terça-feira, outubro 10, 2017

(EdH) A Revolução cem anos depois (I)

A Revolução de Outubro de 1917 é o acontecimento histórico mais importante do século XX, muito embora a de Fevereiro do mesmo ano, também na então capital russa, Petrogrado, fosse mais espontânea, popular e determinante, ou não tivesse sido ela a remover do poder a dinastia dos Romanov, que perdurara nos trezentos anos anteriores. Ademais, se a machadada final da tomada do Palácio de Inverno foi preparada minuciosamente pelos líderes do Partido Bolchevique, a ação revolucionária ocorrida cinco meses antes fora totalmente inesperada, apanhando de surpresa não só o poder czarista, mas inclusivamente os seus opositores exilados no estrangeiro.
O grande mito em torno da Revolução de Outubro foi criado posteriormente, sobretudo pelos filmes de Eisenstein, que desempenharam um  papel crucial na reescrita da História da criação do Estado Soviético. Foi ele quem concebeu uma gesta heroica muito diferente do golpe de Estado levado por diante pelo pequeno exército de militantes bolcheviques, superiormente comandado e com plena autoridade por Vladimir Lenine. Dotado de uma excecional intuição, o autor das «Teses de Abril» (publicado nesse período turbulento entre as duas revoluções) concluiu ter a oportunidade única para levar por diante a sua Utopia. Porque tomar de assalto o Palácio de Inverno representava uma iniciativa audaciosa, mas fácil de executar. Ao contrário do que se vê no filme de Eisenstein, quase não houve combates a partir do momento em que os sete guardas do Palácio foram passados pelas armas. O disparo do canhão a partir do cruzador «Aurora», que serviu de sinal para a movimentação dos revolucionários, foi mais simbólico do que decisivo, porque avultava sobretudo a rejeição coletiva do autoritarismo do czar.
Cem anos depois, se a sociedade sem classes, prometida pelos vitoriosos desse dia, não se cumpriu, ela inspirou milhões de ativistas ao longo do século XX, que procuraram concretizar os sonhos em combates em que, frequentemente, perderam a vida. Mas as mudanças sociais, concretizadas, ora por medo de quem as levou por diante, ora por convicção, operaram uma notável mudança de cultura e de valores, que ainda ecoa nos nossos dias.

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