domingo, fevereiro 18, 2018

(DIM) «Free and Easy» de Jun Geng (2016)


Convenhamos que este «Livre e Fácil» é um filme desconcertante: no seu absurdo constitui um óbvio e contundente libelo contra o regime de Pequim. Primeiro, porque a paisagem oscila entre as ruínas de uma pequena cidade e os inóspitos campos agrícolas, que a rodeiam; depois porque quase todos os personagens procuram enganar-se uns aos outros com formas diversas de vigarice. Há o vendedor de sabonetes, que os dá a cheirar aos potenciais clientes para melhor os pôr inconscientes e assim roubar. Há o falso monge, que procura vender amuletos para financiar a suposta destruição pelo fogo do templo aonde se dizia instalado. Há a mulher que diz ter o marido no hospital e propõe vender o derradeiro bem, que lhe resta, uma pulseira de ouro, logo recuperada com a ajuda dos dois cúmplices, incumbidos de concluírem o assalto às vítimas.
A polícia também não sai bem no filme: desinteressada quanto à resolução dos sucessivos roubos, mas capaz de, ora recorrer aos sabonetes para o adormecimento da mulher que se quer violar, ora negociando rapidamente com os vigaristas  para safar a pele.
No meio de tudo isso há um inocente cristão, que olha para o que o rodeia com a incompreensão de quem não encontra similitude entre o mundo ideal prometido pela crença e a realidade sórdida onde é apenas mais uma anónima vítima. Há também o vigilante da floresta, que vê desaparecerem, uma a uma, as valiosas árvores de cuja proteção estava incumbido.
Não sendo filme memorável surpreende, porém, pelo que sugere, e não por quanto mostra. Os censores de Pequim deveriam estar muito distraídos, quando lhe deram o visto para se apresentar em diversos festivais internacionais durante o ano transato. Ou então a liberdade criativa está bem mais facilitada do que costuma ser apregoado sobre o grande país asiático.



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