quarta-feira, fevereiro 28, 2018

CINECLUBE GANDAIA: «Os Homens Preferem as Loiras» de Howard Hawks (1953)


Se, ao contrário, do que esperavam os seus produtores, «Niagara» de Henry Hathaway, não tivesse sido um enorme sucesso, esta grande produção de Hollywood seria protagonizada por duas das maiores intérpretes de filmes musicais da época: Jane Russell e Betty Grable.  Mas Marilyn começava a ser reconhecida como uma das atrizes mais apelativas do público, que se sentava nas plateias e pretendia  esquecer os fantasmas da Guerra Fria, então no seu auge desde que os soviéticos tinham conseguido criar o seu próprio arsenal atómico. Entre o exercício do medo com um tipo de filmes em que extraterrestres ameaçadores vinham invadir a terra do tio Sam e acabar com o seu conceito de sonho americano e este tipo de filmes de pretendido entretenimento, as plateias mostravam-se muito atraídas por estes últimos.
Para os executivos da 20th Century Fox Marilyn trazia consigo outra vantagem: era muito mais barata do que Betty Grable, a única que poderia ser descartada dos planos iniciais, já que Howard Hughes não veria com bons olhos que a amante fosse a preterida. Resultado: enquanto Jane Russell ganhou 200 mil dólares por cada semana de rodagem, Marilyn ficou-se pelos … 500.
Compreende-se assim que uma produção que custou 2,26 milhões de dólares tenha auferido 5,3 milhões de receitas.
E, no entanto, muito embora Russell se revelasse irrepreensível na interpretação dessa mulher de respostas incisivas perante comparsas masculinos, desarmando-os nas intenções e desconsiderações, o filme seria sobretudo recordado pelo papel de Marilyn, que levara o profissionalismo a assistir vezes sem conta ao desempenho de Carol Channing no musical, com o mesmo título que abrilhantava então um dos palcos da Broadway.
Apesar da diferença de tratamento dos produtores em relação às duas atrizes - uma tratada como vedeta, a outra como atriz de segunda categoria -, Jane Russell e Marilyn Monroe ficariam amigas para sempre, embora nunca mais tivessem trabalhado juntas.
Além desta curiosidade, o filme também merece ser apreciado na forma como viola explicitamente o Código Hayes, que impunha, por essa altura, uma censura feroz a tudo quanto pudesse significar um choque para as mentes puritanas. Embora nunca se fale de sexo, ele está omnipresente nessa interação constante entre homens e mulheres, com os primeiros a não pensarem senão na sua satisfação, e elas a usarem-se dessa obsessão para melhor os dobrarem à sua vontade.
Ao contrário do que alguns poderão pensar - que estes filmes estão condenados a serem meras curiosidades históricas! - eles revelam-se bem mais pertinentes nesta atualidade em que continuam na ordem do dia as questões de género.

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