quarta-feira, outubro 25, 2017

(DIM) Arqueologia cinéfila

Foi um dos filmes mais singulares de quantos foram apresentados no DocLisboa deste ano: «Dawson City: Frozen Time»  de Bill Morrison.
À partida temos de recordar como o cinema nasceu de uma combinação altamente explosiva, que deu origem ao celuloide. Nos primeiros anos da História do Cinema a película de nitrato era extremamente inflamável pelo que se perdeu a maior parte dos filmes então rodados e distribuídos. Por outro lado as empresas que exploravam a sua exibição ia utilizando essas bobinas de terra em terra e, quando chegavam ao final da linha - normalmente recônditos lugares donde seria dispendioso fazê-los retornar à origem! -, mandava-os destruir.
Em Dawson City, na zona das primeiras corridas ao ouro, a opção para o cumprimento de tal ordem foi a de se enterrarem essas bobinas, deixando que apodrecessem em definitiva sepultura. Só que essa terra manteve uma temperatura suficientemente baixa, ou não fosse tipicamente característica do permafrost!, para que os danos não fossem totais.
Em 1973 durante obras de remoção de terras para novas construções encontraram-se quinhentas bobinas com imagens, que se julgavam definitivamente perdidas. Foi a partir delas que Bill Morrison assegurou a respetiva montagem criando um filme delicioso, não só sobre a região onde ocorrera o inesperado achado, mas também de como ali se vivia momento decisivo dos primórdios do capitalismo americano e como germinara a ideia de um suposto sonho, que acabou por significar autêntico pesadelo para quem nele se iludira...

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