Uma das histórias menos conhecidas do Oeste norte-americano é a de muitos dos seus cowboys terem-se aventurado pelo subcontinente meridional, com alguns a chegarem às vastas pampas da Patagónia.
Butch Cassidy terá sido um deles, tal como alguns dos agentes da Pinketon, que lhe foram no encalço. Foi o caso de Martin Sheffields, que esqueceu a encomenda de capturar ou matar o derradeiro membro de «A Quadrilha Selvagem» e andou a fazer filhos a eito por todo o território onde se fez contratar com quem precisasse dos serviços do seu revólver, e acabando morto no leito seco de um ribeiro quando experimentava o ofício de garimpeiro.
Luís Sepúlveda e Daniel Mordzinski ainda conseguem encontrar a última sobrevivente dos muitos filhos do xerife, a octogenária Dona Juana Sheffields, que se deixa fotografar e lhes conta histórias desconhecidas sobre o progenitor que visivelmente venerava, embora lhe reconhecendo um defeito: o de fazer facilmente apostas sobre a capacidade de acertar no cigarro que alguém estivesse a fumar. Mesmo que uma ou outra vez, desfizesse a cabeça do infeliz.
É esse o tema do conto «O Sheriff».
Noutro, intitulado «Patagonia Express», os dois parceiros de viagem vão à procura do que resta da mítica viagem ferroviária pelo sul da Argentina.
Nos tempos áureos os trilhos percorriam 1700 quilómetros, mas as privatizações tinham-nos reduzido a uns exíguos 350. Quando procuraram viajar no percurso entre El Maitén e Esquel, Sepúlveda e Mordzinski encontraram o serviço suspenso, já que alguns texanos tinham alugado La Trochita e passeavam pelas pampas indiferentes ao facto de, por sua causa, as populações ficarem impedidas de se deslocarem dos sítios onde viviam.
As tentativas do escritor e do fotógrafo para acompanharem os texanos, mesmo que mediante pagamento justo, não resultam. O guia de origem cubana vê neles dois potenciais comunistas e pede um valor absurdo.
Mas vale-lhes a amizade rapidamente firmada com os mecânicos de manutenção da companhia, que disponibilizam uma locomotiva ainda mais antiga, então em reparação, e propiciam, quer aos dois forasteiros, quer às populações prejudicadas pelo gringos, uma viagem excecional e de custo zero.
Ficava comprovado sentido de generosidade dos patagões.
Em «O Duente» a vivência testemunhada por escrito por Sepúlveda e em fotografia por Mordzinski, ocorre em El Bolsón, onde conhecem um homem minúsculo, que rejeita a classificação de anão. Vivendo da comida e das bebidas, que vai cravando aqui e além, Coquito conta a quem o queira acreditar a forma como fora expulso da Terra dos Duendes por razões amorosas.
A realidade obviamente seria mais prosaica e teria a ver com o facto dele ter chegado àquelas paragens integrado num circo e dele escapado para ali se integrar maneira numa comunidade que o encarava com a maior das bonomias…
Estas três histórias são bem ilustrativas de um livro, que demonstra quão singulares encontros se conseguem fazer onde só se julgariam encontrar os gaúchos de guarda ao seu gado.
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