sábado, fevereiro 03, 2018

(I)O trans-humanismo: uma moda que veio para ficar?

Mudar de época é mudar de problemas, graças a invenções inéditas. Hoje uma questão pertinente é saber se a Humanidade continuará a mesma ao determos os meios de a alterar, melhorar, reparar. Já existem pessoas munidas de mãos biónicas capazes de as virarem 360º, possuindo pois faculdades acrescidas em relação às originais. O «homem reparado» parece ver aumentadas as suas capacidades e essa é a base do que se chama o trans-humanismo.
Durante séculos chamava-se o médico para que curasse o mal de que se estava acometido. Agora o desafio é outro, supostamente qualificado de «melhoramento» do ser humano. Na Universidade de Rochester fazem-se experiências com as células senescentes de ratos de laboratório, a quem se acrescenta esperança de vida de 30%, inovação que, a ser transferida para os seres humanos, poderá fazê-los viver até aos 130 anos.
O grande projeto trans-humanista consiste em lutar contra o envelhecimento, prolongando a existência humana por mais umas décadas. Mas Fabrice Sabre, um dos detentores das tais mãos inovadoras, pergunta se, com esse novo membro, continua a ser ele mesmo ou se passa a ser um outro, aparentemente igual no aspeto geral, mas profundamente diferente no seu âmago, porque acrescentado dessa parte, que não chega a sentir como verdadeiramente sua.
Não quer dizer que se seja mais feliz por se viver mais. No fundo deveríamos ter em conta o que os Gregos antigos já sabiam, que era a futilidade de se desejar algo: se se ansiava por saúde era por se ser doente, se se aspirava à riqueza era por se ser pobre. O melhor seria, pois, nada desejar para não se consciencializarem as razões de não se ser feliz. No entanto, a engenharia genética já permite que se detetem várias doenças no feto, ainda no início da gestação, de forma a aferir se ela deverá ou não ser levada até ao seu desiderato. Hoje 87% das mulheres em quem se deteta um feto com trissomia opta por abortar, mesmo confessando-se católica, judia ou muçulmana.
Alguns dos mais entusiastas trans-humanistas já falam do advento de um Homem-Deus, que nada tem a ver com a sacralização do ser humano, que alguns filósofos defendiam como sendo o que se imbuiria de valores irrepreensíveis. Procuram o aumento das capacidades física e intelectuais, tendo como objetivo último a imortalidade. Os mais utópicos veem nesse futuro a possibilidade de, não só contrariar as desigualdades sociais, mas também as suscitadas pela Natureza. Ainda assim alguns alertam para os perigos morais de se pretender alcançar tal meta.

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