sexta-feira, outubro 27, 2017

(AV) A Roma de Caravaggio

A Praça Navona é a que se considera mais barroca de entre as que se contam em Roma. Daí que seja etapa obrigatória em qualquer visita turística à Cidade Eterna, devido à estatutária gigantesca e exuberante na expressão dramática das figuras ali representadas. Era também por ali que Caravaggio deambulava dia e noite no final do século XVI, quando já era um dos artistas mais conceituados graças aos contrastes claro-escuro, que inventou como estilo inimitável da sua arte. As elites, os comerciantes e os artistas ali radicados conheciam-no, apreciavam-no quase sempre, embora o carácter belicoso também lhe suscitasse alguns azougados inimigos.
Embora milanês, ele instalara-se na cidade papal em 1594, quando contava 23 anos, depois de quase ter perdido toda a família durante a terrível peste negra. As obras mais importantes, que se lhe conhecem, foram concretizadas nos doze anos que ali viveu, algumas encomendadas pelo poderoso clero local, ansioso por responder às ideias da Reforma luterana com uma nova linguagem artística: o estilo barroco tem precisamente essa razão de ser.
A primeira encomenda importante foi feita em 1599 para a capela de S. Luís dos Franceses e deveria ter por tema a vocação de São Mateus. Os modelos que serviram para que o pintor compusesse os personagens, eram seus amigos ou conhecidos, prática que ele aplicaria ao resto da sua obra. Assim como a opção naturalista, que não distingue o belo do feio, também constituirá o seu modo de criar arte.
Igualmente próxima da praça Navona fica a Basílica de Sant’Agostino onde se pode apreciar outra das suas mais celebradas obras-primas: a Madona dos Peregrinos, datada de 1604-1606. Nessa época ele não tinha mãos a medir com os trabalhos que lhe propunham, embora nunca deixasse de ocupar parte da noite a passear-se nas tabernas onde encontrava os rostos mais expressivos para que pudessem vir a ser por ele representados na tela..
Terá sido numa dessas incursões noturnas que se envolveu numa rixa de que acabou morto o filho de uma das mais influentes famílias romanas. Obrigado a fugir para não ser condenado por homicídio, Caravaggio passará o resto da vida exilado. Quando, quatro anos depois, conseguiu o perdão, que lhe permitiria o regresso, morreria em circunstâncias até hoje desconhecidas sem chegar a voltar aonde fora artisticamente mais feliz.

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