segunda-feira, outubro 23, 2017

(EdH) O contexto em que a Revolução russa se tornou expectável

O futuro Lenine cresceu num Império russo autocrático em que os Romanov entendiam governar legitimados pelo direito divino. Nessa segunda metade do século XIX a fome e a miséria generalizada tornaram a monarquia pouco popular junto da população. O analfabetismo e a alienação religiosa não permitiam que esse descontentamento ganhasse expressão democrática ou revolucionária, mas algumas manifestações nos campos deram a Alexandre II a consciência de ter de mudar alguma coisa para que tudo ficasse na mesma. Daí a abolição da servidão, que sujeitava a autêntica escravatura a generalidade da população dos campos.
Essa reforma operada a partir de 1860, além de incompleta pouco alterarou as desigualdades existentes entre a aristocracia e o povo, facto praticamente desconhecido da corte, que vivia numa espécie de bolha indiferente ao que se passava para lá das periferias da capital conquanto continuassem a chegar as mercadorias e os impostos com que poderia manter o estatuto e até sonhar com o glamour cosmopolita das novidades parisienses.
As ideias marxistas começam a ganhar terreno na juventude intelectual a partir de 1870 e, dois anos, depois a censura imperial não viu motivos para proibir «O Capital» de Karl Marx, porque considerou-o demasiado indigesto para os leitores russos. Nem lhes passava pela cabeça o sucesso que o livro obteria junto de milhares de leitores, que o adotaram como Bíblia dos seus desejos progressistas. Alguns deles, mais radicais, criaram o movimento «Narodnaia Volia»  («A Vontade do Povo») e ganharam a ousadia bastante para atentarem contra a vida de Alexandre II. Não imaginavam que os dois monarcas seguintes, Alexandre III e Nicolau II iriam reverter muitas das reformas decididas pelo antecessor. Quase um quarto de século depois, quando compreendeu que seria executado, o segundo deve ter-se sentido bastante defraudado com o destino que a História lhe reservara.

Sem comentários: