De Graça Castanheira conhecíamos o excelente lote de entrevistas, intituladas «O Tempo e o Modo», que conduziu com algumas das personalidades mais influentes na reflexão sobre a tortuosidade da evolução humana a caminho de um previsível apocalipse.
«Angst» é o seu título anterior e insere-se na mesma perspetiva de denúncia de uma humanidade escravizada pelo petróleo, incapaz de controlar os seus excessos (de população, de produtos poluentes) e as suas carências (de recursos fósseis que se irão esgotar, de alimentos, de água) e cujo fim se pode adivinhar.
No seu périplo pelos continentes a realizadora leva consigo «Walden», o livro de Thoreau onde se descreve muito poeticamente a nossa condição de terrestres preocupados: “O que tenho nas mãos é um pouco de poeira das estrelas e um fragmento do arco-íris.“
E todo o exercício cinematográfico em torno dessa ideia e respetivas preocupações é servido por uma fotografia e uma banda sonora irrepreensíveis para acompanharem um texto na primeira pessoa em voz off.
Numa altura em que anda a ter sucesso nos cinemas uma comédia pateta realizada pelo habitualmente excelente Edgar Pêra, pode-se lamentar que, em vez de se irem aparvalhar com os equívocos de género, os espectadores não sejam convidados a sentarem-se numa plateia com a maior das disponibilidades e se possam encantar com uma das média-metragens mais interessantes, que o cinema português foi capaz de produzir...
Sem comentários:
Enviar um comentário