quarta-feira, fevereiro 14, 2018

(P) Todos os caminhos vão dar a Palmela


Neste inverno de 2018 todos os caminhos vão dar ao Vale de Barris de Palmela, porque ali convergem, em quatro fins-de-semana distintos, outras tantas companhias de teatro oriundas do Norte e Centro do País e com dramaturgias e propostas cénicas muito interessantes.
O ciclo iniciou-se com a Trigo Limpo Teatro ACERT de Tondela, que apresentou «Sentada no Escuro»  baseada numa obra de Lobo Antunes: «Para Aquela que está Sentada no Escuro à minha Espera».
Não se tratasse de uma encenação de Pompeu José e teria passado ao lado, assumida que é, há muito tempo, a reiterada antipatia pela obra, e sobretudo, pela pessoa do «invejoso». E convenhamos que ele parece incapaz de fugir aos temas da velhice e da morte, mais do que repisados nas crónicas regulares na «Visão». Mas reconheço um excelente trabalho de interpretação dos atores, particularmente de quem desempenha o papel da velha atriz, acometida de alzheimer, e que resgata das profundezas da memória a infância vivida em Faro com um pai terno e de uma mãe mais sisuda, mas igualmente assertiva. Enquanto há quem lhe deseje abreviada a vida para receber a herança e poupar nos elevados custos de a ter em casa, e não num lar, também se conhecem os desejos opostos da criada, que se sabe condenada ao desemprego tão só se verifique o inevitável desenlace.
Além da forma como o tema é explorado, apreciei, sobretudo, a funcionalidade da cenografia, que se foi alterando em função das necessidades requeridas pela evolução da história.
No último fim-de-semana estiverem em cena as três atrizes do Teatro da Didascália que criaram um espetáculo a partir da tradição oral, sobre  mulheres, sujeitas ao patriarcalismo de uma sociedade rural eivada de tabus e preconceitos . Vindas de Joane, povoação do concelho de Famalicão, as muito jovens intérpretes revelaram um impressionante domínio das respetivas vozes, ora em textos falados, ora cantados. Uma excelente proposta por uma companhia, que conhecemos pela primeira vez. O que não sucederá com as próximas duas presenças em Vale dos Barris, já que, quer a Teatro do Montemuro, que apresentará o seu espetáculo a 3 e 4 de março, quer a Pé de Vento, que ali estará em 10 e 11, já nos surpreenderam com peças imaginativas e diferentes do que comummente temos visto. Por isso mesmo lá voltaremos a comparecer, porque confiamos na certa recompensa para tal deslocação.

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