domingo, fevereiro 25, 2018

(AV) Rimaldas Vikšraitis: uma Europa desconhecida


É uma Europa quase de todos desconhecida, a retratada nas fotografias de Rimaldas Vikšraitis, que escolheu como tema exclusivo da obra os recantos mais pobres da sua Lituânia natal. Principalmente aquele onde vai fazendo por sobreviver. Mesmo que a miséria evidenciada nessas imagens também conviva com um surpreendente humor e insolência.
Aos sessenta e três anos ele desloca o corpo como se fosse um fardo difícil de carregar e tem dificuldades em se exprimir oralmente como consequências da meningite sofrida aos cinco anos. A fotografia acabou por representar para ele uma verdadeira prancha a que, náufrago, se agarrou.
“Na juventude era muito complexado. A fotografia ajudou-me a superar essa perturbação, facilitando-me a aproximação às pessoas.”
Os temas captados refletem a sua própria vida. À margem do mundo conhecido, à margem da Europa: a vida dura das aldeias, sem dinheiro, sem trabalho e muito álcool para tornar a pobreza mais suportável.
Fotografa quase obsessivamente. A casa dos pais e a da aldeia, os vizinhos. É um mundo singular, aparentemente estagnado no tempo, que proporciona testemunhos fascinantes, mas também chocantes, sobretudo por os sabermos não tão antigos quanto parecem pressupor: todas essas imagens são posteriores a 1990, muitas já deste milénio.
O crescimento económico e a modernidade não chegaram a estas paragens. Não se notaram melhorias nenhumas desde que a União Soviética implodiu e o país se tornou independente. Daí que Rimaldas Vikšraitis queira dar existência aos mais frágeis, aos velhos, aos pobres.
É um prazer constatar a forma como contacta com aqueles que pede para caberem na sua fotografia. Porque ela acaba por também o incluir na forma como se revela próximo dos que lhe servem de modelos.
Foi Martin Parr, da agência Magnum, quem o deu a conhecer e fez tudo por o divulgar nos fóruns artísticos do continente. Com pleno merecimento como se pode constatar.

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