domingo, outubro 08, 2017

(DL) O retrato de uma América agudizada pelas tensões raciais

«Rapariga Branca, Rapariga Negra» é o romance de Joyce Carol Oates, que ando agora a ler. Publicado há onze anos tem como narradora uma rapariga branca, Genna Mead, que nos promete contar as circunstâncias em que terá morrido Minette Swift, rapariga negra que com ela partilhara o quarto numa colégio interno criado pela comunidade quaker. A ação passa-se na primeira metade dos anos setenta e  volta a dar à escritora o ensejo para exercitar o fascínio pela violência através de uma tragédia realmente ocorrida no dormitório de uma faculdade.
Genna tem comigo a coincidência de ter nascido em 1956. O pai fora um conhecido advogado, que muito se esforçara por defender os manifestantes contra a Guerra do Vietname ou os Panteras Negras, o que o colocara, juntamente com toda a família, sob o radar da contínua vigilância do FBI.
Essa ascendência radical dera-lhe a necessária consciência social e política para tentar compreender, mesmo que à distância de vários anos, o que realmente sucedera a Minette e como poderia ter evitado esse desenlace fatal.
Na aparência todas as alunas do Schuyler College não pareceriam diferentes, por muito que Genna procurasse escamotear as origens privilegiadas (pertencia á família do próprio fundador da instituição escolar!) e Minette não pudesse esconder a condição de filha de um pastor protestante, que lhe imbuíra um comportamento austero e muito exigente consigo mesma. É esta superioridade moral, que acaba por se virar contra si mesma, tornando-a objeto de inequívoca antipatia por parte das colegas. As situações de bullying não tardam: partem-lhe a janela do quarto á pedrada, vandalizam-lhe um dos mais caros manuais escolares, ostracizam-na no refeitório ou nos pátios.
Genna é a única exceção, nunca desistindo de criar uma corrente de empatia com a colega, mas as diferenças de cor da pele tendem-nas a separar e Minette nunca a aceitará como amiga. Só quinze anos depois, quando tudo recorda e procura aprofundar, é que conseguirá entender melhor as circunstâncias do homicídio e como nunca o teria podido evitar...

Sem comentários: