segunda-feira, fevereiro 26, 2018

AS PARTES DO TODO (XVIII): Jacques Weber, Flaubert, Clínicas de IVG nos States, Bill Gates e Hélène Cixous


1. O ator e realizador Jacques Weber acaba de publicar uma investigação sua sobre Gustave Flaubert em cujo percurso se revê como fosse um espelho: “a vida de Flaubert faz-me pensar em quem sou, nessa vontade em estar só sem o conseguir, perentório, impetuoso, guloso …

Entre a correspondência - contraditória e reveladora de uma exuberante liberdade - e os romances e contos, que zurziam na melancolia pelo passado ou no tédio e estupidez do espírito burguês, Flaubert, ora eremita, ora mundano, surge como um dos vultos fundamentais do seu tempo. Não gosta dos portos, preferindo-lhes o mar alto com as suas vagas e correntes.

Weber mergulha nessa movimentada existência criativa, percorrendo os campos  e greves da Bretanha, a lama e os estaleiros da avenida Haussmann, os bordéis do Cairo e as saias das cortesãs da rua Saint-Honoré, os silêncios partilhados com a mãe, o jardineiro ou o cão, o segredo dos amores londrinos com miss Herbert ou o oficial, mas tempestuoso, com Louise Collet.

Místico e desassombrado, guloso e ascético, Weber busca o ser invisível, o nada, esse outro universo que, como a Terra, mantém-se suspenso sem nada a apoiá-lo, o silêncio da literatura. Ao longo dessa viagem à obra e à vida de Flaubert, as palavras de Weber ricocheteiam nas dele.

2. Há vinte anos existiam 450 clínicas, que praticavam interrupções voluntárias de gravidez. Hoje reduziram-se para metade e tendem a ser ainda menos. No Kentucky a última resistente irá fechar nos próximos dias: a pressão é tanta, que as pacientes são obrigadas a deslocarem-se sob escolta para conseguirem ali chegar.

3. “ Costumo escolher um preguiçoso para fazer um trabalho difícil, porque será quem encontrará a forma mais expedita de o concretizar”, disse Bill Gates. A psicóloga Gwenaëlle Hamelin, especialista em stress no trabalho, garante que “fazer menos é uma estratégia ganhadora”.

4. A citação é de um texto da escritora Hélène Cixous: “inclino-me sobre uma espécie de promontório, pendurada no topo de uma árvore. Espero que o vento sopre, posso aguardar muito tempo. Sou extremamente paciente. Depois, de súbito, há o clique, ponho-me a escrever. O livro chega, não o vou procurar, não o programo. Chega como se enviado por um mensageiro sob a forma de frases curtas.”

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