sexta-feira, outubro 20, 2017

(DIM) Jacques Mayol, o Homem Golfinho

A primeira vez que vi o nome do mergulhador Jacques Mayol foi numa revista francesa, que me deu a conhecer a sua personalidade e a rivalidade com Enzo Maiorca, que o desafiara para saber qual dos dois conseguiria descer em apneia até cem metros de profundidade, meta considerada inalcançável pelos especialistas de então.
Mayol alcançou o almejado êxito ao largo da ilha de Elba em 1976 e, deparava-me no final do artigo com a notícia de que, uma dúzia de anos depois, Luc Besson preparava-se para estrear um filme sobre esse tema. Chamou-se «Le Grand Bleu», e tão só o tive disponível nos ecrãs de cinema, logo para eles me precipitei a consolidar o reconhecimento dessa ideia de sempre se atingirem metas, mesmo tidas como impossíveis, tão só nelas se aplicassem capacidades e determinação.
Jean-Marc Barr, que nesse filme, interpretava-lhe o papel, dá a voz a um documentário acabado de estrear - «Jacques Mayol, l’homme dauphin» de Lefteris Charitos - ainda mais elucidativo sobre quem ficou para a História como responsável de uma interação mais profunda do homem com o mar e o procurou concretizar através da busca de si mesmo, não enjeitando os contributos propiciados pelas religiões orientais e pelo ioga. O apelo a tais recursos não eram de estranhar em quem nascera, e crescera, na China costumando passar férias na costa japonesa onde as “ama” eram, há séculos, especialistas em apanharem ostras perlíferas em apneia. Ele recordava, igualmente, o momento em que vira golfinhos pela primeira vez: aos sete anos, quando num paquete colonial, viajava com os pais para França.
Chegado á idade adulta atravessou o oceano para os Estados Unidos para aí viver ao sabor das circunstâncias: andou por Hollywood a servir de motorista a estrelas de cinema - uma delas Zsa Zsa Gabor -, a caçar tesouros submarinos e a pescar lagostas nas Caraíbas. A epifania surgiu-lhe em 1957, quando trabalhava num delfinário de Miami e conheceu o golfinho Clown com quem conseguiu estabelecer uma empatia inesperada. O apelo pelas profundezas e pelos seus habitantes não mais o abandonaria. E, quando perdeu a companheira, Gerda, tragicamente assassinada, seria na meditação zen que encontraria fraco paliativo para essa incurável sensação de perda. Seria através dessa revolução interior, que justificaria o sucesso na disputa com Maiorca.
O pior foi o que ocorreu daí por diante: se a consagração internacional propiciada pelo filme de Bresson ainda o motivou para as causas ecológicas, de que se tornara porta-estandarte, a progressiva queda na depressão levá-lo-ia ao suicídio em 2001, cumprindo o tipo de comportamento conhecido nos golfinhos em que, os membros mais velhos e enfraquecidos, optam por se afastar das respetivas famílias para morrerem entregues a si mesmos.

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