1. Os ocres de Marrocos surgem um pouco por todo o lado, a começar pelas terras secas do deserto onde os encantadores de serpentes vão procura-las para depois se exibirem na praça Djemaa el-Fna. A atividade é cada vez mais contestada, tanto mais que, para não se arriscarem, retiram-lhes as glândulas de veneno provocando-lhes a morte em poucos meses. Mas juntamente com os contadores de histórias, com os malabaristas e com os que mostram chimpanzés, ainda continuam a ser das principais atrações na célebre praça de Marraquexe.
A própria cidade imperial é em si ocre, quando vista de cima. É certo que vamos até à sua impressionante medina e surge-nos toda a paleta de cores, mas em muitos dos tecidos expostos essa cor tem lugar de destaque. Não admira que seja um dos sítios mais procurados por quem de outras latitudes busca o exótico. Subsiste a sugestão de glamour vindo de tempos imemoriais, que fazem esquecer as experiências proporcionadas por outros destinos turísticos onde tudo já se massificou e estereotipou.
O ocre também é a cor de eleição nos maciços do Alto Atlas onde antigas cidades e aldeias milenares vão ruindo, abandonadas pelas populações que procuraram o conforto das grandes metrópoles do presente, mas ainda testemunhas de épocas em que caravanas de dromedários percorriam as rotas para alimentarem o comércio em todas as direções. Desse tempo sobram as paupérrimas famílias de nómadas, que continuam a colher magros recursos do pastoreio, olhando para as nuvens do céu e levando camelos e cabras de poço em poço na austera paisagem do deserto. Ocre como tudo o mais.
2. O branco surge logo à partida na luz, que surge todas as manhãs, quando o sol nasce para queimar as cada vez mais desérticas terras marroquinas.
Está também na pelagem branca das cegonhas, que pousam nos pontos mais elevados das ruínas de Chellah, uma necrópole medieval situada nos arredores de Rabat.
É também a cor dominante de Tetuão, que chegou a ser a capital do protetorado espanhol em Marrocos muito depois de, no fim do século XV, a aguerrida Sitt al-Hurra ter enviado exércitos contra os ocupantes portugueses de Ceuta, apenas situada a meia centena de quilómetros.
Nas ruas estreitas da medina de Tetuão os homens vestem as suas djellabah alvas para comparecerem à mais importante das orações semanais, aquela que os leva aos magotes até à mesquita todas as sextas-feiras. Esses tecidos são comercializados em mercados muito ruidosos depois de moroso trabalho para os confecionar.
Branca é também a cidade de Casablanca, hoje com quatro milhões de habitantes e com uma arquitetura digna de atenção.
Mas, vista das alturas, a própria paisagem ocre dominante emtodo o território marroquino, aparece salpicado dos brancos das casas, assim pintadas para refletirem o calor do dia e revelarem-se mais frescas, ou dos minaretes apostados em se distinguirem à distância.
Há, finalmente, o branco dos barcos da costa atlântica, que partem para o mar todas as manhãs e as ondas de onde conseguem fazer emergir os peixes das linhas, que lhes estendem.
- texto decorrente da apreciação da série de cinco documentários «Les Couleurs du Maroc» de Matthieu Belghiti, Jean Froment, Fanny Tondre et Jean-Bernard Andro
Sem comentários:
Enviar um comentário