segunda-feira, fevereiro 26, 2018

(AV) Quando Picasso revolucionou a arte moderna


Ao chegar a Paris no início do século XX, Pablo Picasso, então com vinte anos, instalou-se no bairro de Montmartre, que já era conhecido por ali se concentrarem os artistas. Nos dez anos seguintes contribuiu decisivamente para revolucionar os conceitos estéticos da arte no atelier do Bateau Lavoir. Ali vive parte do período azul, frio e melancólico, e, de seguida, o período cor-de-rosa, feliz e evanescente.
Ao contrário do que se lhe conhece hoje - movimentado miradouro sobre a vasta urbe parisiense - Montmartre era então muito diferente, porque arrabalde ainda com quintas e estábulos, sem água canalizada, nem eletricidade. O jovem Picasso chegou atraído pela Exposição Universal e decidiu instalar-se onde já tinham vivido Van Gogh, Degas, Renoir ou Toulouse-Lautrec. A exemplo desses prestigiados antecessores, Montmartre constituiu inesgotável fonte de inspiração para o jovem espanhol, que representou na tela o que testemunhava diariamente: o baile do Moulin de la Galette, ao estilo impressionista, ou a vista da cidade a partir do seu quarto.
O «Le Bateau Lavoir» tornou-se numa tertúlia aonde acorriam muitos artistas e intelectuais: Max Jacob, Guillaume Apollinaire, Georges Braque e aquele que se tornaria o seu primeiro grande amor: Fernande Olivier. Ali nasceu «Les Demoiselles d’Avignon», o quadro que lançou o movimento cubista, que estilhaçou todos os códigos até então vigentes de representação da perspetiva. Tratou-se de um autêntico manifesto sobre o que deveria ser a arte moderna. De artista talentoso, Pablo Picasso passou a ser reconhecido como um verdadeiro criador…
Para consubstanciar a ideia, que congeminara para a obra, Pablo Picasso passou noites sem fim a frequentar bordéis e a neles preencher estudos em quinze cadernos, que seriam fundamentais para chegar ao seu objetivo criativo.
O fim do período azul coincidiu com o traumático suicídio do seu amigo Casagemas, logo compensado pela paixão luminosa, que descobre em Fernande. Passou a frequentar o animado Au Lapin Agile, o mais antigo cabaré de Paris,  onde atuavam saltimbancos e chansonniers, que apelavam à participação do público, assim o envolvendo num ambiente festivo e solidário.
Picasso e os amigos viveram aí ininterruptas noites de boémia, ao som do piano e do acordeão, pintando um quadro daquele espaço para oferecer ao proprietário, depressa convertido num dos seus mais inestimáveis admiradores. Nele representa-se como Arlequim e com esse anfitrião a tocar guitarra ao fundo, estando entre eles Germaine, outra modelo que animava o grupo de convivas.
Apesar de se instalar depois em Montparnasse, Picasso nunca deixaria de reconhecer o quanto fora feliz no sítio onde o seu génio se revelara.

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