domingo, outubro 01, 2017

(EdH) A Papuásia Ocidental e a sua luta independentista

Sabemos que Portugal livrou-se da ocupação castelhana em 1640, porque os exércitos inimigos estavam demasiado ocupados com a revolta catalã para acorrerem em força à direção oposta dentro da Península. Do mesmo modo, os papuas do lado ocidental da respetiva ilha deixaram passar uma hipótese de sucesso, que sorriu a Timor-Leste em maio de 2002, quando a sua luta independentista existente desde 1963, perdeu fôlego na altura em que melhor lhes conviria.
A Nova Guiné, onde as duas Papuásias dividem a respetiva superfície, é a segunda maior ilha do mundo, logo após a Gronelândia. São 800 mil km2, ou seja tanto como a França e o Reino Unido juntos, divididos pelo 141º meridiano, que serve de fronteira entre a parcela que permanece sob o jugo indonésio desde 1963 - quando os americanos ordenaram aos holandeses, que a entregassem ao país então presidido por Sukarno - e a independente desde 1975, reconhecida como tal pela Austrália, anteriormente a sua potência colonial.
Escassamente povoada - 10 hab/km2 -  os 1,7 milhões de habitantes do lado ocidental correspondem a 1,7% da população indonésia, enquanto o seu território equivale a 1/4 do arquipélago opressor.
Quem manda em Jacarta não quer sequer pensar na possibilidade de separação da nação papua: o território é rico em madeira, graças à densa floresta tropical, em minerais (ouro, prata, níquel e cobre) e em petróleo e gás nas zonas costeiras.
Os papuas chegaram á ilha há quarenta mil anos vindos do Sudeste Asiático e da Austrália, dividindo-se em vários grupos étnicos. No século XVII a ilha foi integrada na Companhia das Índias Orientais Holandesas até que, em 1885, os alemães e os britânicos exigiram partilhá-la com os holandeses.
Em 1949 a Indonésia tornou-se independente e logo olhou gulosamente para a ilha, cuja metade oriental lhes seria «atribuída» pela Administração Lyndon Johnson em 1963 para grande desagrado dos papuas: entre esse ano e 1969 morrerão trinta mil nas lutas por conquistarem o direito à autodeterminação. A ONU chegou a exigir um referendo, mas Jacarta subornou os chefes tribais e foram estes a «manifestarem» o acordo com a ocupação.
Um dos maiores motivos para o interesse indonésio reside na mina de Grasberg onde o ouro é retirado da gigantesca clareira a céu aberto e lhe garante a principal parcela do seu PIB. Os lucros do autêntico atentado ambiental ali cometido são, porém, abocanhados maioritariamente pela empresa norte-americana (Freeport McMoRan) que detém essa concessão. Mas essa não é a única multinacional a espoliar a população papua das suas riquezas naturais: a BP explora o gás natural na plataforma offshore e várias multinacionais andam a desflorestar aceleradamente a região de Merauke para aí multiplicar as plantações destinadas á produção de óleo de palma. As organizações ambientais a nível mundial classificam a Papuásia Ocidental como território em estado crítico.
Querendo evitar o exemplo timorense, os indonésios estão a implementar uma política dita de «transmigrasi», atraindo para a ilha muitas populações pobres de Java, das Celebes e das Molucas, com incentivos para ali se fixarem como garantes da estabilização da sua soberania. Se em 1969 a  população papua constituía 95% da existente nessa metade ocidental da ilha, atualmente já decresceu ara 69%. Na capital, Jayapura, os javaneses já são maioritários.
A violência contra os independentistas não tem diminuído: o exército e as milícias prendem, torturam e massacram os que assim se assumem, ascendendo a cem mil os assassinados nos 55 anos de ocupação.
No entanto, em 2014, o Vanuatu e as Ilhas Salomão apoiaram os papuas exilados nos seus territórios no esforço por levarem a sua causa ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, exigindo um referendo internacionalmente organizado e controlado. Razão para que, em Jacarta, tenham tinido as campainhas da urgência em acelerarem a assimilação progressiva das populações papuas, coagindo-as para uma aculturação através da religião e da língua obrigatória, de forma a evitar a derrota sofrida em 2002  face à vontade do povo maubere.
Aparentemente a força pende para os indonésios, mas quem disse que lhes caberá a última palavra? 

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