sexta-feira, fevereiro 02, 2018

(DIM) A Alegoria da Caverna em «Apocalipse Now»

Há muitos filhos, que escolhem o que farão no futuro em função do que os pais desejam para eles. Não tendo sido o meu caso, foi o de Vittorio Storaro que reconhece ter cumprido o sonho do pai, projecionista de cinema frustrado por só poder exibir os filmes sem conseguir construi-los, imprimindo-lhes a sua marca. E ainda bem que o fez, porque alguns dos títulos, que mais grata recordação me deixaram, quando os vi projetados na escuridão iluminada das salas de cinema, têm a sua assinatura. A começar por «A Estratégia da Aranha», o Bertolucci de que mais gostei, apesar de ser um dos primeiros títulos da sua filmografia, prosseguindo no esplendor de «Apocalipse Now» e culminando, mais recentemente, no «Café Society» de Woody Allen.
Na entrevista em que ele conta a razão para ter enveredado por essa opção profissional também revela algo que me escapara quando vira o filme de Coppola com Marlon Brando no papel de Kurtz: a forma como os três combinaram que fosse filmada a cena culminante do encontro de Willard com o enlouquecido militar nas selva da Indochina tinha por referência concreta a alegoria da Caverna. Este tornava-se assim no personagem, que vinha da Luz e penetrava naquele mundo sombrio onde o interlocutor estabelecera o contraponto niilista à violência agressora dos que para ali haviam imposto a lógica dos bombardeamentos com napalm. E, se não acrescenta nada de substancial à apreciação global do filme, não deixa de ser pormenor interessante, que só o enriquece.

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