sábado, março 03, 2018

AS PARTES DO TODO (XIX): pinguins reais, Frankenstein e Marie Curie


1. As notícias sobre espécies em perigo de extinção, ameaçadas quer pelo aquecimento climático, quer pela ganância dos ´consórcios agroindustriais, continuam a suceder-se sem que nada seja feito para as salvaguardar. Ursos polares, orangotangos e, como agora reportado, os pinguins reais da Antártida. Devido à evolução meteorológica estes últimos morrerão de fome se não optarem por se exilarem mais a sul como informa a Nature Climate Change.
Com o ventre branco, o bico negro e uma mancha alaranjada na cabeça, os 1,6 milhões de casais desta espécie, ligeiramente mais pequenos que os pinguins imperadores, vivem sobretudo nas ilhas de Crozet, Kerguelen e Príncipe Eduardo, as únicas adaptadas a tão gigantescas colónias.
Para cuidarem do ovo alternadamente durante mais de cinquenta dias o macho e a fêmea carecem de uma praia, de oceano liberto de gelos e de uma fonte abundante de alimentação suficientemente próxima para alimentar a cria no ano subsequente ao seu nascimento.
O estudo agora conhecido aponta para a redução da espécie em mais de 70% se nada obstar à atual evolução das temperaturas na região.
2. Para a próxima semana, a 11 de março, comemorar-se-á a efeméride de passarem duzentos anos sobre a publicação de uma obra anónima, prefaciada por Percey Shelley, e cujo título era «Frankenstein ou o Prometeu moderno». Não decorreria muito tempo até se saber que o autor do romance não era quem o prefaciava, mas a esposa, Mary. A História da Literatura considerá-lo-ia doravante como o primeiro título de um novo género, que associaria o conto fantástico, a reflexão moral, a política e o progresso científico: a Ficção Científica.
Dois séculos depois o protagonista e a sua criatura mantém-se profundamente atuais perante exemplos persistentes de monstruosidades humanas e de cientistas apostados em se considerarem com poderes divinos, mas afinal superados pelos inesperados poderes das suas criações.

3. A biografia que Rosa Montero escreveu sobre Marie Curie demonstra-o plenamente, mas confirma-o, igualmente, o trabalho dos que se debruçam sobre os arquivos documentais deixados pela cientista: para além da rigorosa contabilidade das suas despesas - muitas delas surpreendentes - e das vicissitudes por que passaram as suas experiências laboratoriais, esses trabalhos atestam uma personalidade vibrante e apaixonada, tão distinta da ícone santificada pela lenda da cientista sacrificada pelos efeitos da inédita investigação. Romântica por natureza, ela dava-se intensamente às paixões, arriscando-se a ser alvo de campanhas públicas como a que, execravelmente, contra ela se atiçou quando, já viúva, se lhe apontou a relação amorosa com Paul Langevin.

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