. A um milhão e meio de quilómetros da Terra a nave abriu-se para que o gigantesco espelho no seu interior tomasse a posição prevista. A sua capacidade vai muito para além da mais distante luz visível, perscrutando os mais longínquos raios de infravermelhos e também é capaz de detetar as mais subtis diferenças de temperatura.
Os resultados obtidos são impressionantes: as poeiras e as nuvens de gás, que formam uma parte significativa da nossa galáxia tornam-se bastante mais nítidas, e detalhadas, como até então nunca tinham sido vistas.
Se há duzentos anos Herschel conseguisse antever o que este telescópio com o seu nome consegue alcançar, ficaria decerto ainda mais maravilhado do que quando passava noites inteiras na tarefa laboriosa de cartografar o que viam os seus olhos. E, no entanto, nessa altura ele já conseguia ver um estranho tipo de objetos até então desconhecidos e a que designou por nebulosas. No total ele conseguiu catalogar duas mil e trezentas, embora sem lhes conseguir adivinhar a natureza nem a distância a que se encontravam da Terra.
Em 1842 no castelo de Birr, na Irlanda, o excêntrico Lord Rosse consegue aí implantar o maior telescópio até então existente. Estava decidido a decifrar o enigma dessas nebulosas e para isso manda construir um edifício de cinco andares para nele caber o tubo de 18 metros de comprimento, que suportava o espelho de 1,8 metros de diâmetro.
É assim que Rosse descobre estrelas nessas nebulosas e estruturas em forma de espiral. Mas o seu telescópio não se movia só podendo ver-se na sua vertical , pelo que depressa caiu no esquecimento.
Só oitenta anos depois, e uma enorme revolução tecnológica entretanto ocorrida, é que surgiu a resposta através do equipamento montado no topo do monte Wilson na Califórnia. Foi assim que se compreendeu a natureza dessas espirais: galáxias diferentes da nossa e situadas à distância de muitos milhões de anos-luz.
Essa descoberta alterou por completo a escala do Universo tal qual então se conjeturava. As suas fronteiras ficavam muito para lá do imaginável… Por isso não tardou a compreender-se que a Via Láctea não é mais do que uma galáxia de entre as centenas de milhares existentes em todo o Universo, cuja dimensão dá significado ao conceito de infinito.
Mas não se considere que a busca de fronteiras mais distantes se atenuará com as descobertas mais recentes: podem-se imaginar surpresas aliciantes com as observações possibilitadas pelos telescópios do futuro. Nomeadamente sobre a enigmática matéria negra, sobre a qual sabemos tão pouco, por mais que já adivinhemos ser ela a componente maioritária deste Universo.
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