segunda-feira, outubro 16, 2017

(EdH) A Revolução cem anos depois (III): A infância de Lenine

Quem em 1870 assistisse ao nascimento de Vladimir Oulianov em Simbirsk, uma pequena cidade à beira do rio Volga, dificilmente poderia imaginar que ele viria a mudar significativamente o rumo da Rússia e do mundo em geral. É que a família, ali estabelecida há pouco meses, porque o seu patriarca, Ilya, fora para ali nomeado como inspetor escolar, pertencia à elite local sem qualquer ligação a quem mais torcia o nariz à ordem social então prevalecente.
Ilya provinha de uma família de camponeses de Astrakan, os Oulyanine, que haviam mudado o nome para Oulianov. Mas outras fontes dão-nos como provenientes da região de Nijni Novgorod e misturas com outras etnias - a tatar, a kalmouke ou a kirghize.
Apesar de omitidas décadas a fio pelas autoridades soviéticas a família do lado materno tinha raízes judaicas embora as não praticassem: Moshe Blank, o bisavô materno tinha rompido com a comunidade em Vlhynie e tomado posteriormente posições bastante críticas a seu respeito. Daí que o avô de Vladimir se tivesse convertido ao cristianismo ortodoxo tendo ganho assim o acesso à carreira de medicina e à função pública. Em 1847, já como inspetor dos hospitais de Zlatooust, vira-se designado conselheiro do Estado, ascendendo com tal cargo à nobreza.
Vassili, o bisavô paterno de Vladimir, era um servo, que ganhara a alforria muito antes da extinção dessa realidade nos campos russos em 1861. O avô fora alfaiate em Astrakhan propiciando ao filho a licenciatura em Matemática, que lhe permitira a nomeação como professor em Penza. Fora aí que conhecera Maria Alexandrovna Blank com quem casou em 1863 e lhe daria oito filhos nos quinze anos seguintes, embora só seis sobrevivessem. Quando mudaram para Simbirsk o casal já tinha dois filhos: Anna, que nascera em 1864 e Alexandre dois anos mais novo. Vladimir era o terceiro e nasceu em 22 de abril de 1870.
Batizado na Igreja Ortodoxa, Vladimir tinha 4 anos, quando o pai foi nomeado conselheiro de Estado pelo czar Alexandre II. Vivia anos de grande felicidade, porque contrariamente à maioria dos concidadãos, condenados a atroz miséria, os Oulianov não passam por privações. Apesar de irrepreensível fidelidade ao czar, a família aderiu aos ideais mais liberais e progressistas, quanto à educação a transmitir aos educandos. Ilia revelou-se um ativo reformador das leis imperiais, abrindo novos estabelecimento de ensino por toda a região para que as minorias não russas pudessem ser  ensinadas nas respetivas línguas maternas.
Vladimir, ou Volodia, foi aluno brilhante, aprendendo várias línguas, incluindo o latim e o grego clássicos. Curiosamente o reitor do liceu onde estudou era o pai de Aleksandr Kerenski, seu futuro adversário político.

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